A diretriz da ASCO discute considerações especiais, como exercícios em indivíduos com câncer avançado e em casos de pacientes pré-operatório, e destaca a necessidade crítica de mais pesquisas nessa área, particularmente em relação à dieta e intervenções para perda de peso durante o tratamento do câncer.
A ASCO (American Society of Cancer Oncology) publicou nesse mês de agosto de 2022 uma diretriz de prática clínica sobre exercícios, dieta e controle de peso durante o tratamento do câncer. Muito se fala sobre o fato que a obesidade, inatividade física e baixa qualidade da dieta são fatores de risco conhecidos para mais de uma dúzia de doenças malignas, principalmente para o câncer. Até o momento, as orientações geralmente enfatizam as diretrizes de saúde pública baseadas na população, com um foco crescente em indivíduos em risco e sobreviventes de câncer. Em contraste, tem havido um esforço limitado focado em pacientes atualmente em tratamento de câncer. Esse período é crítico para os pacientes, uma vez que o tratamento do câncer geralmente leva a declínios na aptidão cardiorrespiratória e no funcionamento físico, mudanças desfavoráveis na composição corporal e efeitos colaterais como neuropatia e fadiga. Esses efeitos colaterais podem não apenas afetar negativamente a qualidade de vida e o estado funcional após o diagnóstico de câncer, mas também predispor os pacientes com câncer a comorbidades como doenças cardiovasculares e diabetes.
A diretriz da ASCO foi formulada por um Painel de Especialistas Multidisciplinar que realizou uma revisão sistemática de evidências identificadas por meio de pesquisas online no PubMed e na Cochrane Library para o período de 1º de janeiro de 2000 a 17 de maio de 2021. Foram utilizados como base os trabalhos de revisão sistemática e ensaios clínicos randomizados sobre o impacto do exercício aeróbico e de resistência, dietas e alimentos específicos e perda de peso intencional e evitar ganho de peso em adultos durante o tratamento do câncer, na qualidade de vida, toxicidade do tratamento, e controle do câncer. A diretriz de prática clínica aborda três questões clínicas abrangentes e traz as recomendações sobre cada uma.
A primeira questão clínica é sobre como o exercício durante o tratamento do câncer pode melhorar com segurança os resultados relacionados à qualidade de vida, toxicidade do tratamento ou controle do câncer. Os estudos mostraram que as intervenções de exercício durante o tratamento ativo reduzem a fadiga, preservam a aptidão cardiorrespiratória, o funcionamento físico e a força, e em algumas populações melhoram a qualidade de vida e reduzem a ansiedade e a depressão. Além disso, as intervenções de exercícios durante o tratamento apresentam baixo risco de eventos adversos. Com base nisso, a recomendação do painel de especialistas é que os profissionais de oncologia devem recomendar exercícios aeróbicos e de resistência durante o tratamento ativo com intenção curativa para mitigar os efeitos colaterais do tratamento do câncer (Tipo: baseado em evidências, benefícios superam os danos; Qualidade da evidência: moderada a baixa; Força da recomendação: forte). Também podem recomendar exercícios pré-operatórios para pacientes submetidos à cirurgia de câncer de pulmão para reduzir o tempo de internação e as complicações pós-operatórias (Tipo: baseado em evidências, benefícios superam os danos; Qualidade da evidência: baixa; Força da recomendação: fraca).
A segunda questão refere-se ao consumo de um determinado padrão alimentar ou alimento(s) durante o tratamento do câncer e se isso leva melhora com segurança os resultados relacionados à qualidade de vida, toxicidade do tratamento ou controle do câncer. Atualmente, não há evidências suficientes na literatura para que os especialistas pudessem apoiar as recomendações contra ou a favor para intervenções dietéticas, como dietas cetogênicas ou com baixo teor de carboidratos, dietas com baixo teor de gordura, alimentos funcionais ou jejum para melhorar os resultados relacionados à qualidade de vida, toxicidade do tratamento ou controle do câncer. Entretanto, as dietas neutropênicas (especificamente dietas que excluem frutas e vegetais crus) não são recomendadas para prevenir infecção em pacientes com câncer durante o tratamento ativo (Tipo: baseado em evidências, danos que provavelmente superam os benefícios; Qualidade da evidência: baixa; Força da recomendação: fraca).
Por fim, a última questão clínica é sobre como as intervenções para promover a perda de peso intencional ou evitar o ganho de peso durante o tratamento do câncer pode melhorar com segurança os resultados relacionados à qualidade de vida, toxicidade do tratamento ou controle do câncer. O painel de especialistas descreve que a atual falta de evidências sobre intervenções de dieta e controle de peso durante o tratamento do câncer deveria ser um chamado para realizar mais pesquisas nessas áreas críticas. Estratégias de dieta e controle de peso que proporcionam benefícios à saúde da população em geral também podem trazer benefícios importantes para as pessoas que estão em tratamento de câncer. Devido a isso, os especialistas se abstiveram de fazer recomendações específicas, dadas as lacunas nas evidências.
O Painel de Especialistas comenta que está diretriz representa um passo importante na orientação de pacientes adultos sobre exercícios, dieta e controle de peso durante o tratamento do câncer. Embora a falta de base de evidências, especialmente para dieta e controle de peso, tenha limitado o número de recomendações feitas, o Painel recomendou a incorporação de exercícios no tratamento do câncer para pacientes que recebem terapia sistêmica e radioterapia, bem como potencialmente no cenário pré-operatório para pacientes com câncer de pulmão.
Referência:
1 – Jennifer A. Ligibel, Kari Bohlke, Anne M. May, Steven K. Clinton, Wendy Demark-Wahnefried, Susan C. Gilchrist, Melinda L. Irwin, Michele Late, Sami Mansfield, Timothy F. Marshall, Jeffrey A. Meyerhardt, Cynthia A. Thomson, William A. Wood, and Catherine M. Alfano. Exercise, Diet, and Weight Management During Cancer Treatment: ASCO Guideline. Journal of Clinical Oncology 2022 40:22, 2491-2507.
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