2019 in Review: tratamento mais inteligentes em Linfomas e Leucemias - Oncologia Brasil

2019 in Review: tratamento mais inteligentes em Linfomas e Leucemias

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Dr. Jacques Tabacof, onco-hematologista do Centro Paulista de Oncologia (CPO), comenta a consagração de tratamentos mais inteligentes em várias neoplasias hematológicas ocorridas no ano de 2019.

O acúmulo de conhecimento das bases moleculares das neoplasias hematológicas, o reconhecimento do papel fundamental da imunologia e do microambiente tumoral associados aos esforços de grupos cooperativos e acadêmicos na condução de estudos clínicos comparativos resultaram em avanços substanciais no tratamento das doenças onco-hematológicas com a aprovação de terapias mais eficazes e menos tóxicas.

Na área dos linfomas indolentes, a combinação do imunomodulador lenalidomida com rituximabe mostrou-se equivalente a combinação imunoterapia com rituximabe, com perfil favorável de eventos adversos. No ano de 2019, o estudo AUGMENT com pacientes com linfomas recidivados, a combinação rituximabe e lenalidomida (R2) mostrou superior a rituximabe monoterapia em termos de sobrevida livre de progressão. O avanço nos tratamentos dos linfomas foliculares permite que atualmente pacientes diagnosticados com esta neoplasia tenham chance de 80% de estarem vivos em 10 anos.

A incorporação do inibidores de BTK e de BCL-2 revolucionaram o tratamento da leucemia linfocítica crônica (LLC). Em 2019 foram relatados resultados com tempo longo de acompanhamento de pacientes com LLC tratados com ibrutinibe em primeira linha. Com cinco anos de acompanhamento, 60% dos pacientes continuavam em remissão e apenas 6% descontinuaram ibrutinibe por progressão da doença. O inibidor BCL-2, que restaura a apoptose em combinação com o anticorpo monoclonal anti-CD20 de segunda geração (obinutuzumabe), permitiu alcançar altas taxas de doença residual mínima (DRM) negativa na LLC com tratamento fixo por um ano.

O tratamento dos Linfomas de Hodgkin também apresentou refinamentos no ano de 2019. O estudo do grupo alemão HD16 demonstrou que em estadios iniciais sem fatores de risco, mesmo em pacientes com PET interino negativo após dois ciclo de ABVD, a radioterapia não pode ser omitida devido a maior risco de recidiva da ordem de 7%.

O conjugado anticorpo-droga (CAD) anti-CD30, brentuximabe vedotina e as imunoterapias com anti-PD-1 nivolumabe e pembrolizumabe (aprovados individualmente para pacientes recidivados ou refratários) foram estudados em combinação com resultados muito satisfatórios como resgate pré-quimioterapia em altas doses e no tratamento de pacientes idosos com linfoma de Hodgkin.

O tratamento da leucemia mieloide aguda (LMA) está se tornando mais personalizada devido ao desenvolvimento de inibidores de tirosina quinase para mutações específicas. Gilteritinibe e midostaurina em LMA com mutações m FLT3 e ivosidenibe para as mutações de IDH1 são alguns exemplos, mas o maior avanço foi a incorporação de venetoclax no tratamento da LMA em idosos e da Síndrome mielodisplásica de alto risco em combinação com hipometilantes.

Entretanto, a grande estrela da onco-hematologia continua sendo a incorporação das CAR T-cells no tratamento de linfomas recidivados e refratários, LLA, Mieloma Múltiplo e outras indicações. Agentes menos tóxicos como liso-cell com quantidades balanceadas de CD4 e CD8 já estão chegando no mercado americano.

No congresso da ASH deste ano, um anticorpo IgG bi-específico mosunetuzumabe, que reconhece CD3 em linfócitos T e CD20 expresso em linfomas B, mostrou resultados impressionantes mesmo em pacientes recidivados pós transplante de medula óssea e CAR T-cell.

Um grande desafio para a hematologia e sociedade brasileira é tornar essas terapias inovadoras acessíveis para os pacientes do nosso país, afirma Dr. Jacques.