Especialistas discutem diagnóstico e classificação molecular, abordagem cirúrgica e os medicamentos mais comumente utilizados no tratamento, de acordo com as evidências científicas e as características de cada paciente
O segundo webinar do Programa Educacional “Oncoginecologia em Foco” contou com a participação da Dra. Filomena Carvalho, médica patologista e professora associada do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Dra. Audrey Tieko Tsunoda, cirurgiã oncológica do Departamento de Ginecologia Oncológica do Hospital Erasto Gaertner e do Hospital Israelita Albert Einstein, Professora da PPGTS/PUCPR, e Dra. Luciana Landeiro, médica oncologista especialista em Tumores Femininos e Diretora do Núcleo de Pesquisa Clínica do NOB (Grupo Oncoclínicas).
A apresentação teve início mostrando um background epidemiológico, com uma abordagem histórica acerca do entendimento do câncer do endométrio ao longo do tempo. As especialistas analisaram como a visão dualística dos anos 1980 foi modificada com o surgimento de estudos de novos casos.
No cenário atual, observa-se um aumento na incidência da doença, devido, principalmente, ao envelhecimento e à obesidade da população. Atualmente, o diagnóstico precoce encontra dificuldades na agilidade dos exames iniciais e condutas ainda não precisas academicamente. Em um estudo do ICESP, alguns pontos, como a demora no diagnóstico, a detecção em estágios avançados e o tamanho significativo da massa no momento da confirmação da malignidade, foram apontados como cenários que ainda necessitam de intervenções e que representam a gravidade da enfermidade no contexto brasileiro.
A classificação biomolecular separou o câncer de endométrio em quatro grupos genéticos com diferentes prognósticos: POLE, que apresenta melhor prognóstico; INSTABILIDADE DE MICROSSATÉLITE; SEROSO-SÍMILE, mais agressivo, e o grupo de BAIXO NÚMERO DE CÓPIAS.
A pesquisa da proteína p53 mutada, se positiva, representa pior prognóstico, assim como enzimas de reparo mutadas . Essa separação é importante pois, na literatura, têm-se condutas pré-estabelecidas que direcionam a terapêutica, auxiliando a escolha da abordagem. A pesquisa avançada de pequenas mutações e a análise genômica permitiram uma individualização do tratamento e, consequentemente, proporcionaram uma melhor abordagem e um melhor cuidado ao paciente.
Essa classificação molecular impactou em múltiplos cenários o câncer de endométrio. Dentre eles, cita-se a oportunidade de decisão pré-operatória, a mitigação do overtreatment e undertreatment e, por fim, a avaliação de candidatos à imunoterapia.
A Dra. Tsunoda explorou a abordagem cirúrgica em sua apresentação. Segundo a professora, os principais objetivos são remover o tumor primário e identificar fatores prognósticos, dentre os quais destacam-se estadiamento, invasão endometrial, citologia peritoneal, tipo histológico e acometimento linfonodal.
A depender do tipo histológico, da idade, do acometimento e dos anseios do paciente, a abordagem será adaptada e moldada, para proporcionar tratamento fisiológico paralelo a um olhar humanizado e que leve em conta outras esferas da vida pessoal, principalmente no que se refere à gestação. Atualmente, para pacientes de baixo risco, a abordagem é realizada por histerectomia extrafascial, mas foi destacada também a importância de minúcias terapêuticas e da classificação que guiarão a cirurgia. Via de regra, todas as lesões suspeitas devem ser removidas.
A terapia da doença inoperável, metastática ou recidivada é possível com quimioterapia, terapias-alvo, como os anti-VEGF, anti-PD1 e a terapia endócrina. Foi ressaltada a maior taxa de resposta objetiva em esquemas com maior intervalo livre de platina. Trastuzumabe em carcinoma seroso demonstrou resultados significativos com baixa adição de toxicidade. Pembrolizumabe foi avaliado para carcinoma do tipo de instabilidade de microssatélites e defeitos em enzimas de reparo, também demonstrando potencial terapêutico.
Em resumo, é importante definir histologicamente se a neoplasia é serosa ou não serosa. No primeiro caso, devemos definir se há superexpressão de HER2. Caso haja, iniciar carboplatina e taxano+trastuzumabe e, caso negativo, não adicionar trastuzumabe no esquema terapêutico. Nos casos não-serosos, carboplatina e taxano. Com a progressão da doença, existe deficiência em enzimas de reparo ou instabilidade de microssatélites, casos nos quais inicia-se pembrolizumabe em monoterapia.
Vale ressaltar que a escolha do regime antineoplásico deve ser feita em equilíbrio entre evidência cientifica e individualização do tratamento, de modo a adequar a terapêutica ao cenário e às particularidades do paciente. Múltiplos estudos apresentam boas perspectivas e, possivelmente, novas terapêuticas que vão surgir, irão, de forma significativa, alterar o cenário não só do câncer de endométrio, mas dos tumores ginecológicos como um todo.
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