Estudo publicado no Journal of Clinical Oncology mostra, através de análises de bancos de dados populacionais de mulheres acima de 65 anos, a relevância da presença de variantes patogênicas em genes relacionados ao câncer de mama
O câncer de mama hereditário é mais comum em mulheres jovens, com forte história familiar, em descendentes de judeus Ashkenazi, ou em tumores triplo negativos. Nesse cenário de alto risco, a presença de variantes genéticas patogênicas (VP) de predisposição ao câncer de mama hereditário gira em torno de 10%. Atualmente, as diretrizes do NCCN (National Comprehensive Cancer Network®) sugerem que a avaliação germinativa em mulheres com câncer de mama >65 anos (sem outros fatores de risco descritos previamente) tem utilidade clínica limitada devido poucos estudos prévios que sugerem a presença de <2,5% de VP de alta penetrância nesse cenário. Nesse sentido, um estudo recente publicado no Journal of Clinical Oncology avaliou a prevalência de VP em genes de predisposição ao câncer de mama e o risco de desenvolvimento da doença em mulheres >65 anos.
Foram incluídas mulheres >65 anos, com ou sem diagnóstico de câncer de mama, provenientes estudos de base populacionais (BWHS, CPSII, CTS, MEC, NHS, WHI, CPS3, MMHS, SISTER, MCBS, WCHS e WWHS) que foram submetidas a painel germinativo para genes relacionados a tumores de mama (ATM, BARD1, BRCA1, BRCA2, CDH1, CHEK2, NF1, PALB2, PTEN, RAD51C, RAD51D e TP530) de acordo com o consórcio CARRIERS. Apenas variantes com perda de função ou missense, de acordo com o banco de dados ClinVar, foram classificadas como patogênicas. Foram avaliadas as frequências e as associações das variantes patogênicas de cada gene com o diagnóstico de câncer de mama. O risco de câncer de mama durante a vida foi avaliado em mulheres brancas não-hispânicas com VP.
Resultados:
Um total de 13.762 mulheres com diagnóstico de câncer de mama (casos) e 12.945 sem a doença (controles) foram incluídas nas análises. Em ambos os grupos, a média de idade foi de 72 anos. A presença de parentes de primeiro grau com diagnóstico de câncer de mama foi de 25,6% vs 17,9% para casos e controles respectivamente. Entre as pacientes com avaliação patológica tumoral disponível, 86% eram receptor-hormonal (RH) positivo, 13,9% HER2 positivo e 5,6% triplo negativo (TN). A prevalência de VP dos 12 genes descritos foi de 3,18% (casos) vs 1,48% (controles). Uma frequência similar foi observada em mulheres não-hispânicas brancas e afro-americanas (3,4%), ao passo que uma menor frequência foi encontrada em asiáticas (1,24%). Entre os casos, as VP mais comuns encontradas foram CHEK2 (0,92%), BRCA2 (0,71%), ATM (0,57%), PALB2 (0,36%) e BRCA 1 (0,28%). Entre os controles, CHEK2 (0,39%) e ATM (0,39%) foram as VP mais encontradas. A prevalência de VP entre pacientes com tumores RH positivo, RH negativo e TN foi de 2,8%, 5,24% e 4,79% respectivamente. Quando foram avaliadas especificamente pacientes >60 anos e com tumores TN, a prevalência de variantes patogênicas foi de 6,45%. Apenas VP em BRCA1 (OR 3,37), BRCA2 (OR 2,64), PALB2 (OR 3,09) e CHEK2 (OR 2,13) foram estatisticamente associadas ao risco de desenvolvimento de câncer de mama. Quando se avaliou o risco de doença de acordo com perfil hormonal, apenas VP em PALB2, CHEK2 e BRCA2 foram estatisticamente associadas (risco moderado) em RH positivos. Já para RH negativos, VP em BRCA1, BRCA2, PALB2, RAD51D e BRIP1 tiveram associação (alto risco) estatística. O risco acumulado de câncer de mama entre 66-85 anos (análise restrita a mulheres brancas não hispânicas devido pequeno número de VP encontradas nos outros grupos étnicos), foi de aproximadamente 20% para presença de VP em BRCA1 (18,4%) e BRCA2 (18,7%), 15,9% para PALB2, 14,9% para CHEK2 e 9,9% para ATM. Em pacientes com tumores RH positivos, o risco acumulado de câncer de mama foi 15% para BRCA2, 14,4% para CHEK2 e 13,3% para PALB2, ao passo que para pacientes com tumores RH negativos, o risco acumulado foi de 5,2% para BRCA1 e 5,2% para BRCA2.
Conclusão:
Os resultados apresentados auxiliarão na construção de futuras diretrizes para o rastreio e o manejo do risco para mulheres >65 anos na população em geral, especialmente para aquelas com tumores triplo negativos diagnosticados >60 anos ou receptor hormonal negativo >65 anos. Além disso, devido a presença de risco acumulado de câncer de mama aproximando-se a 20% em mulheres com VP (BRCA1, BRCA2, CHEK2 e PALB2), pode-se considerar o uso de ressonância magnética de rastreio nessa faixa etária.
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