Os pesquisadores recomendam e encorajam a implantação de apoio psicossocial para os pacientes oncológicos que estão em tratamento para promover resiliência emocional a fim de prevenir o estresse pós-traumático
Pacientes oncológicos têm alto risco de desenvolver a forma grave da COVID-19 e as diretrizes de tratamentos oncológicos foram ajustadas diante desse cenário. No ESMO Virtual Congress 2020, a investigadora Dra. Florence Joly, do Comprehensive Cancer Centre François Baclesse, em Caen, na França, apresentou o estudo COVIPACT, que avaliou as modificações terapêuticas induzidas pela pandemia em pacientes sob tratamento oncológico e o impacto psicológico em pacientes e cuidadores.
Este estudo prospectivo francês foi iniciado em pacientes com tumores sólidos ou hematológicos durante o isolamento social enquanto recebiam a terapia antineoplásica ambulatorial em dois centros oncológicos. As modificações de tratamentos foram coletadas de prontuários médicos.
Estresse percebido e pós-traumático (perceived and post-traumatic stress: PSS e IES-R), qualidade do sono (ISI), qualidade de vida (Fact-G) e queixa cognitiva (Fact-Cog) foram relatados no início do estudo já durante o isolamento social e serão coletados nos meses 3 e 6. PSS e burnout profissional (Maslach Burnout Inventory [MBI], General self-efficacy scale [GSES]) também foram relatados pelos cuidadores.
Dados clínicos de baseline estão disponíveis para 621 pacientes e questionários para 575 pacientes (93%) e 73 cuidadores. As idades medianas de pacientes e cuidadores foram 64 e 40, sendo a proporção de mulheres igual a 69% e 81%, respectivamente. Os cuidadores eram principalmente enfermeiros (48%) e oncologistas (30%). 98% dos pacientes tinham tumores sólidos, 59% com doença metastática e 47% tratados de novo.
Os principais tratamentos incluíram quimioterapia (72%), imunoterapia (31%) e terapia-alvo (13%), sendo 37% iniciado durante o isolamento social. 27% dos pacientes tiveram modificações de tratamento: 30% de monitoramento adaptado (principalmente por telefone); 15% de interrupções; 32% atrasos de terapia; 19% de modificações da frequência de administração, especialmente entre aqueles com câncer de pulmão, com tratamentos iniciados antes do isolamento social, sob imunoterapia e sob terapia-alvo.
Estresse severo percebido, estresse pós-traumático e insônia foram observados em 6%, 21% e 24% dos pacientes, respectivamente. Mais pacientes com modificações de tratamento apresentaram estresse pós-traumático severo (27% versus 19%, p = 0,05). As modificações de tratamento não impactaram na qualidade de vida nem cognição. O escore de estresse percebido foi maior entre os cuidadores do que para os pacientes (p = 0,035), mas 2/3 relataram realização profissional e autoeficácia.
Em conclusão, a palestrante comentou que 1/4 dos pacientes em tratamento oncológico durante o isolamento social devido à COVID-19 que modificaram algo no tratamento apresentaram maior estresse pós-traumático. Além disso, mesmo que os profissionais da saúde tenham expressado um alto nível de estresse percebido durante o período de lockdown, eles relataram que conseguiram lidar com a situação.
Segundo a investigadora, o próximo passo do estudo é avaliar a evolução dos parâmetros psicossociais ao longo do tempo (3 e 6 meses) após o isolamento social entre os pacientes e os cuidadores.
Ela recomenda e encoraja a implantação de apoio psicossocial para os pacientes oncológicos que estão em tratamento para promover resiliência emocional a fim de prevenir o estresse pós-traumático.
Referências:
LBA69 – Impact of the COVID-19 pandemic on management of medical cancer treatments and psychological consequence for the patients
https://cslide.ctimeetingtech.com/esmo2020/attendee/confcal/show/session/217
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