Neste estudo, os autores apresentam uma abordagem direcionada à ressonância magnética em homens com PSA elevado, reduzindo significativamente o diagnóstico de câncer de próstata clinicamente insignificante, e evitando assim, o tratamento excessivo e biópsias desnecessárias. Esse estudo foi publicado no The New England Journal of Medicine (doi.org/ 10.1056/NEJMoa2406050). Para mais informações sobre o presente ensaio clínico: ISRCTN94604465
A campanha Novembro Azul ganha destaque para conscientizar sobre a importância da saúde masculina, especialmente no que se refere ao câncer de próstata, uma das neoplasias mais comuns entre os homens. Além de incentivar exames de rotina e o diagnóstico precoce, a campanha também ressalta os avanços nas estratégias de triagem que visam um diagnóstico mais preciso e menos invasivo.
Um estudo recente publicado no The New England Journal of Medicine explora uma abordagem inovadora que combina o teste de PSA com ressonância magnética (RM), reduzindo diagnósticos e tratamentos desnecessários ao identificar com maior precisão os casos de câncer de próstata clinicamente significativos. Nele, os autores exploraram uma nova abordagem para a triagem do câncer de próstata.
A triagem utilizando o teste de antígeno prostático específico (PSA) e a ressonância magnética (RM) representam uma notável evolução para melhorar a precisão de detecção precoce do câncer, ao mesmo tempo que pode reduzir biópsias desnecessárias, bem como tratamentos excessivos. Esse estudo randomizado de base populacional (ISRCTN94604465) para o estudo GÖTEBORG-2 teve como alvo homens de 50 a 60 anos em Gotemburgo, Suécia. Ele comparou o método tradicional de biópsia sistemática após níveis elevados de PSA. Utilizando uma estratégia que combina triagem de PSA com RM, seguida de biópsia direcionada, somente se lesões suspeitas foram detectadas, foi possível determinar se a estratégia baseada em RM poderia reduzir o diagnóstico de câncer de próstata clinicamente insignificante (grau 1 do IUSP), enquanto identificava possíveis cânceres clinicamente significativo (grau ≥ 2 do IUSP) ou avançados, de alto risco.
O estudo teve início em 2015. Um total de 38.316 homens elegíveis para triagem de PSA foram convidados, dos quais 19.733 compareceram em pelo menos uma triagem. De maneira aleatória, os participantes foram alocados em 2 grupos, sendo eles: i) grupo de biópsia direcionada à RM; ii) grupo de biópsia sistemática; foram incluídos em cada um destes grupo aproximadamente 6.575 homens. Todos os participantes foram submetidos à primeira triagem de PSA. Portanto, pacientes com níveis de PSA ≥ 3 ng/mL receberam a ressonância magnética. No grupo de biópsia direcionada à RM, apenas aqueles com lesões suspeitas detectadas pela ressonância magnética (pontuações PI-RADS de 3 a 5) foram aconselhados a fazer a biópsia, enquanto o grupo de biópsia sistemática recebeu biópsia independentemente dos resultados da RM. Adicionalmente, homens com achados negativos de RM em um nível de PSA abaixo de 10 ng/mL geralmente evitavam a biópsia no grupo direcionado à RM, exceto em alguns casos com base em critérios adicionais. Exames de acompanhamento foram realizados a cada 2 a 8 anos, dependendo dos níveis de PSA.
Ao longo de um acompanhamento médio de 3,9 anos, os resultados analisados revelaram diferença significativa entre os dois grupos no que diz respeito às taxas de detecção de câncer. Resumidamente, câncer clinicamente insignificante foi detectado em 68 homens (1%) no grupo de biópsia direcionada à RM, quando comparado a 159 homens (2,4%) no grupo de biópsia sistemática, o que representa uma taxa de detecção de 57% menor (RR, 0,43; IC de 95%, 0,32-0,57; p <0001). A detecção de câncer de próstata clinicamente significativo (graus 2 a 5 do IUSP) foi semelhante em ambos os grupos, sendo 117 casos (grupo direcionado à RM) e 139 casos (grupo de biópsia sistemática) (RR 0,84; IC de 95%, 0,66-1,07). Além disso, 15 casos de câncer avançado de alto risco (grau 4 ou 5 do IUSP ou metastático) foram identificados no grupo de biópsia direcionada à RM, quando comparado com 23 casos do grupo sistemático (RR 0,65; IC de 95%, 0,34-1,24). A taxa de câncer de intervalo, isto é, cânceres diagnosticados fora do protocolo de triagem, foi baixa, com 17 casos (grupo direcionado à RM) vs. 25 (grupo sistemático), mantendo uma distribuição semelhante na gravidade do câncer.
Eventos adversos relacionados a biópsias foram incomuns. Foram reportados 5 casos sérios que resultaram em hospitalização, sendo: três do grupo de biópsias sistemáticas e 2 do grupo alvo RM. As taxas de adesão a biópsia foram maiores no grupo alvo de RM, provavelmente porque homens com resultados negativos de RM sentiram menos em risco e mais inclinados a seguir os intervalos de triagem recomendados. Em conclusão, o presente estudo mostra uma abordagem direcionada à ressonância magnética em homens com PSA elevado, reduzindo significativamente o diagnóstico de câncer de próstata clinicamente insignificante, e evitando assim, o tratamento excessivo e biópsias desnecessárias. É importante ressaltar que essa estratégia não aumenta o risco de perder cânceres clinicamente significativos ou avançado, fornecendo alternativa segura e eficiente para o rastreamento do câncer de próstata. Os resultados apoiam a revisão das diretrizes de rastreamento do câncer de próstata para incorporar a RM para casos com PSA elevado, refinando, assim os protocolos de detecção precoce para reduzir o diagnóstico excessivo e o tratamento excessivo sem comprometer os resultados do paciente.
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