Estudo publicado no Clinical Journal of Oncology Nursing demonstra a importância de um enfermeiro navegador oncológico adaptado para garantir a adesão do paciente à terapia antineoplásica oral, trazendo benefícios na qualidade de vida dos pacientes, reduzindo custos das visitas, e otimizando o monitoramento dos efeitos adversos
Os tratamentos para doenças, independentemente de sua natureza, se sustentam em pilares correlacionados: paciente, profissional da saúde, medicação e custos. Nesse sentido, no segmento oncológico, os antineoplásicos orais têm papel central e crescente, pois segundo a FDA – Food and Drugs Administration-, 40% dos medicamentos oncológicos aprovados em 2021 foram dessa classe.
Os antineoplásicos orais oferecem vantagens como conveniência, autonomia e ausência de acesso venoso, entretanto, o prosseguimento do tratamento não se sustenta se paciente e profissionais da saúde não desempenham o seu papel. A taxa de não adesão dos pacientes chega a 80%, muito disso devido as barreiras físicas e psicossociais enfrentadas por eles. No que tange o pilar dos profissionais, o papel do enfermeiro navegador oncológico é de extrema importância. Este é um papel introduzido na década de 1990, com o objetivo de facilitar as decisões compartilhadas e ajudar a transpor as barreiras de um tratamento oncológico, neste papel, o enfermeiro deve apresentar um conhecimento clínico bem estruturado, boa comunicação, organização e capacidade de alcançar os parâmetros das diretrizes de tratamento das associações de oncologia.
Entretanto esses profissionais enfrentam fatores estressores como pouco treinamento formal, e no caso dos antineoplásicos orais, monitoramento e administração complexas. Observando o último pilar, o cenário se torna ainda mais desafiador, visto que os custos das visitas nos prontos atendimentos, prontos socorro e hospitais são bastante altos. Diante desses fatos, este estudo teve como objetivo demonstrar como um papel adaptado para o enfermeiro navegador oncológico pode trazer benefícios paras os pacientes com câncer, reduzir custos das visitas e monitoramento mais eficaz dos efeitos adversos.
Dentre os métodos utilizados neste estudo, foi realizada uma revisão literária acerca de adesão a tratamentos oncológicos, riscos dos efeitos adversos e enfermeiros navegadores, usando como base de dados MEDLINE®, PubMed® e CINAHL®, além de uma pesquisa avançada utilizando termos expandidos selecionados do Medical Subject Readings, somente em artigos com até cinco anos da publicação e disponíveis em texto completo. Além disso, foi convocado um comitê de direção interprofissional, incluindo fornecedores farmacêuticos, enfermeiros e representantes administrativos para delinear os objetivos e estruturar o Programa Antineoplásico Oral. Para o desenvolvimento deste programa, foi utilizado o método Planeje, Faça, Estude, Aja. O programa foi implementado em 2018, e posteriormente, os dados coletados entre 2019 e 2020 foram analisados em uma perspectiva relacional descritiva.
Antes do lançamento do programa formal, foram desenvolvidas ferramentas para avaliação de barreiras personalizadas e para adaptação ao processo de educação terapêutica. A primeira ferramenta consistia em questionar o paciente em relação as barreiras enfrentadas no tratamento e o nível de sofrimento causado por elas. Isso gerava uma pontuação na Escala de Acuidade de Navegação, a partir da qual são feitos os encaminhamentos. A segunda ferramenta foi desenvolvida de acordo com as diretrizes da Comissão do Câncer e adaptada para este estudo. Ela consistia em um manual de acompanhamento fornecido ao paciente para que ele entenda melhor e tenha maior facilidade em seguir seu tratamento. Itens como objetivo do tratamento, dose e esquema de tomada da medicação, manuseio seguro, armazenamento, o que fazer caso uma dose seja perdida, efeitos adversos esperados e gerenciamentos destes, são alguns dos que constam nessa ferramenta. Para mitigação e gerenciamento dos efeitos adversos, foram realizados telefonemas para os pacientes do programa, semanais nas primeiras duas semanas e depois quinzenais nos dois primeiros meses. Em conjunto, as duas ferramentas levavam ao encaminhamento dos pacientes para as equipes de saúde ou apoio, sendo também realizadas visitas de acompanhamento presenciais ou virtuais.
Desse modo, o projeto piloto seguiu de janeiro de 2019 a dezembro de 2020, com 1095 pacientes do Centro de Câncer da Universidade do Arizona. Existiam nesse grupo amostral 37 diagnósticos diferentes, sendo os mais comuns, câncer de mama (25%), genitourinário (23%), hematológico (21%) e doenças gastrointestinais (19%). A idade mediana dos pacientes era de 67,5 anos, sendo 54% deles do sexo masculino. A primeira lacuna do estudo estava na grande disparidade das prescrições, com 102 antineoplásicos orais diferentes em todos os regimes de tratamento oral ou em combinação com drogas injetáveis, administradas por 46 farmácias, sendo que 30% das prescrições eram preenchidas pela farmácia especializada e 4% dos pacientes recebiam medicação gratuita de algum programa.
Já no âmbito das visitas aos ambientes de saúde, cerca de 17% dos pacientes tiveram pelo menos uma visita no pronto socorro ou pronto atendimento, e 14% tiveram ao menos uma internação. Foi demonstrado com um intervalo de confiança de 95% que um tempo de diagnóstico menor que 12 meses foi associado com atendimentos de emergência ou hospitalização. Dentro do mesmo intervalo de confiança, foi demonstrado que pacientes vistos no pronto socorro tinham mais chances de serem internados. Já os 652 pacientes contatados pelo menos três vezes pelo enfermeiro navegador antineoplásico oral eram menos prováveis de serem vistos no pronto socorro e pronto atendimento, sendo 24% em 2019 e 10% em 2020, ou serem hospitalizados, correspondendo a 21% desses pacientes em 2019 e 7% no ano seguinte.
Mesmo diante das limitações desse estudo, como o não alcance por telefonema de todos os participantes do programa e a inclusão de apenas uma instituição, ficou claro que o enfermeiro navegador antineoplásico oral tem capacidade de afetar positivamente os resultados dos tratamentos oncológicos e, munidos das ferramentas corretas, conseguem reduzir os custos de visitas e monitoram efeitos adversos de forma eficiente e precoce. Também foram demonstradas oportunidades de melhoria personalizadas, que podem ser acatadas por outros profissionais da saúde e instituições oncológicas. No entanto, também foi estabelecida a necessidade de adaptação do sistema de saúde diante deste cenário complexo, repleto de barreiras a serem transpostas, não só pelos profissionais, mas também pelo paciente.
Referências
Barkett .L .N , et al. Implementation of an Oral Antineoplastic Therapy Program: Results From a Pilot Project .1 CLINICAL JOURNAL OF ONCOLOGY NURSING. February 2022. VOL. 26, NO. 1 . doi:10.1188/22.CJON.61-70.
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