Recomendações de grupo de especialistas da ASCO sugerem biomarcadores como mutações em PIK3CA, mutações germinativas em BRCA1/2, dentre outros como parâmetros de elegibilidade para o tratamento de terapias sistêmicas a fim de garantir maior eficácia e segurança em pacientes com câncer de mama avançado
A Sociedade Americana de Oncologia (ASCO) publicou, no ano de 2015, um Clinical Practice Guideline contendo recomendações e guias capazes de orientar o corpo clínico na tomada de decisões relacionadas às terapias sistêmicas em pacientes com câncer de mama metastático. Desde então, com o avanço de terapias, métodos diagnósticos, avanços científicos dentre outros fatores, tornou-se necessário complementar e atualizar as recomendações presentes nesse guideline.
Mediante a formação de um grupo de especialistas, foi elaborada uma revisão sistemática da literatura médica visando responder sobretudo questões relacionadas a utilização de alguns biomarcadores como ferramentas na decisão terapêutica sistêmica na coorte de pacientes com câncer de mama metastático candidatos à terapia sistêmica ou candidatos a alterações de droga ou regime de tratamento.
Sendo assim, os artigos revisados compreenderam aqueles publicados de 01 de janeiro de 2015 a 01 de janeiro de 2022 e após avaliação 19 artigos foram selecionados para revisão sistemática após atenderam critérios rígidos que garantissem que estudos incluídos apresentassem, de fato, evidência de aplicabilidade daquele biomarcador, sendo a maioria desses estudos clínicos de fase III randomizados ou estudos prospectivo-retrospectivos.
De maneira sucinta trazemos aqui, exemplos de biomarcadores indicados pela ASCO baseados segundo critérios da Sociedade em evidência de alta qualidade e com alta recomendação por parte dos especialistas:
– PIK3CA: O estudo SOLAR-1 avaliou mutação de PIK3CA como possível biomarcador em coorte de pacientes com câncer de mama HR-/HER2- com recorrência local irresecável ou metastático, com indicação do esquema terapêutico de alpesilibe (inibidor da quinase PI3K) associado à terapia hormonal. O presente guideline recomenda a realização de teste para mutações no gene PIK3CA utilizando sequenciamento de nova geração (NGS) do tecido tumoral ou DNA circulante no plasma (ctDNA) como ferramenta para determinação da elegibilidade do paciente à terapia alpesilibe + fulvestrano. Segundo resultados do estudo, pacientes com ao menos uma de 11 mutações específicas nesse gene tiveram sobrevida livre de progressão prolongada. Portanto recomenda-se testagem em tumor e de ctDNA, cabendo ressalva à possibilidade de falso-negativo em ctDNA que, mediante teste negativo, requer comprovação via sequenciamento tumoral.
– Germline BRCA1 e BRCA2: Visando a aplicação da testagem de mutações germinativas de BRCA1/2 para decisão terapêutica de uso oral de inibidores de PARP em pacientes metastáticos HR+/HER2- ou HR-/HER2-, os estudos OlympiAD (olaparibe) e EMBRACA (talazoparibe) respaldam a recomendação desse teste na versão 2022 do guideline. Ainda que não demonstrem benefícios expressivos na sobrevida global quando comparados com a quimioterapia padrão, a melhora na sobrevida livre de progressão em ambos os estudos e os parâmetros de melhor tolerância ao tratamento, caracterizam um bom perfil de risco-benefício dos inibidores de PARP que podem ser prescritos de maneira mais assertiva mediante elegibilidade por meio do teste positivo para mutações germinativas em BRCA1/2.
Além dessas duas recomendações, outras 4 são apresentadas na versão publicada, sendo que PIK3CA e BRACA1/2, são aquelas com maior força de recomendação baseada em evidências. No entanto, 6 outros biomarcadores (ESR1, PALB2, HRD, expressão de TROP2, ctDNA e CTCs) são desencorajados pelo guideline por serem biomarcadores que carecem de mais evidências e são em sua maioria baseados apenas por consenso, fato este que diminui o grau de qualidade e, consequentemente força desse biomarcador como possível recomendação pela ASCO.
De modo geral, a atualização dos guidelines para biomarcadores em câncer de mama metastáticos candidatos à terapia sistêmica forneceu maior profundidade nas recomendações baseadas nos avanços da ciência dos últimos anos, respondendo questionamentos relacionados às diretrizes de tratamento e garantindo uma medicina personalizada e direcionada com base na utilização de diferentes biomarcadores para caracterização de elegibilidade dos pacientes a diferentes terapias.
Referência:
Henry NL, Somerfield MR, Dayao Z, Elias A, Kalinsky K, McShane LM, Moy B, Park BH, Shanahan KM, Sharma P, Shatsky R, Stringer-Reasor E, Telli M, Turner NC, DeMichele A. Biomarkers for Systemic Therapy in Metastatic Breast Cancer: ASCO Guideline Update. J Clin Oncol. 2022 Jun 27:JCO2201063. doi: 10.1200/JCO.22.01063. Epub ahead of print. PMID: 35759724.
Alameda Campinas, 579 – Jardim Paulista, São Paulo – SP, 01404-100
CEO: Thomas Almeida
Editor científico: Paulo Cavalcanti
Redatora: Bruna Marchetti
© 2020 Oncologia Brasil
A Oncologia Brasil é uma empresa do Grupo MDHealth. Não provemos prescrições, consultas ou conselhos médicos, assim como não realizamos diagnósticos ou
tratamentos.