Estudo clínico de fase II demonstra efeito benéfico de tratamento utilizando cabozantinibe e temozolamida em sarcomas de partes moles metastáticos e localmente avançados
O manejo clínico de tumores metastáticos ou localmente avançados segue apresentando-se como um dos maiores desafios na oncologia clínica, a despeito dos avanços atingidos em relação às estratégias terapêuticas disponibilizadas nas últimas décadas. Nesse contexto, abordagens utilizando combinações de moléculas direcionadas contra diferentes alvos e afetando múltiplos processos intrínsecos à progressão tumoral têm sido sugeridos como estratégias promissoras ao diminuir significativamente a probabilidade de desenvolvimento de resistência tumoral.
Partindo desse pressuposto, o estudo reportado testa a combinação entre cabozantinibe (CAB) – um inibidor de tirosina-quinases com proeminente atividade contra c-MET e VEGFR2, bloqueando proliferação celular e angiogênese – e temozolamida (TMZ) – um agente alquilante molecularmente semelhante a dacarbazina – no tratamento de sarcomas de partes moles metastáticos ou localmente avançados, cânceres de progressão rápida e altamente letais.
Para tal, o ciclo de tratamento adotado teve duração de 28 dias, consistindo em administração diária, por via oral, de 40mg de CAB concomitantemente a 150-200mg/m2 de TMZ, também por via oral, nos cinco primeiros dias de ciclo. No total, o estudo recrutou 72 pacientes, divididos em duas coortes: a primeira (I) constistuída por 42 pacientes com leiomiossarcomas uterinos ou não uterinos e a segunda (II) constituída por 30 pacientes com outros tipos de sarcomas de partes moles.
Entre 37 pacientes avaliáveis na coorte I, relatou-se uma taxa de 46% de pacientes livres de progressão ao fim de 12 semanas e uma sobrevida livre de progressão média de 6,4 meses (IC95%: 4,6 – 6,7), sendo que 5 pacientes (13,5%) apresentaram resposta parcial ao tratamento. Já entre 28 pacientes avaliáveis na coorte II, demonstrou-se uma taxa de 50% de pacientes livres de progressão em 12 semanas, com uma sobrevida livre de progressão média de 3,2 meses (IC95%: 1,4 – 4,6). Dessa coorte, um paciente (3,6%) apresentou resposta parcial. Os eventos adversos de grau 3 e 4 mais comumente relatados entre 70 pacientes avaliados foram hipertensão (10%) e redução nas contagens de neutrófilos (18.7%) e plaquetas (31%) circulantes.
Assim, os autores sugerem que a combinação de cabozantinibe e temozolamida é uma abordagem factível, segura e potencialmente eficaz para o tratamento de sarcomas de partes moles avançados, já que a sobrevida livre de progressão atingida na coorte I foi maior que aquela relatada em tratamentos de segunda linha utilizando inibidores de tirosina-quinases ou agentes alquilantes isoladamente e que não foram relatadas toxicidades não previamente documentadas. A comprovação desses resultados em novos ensaios clínicos pode abrir novas perspectivas para o tratamento desses cânceres de difícil manejo.
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Redatora: Bruna Marchetti
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