Reconhecida como referência global em oncologia, a ASCO® 2025 destacou evidências que reforçam tendências e desafiam paradigmas. Os primeiros dias já sinalizam impacto direto na prática médica.
A seguir, reunimos os principais destaques do segundo dia do evento, evidênciando àqueles estudos que trouxeram resultados relevantes.
Plenária discute estudos modificadores de conduta em câncer gástrico localizado e em câncer de cólon com deficiência de proteínas de reparo .
Por: Duílio Rocha Filho, MD, MsC, PhD. Chefe do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará.
Câncer gástrico
O estudo MATTERHORN revelou que a adição de durvalumabe ao regime FLOT no tratamento perioperatório de pacientes com câncer gástrico ou da junção gastroesofágica ressecável (estádios II–IVA) resultou em uma melhora significativa na sobrevida livre de eventos (SLE) (mediana não alcançada vs 32,8 meses; HR 0,71; p<0,001) (1). A taxa de SLE em 24 meses foi de 67,4% no braço durvalumabe + FLOT e 58,5% no grupo controle. O benefício foi encontrado independentemente da expressão de PD-L1.
Adicionalmente, a taxa de resposta patológica completa foi de 19% no grupo durvalumabe + FLOT, em comparação a 7% no grupo FLOT isolado. Os eventos adversos de grau 3–4 foram semelhantes entre os grupos, e o uso de durvalumabe não atrasou a cirurgia nem o início da terapia adjuvante.
Esses resultados estabelecem o regime durvalumabe + FLOT como um novo padrão de tratamento perioperatório para pacientes com adenocarcinoma gástrico e da junção gastroesofágica ressecável.
Câncer de cólon
O ensaio clínico de fase III ATOMIC avaliou pacientes com adenocarcinoma de cólon estádio clínico III com deficiência de proteínas de reparo (dMMR). Os pacientes foram randomizados para receber mFOLFOX + atezolizumabe por um total de 12 ciclos, seguidos por atezolizumabe em monoterapia até completar 12 meses de tratamento, ou mFOLFOX isolado (2). A sobrevida livre de doença em 3 anos foi de 86,4% no grupo que recebeu imunoterapia adjuvante e de 76,6% no braço mFOLFOX6 (HR 0,50; p<0,0001).
O estudo estabelece um novo padrão de tratamento adjuvante para pacientes com câncer de cólon estádio III dMMR/MSI-H. Questões que ainda requerem esclarecimento incluem a real necessidade de quimioterapia nesses pacientes – possivelmente, a imunoterapia isolada proporcione desfechos similares. Adicionalmente, pacientes de risco elevado, como aqueles com neoplasia T4, poderiam ser tratados com imunoterapia neoadjuvante de curta duração, à semelhança do explorado no estudo NICHE. Nesse estudo, 95% dos pacientes apresentaram resposta patológica maior após apenas um ciclo de ipilimumabe (D1) + nivolumabe (D1 e D15) pré-operatório (3). Por fim, permanece indefinido se os 12 meses de tratamento com atezolizumabe, como adotado no estudo ATOMIC, representam a duração ideal da imunoterapia.
Referências
Destaques em Oncologia Geniturinária: Evidências Emergentes e Novas Perspectivas Terapêuticas.
Por: Milena Shizue Tariki, MD, MsC. Oncologista Clínica do AC Camargo Cancer Center.
Na primeira sessão oral GU da ASCO 2025 houve atualização de 2 estudos já apresentados previamente em 1a linha de carcinoma urotelial (mUC)- o Checkmate 901 e o EV-302.
O estudo Checkmate 901 apresentou dados do braço livre de quimioterapia (ipilimumabe e nivolumabe) na população platina inelegível versus carboplatina e gemcitabina. Nesse estudo, não se atingiu end-point primário de sobrevida global (mediana de 19.1 meses versus 13.2 meses ; HR 0.79 [98.27% CI, 0.61–1.01]; P = 0.0245). No entanto, a duração de resposta foi superior ao braço de quimioterapia. (1)
O estudo EV 302 teve seus dados atualizados com follow-up mediano de 29,1 meses e a combinação de enfortumabe vedotina continua a demonstrar bastante superioridade em taxa de resposta versus quimioterapia a base de doublet de platina (67,5 versus 44,2%). Neste ano foram apresentados dados referentes a população respondedora, especialmente resposta completa (30.4% versus 14.5%). Esta subpopulação não teve sua mediana de sobrevida livre de progressão (SLP) ou sobrevida global atingidas ainda (HR, 0.36; 95% CI, 0.21-0.61;HR, 0.37; 95% CI, 0.17-0.80) e a mediana de ciclos foi de 13. (2)
Ainda no cenário de doença avançada, outro estudo de fase II (Javelin Bladder Medley) apresentou resultados da comparação de avelumabe + sacituzumabe govitecana (SG) versus avelumabe como tratamento de manutenção após doublet platina de 1a linha. Houve benefício em SLP (11.17 meses versus 3,75 meses; HR 0.49 [95% CI, 0.31-0.76]). No entanto, o uso de G-CSF em 48% dos casos tratados com a combinação e a alta taxa de neutropenia G3/4 colocam em dúvida factibilidade dessa associação após uso de doublet de platina. (3)
Dados de biomarcador (ctDNA) do estudo Niagara foram apresentados pelo Dr Thomas Powles. Foram feitas coletas de ctDNA antes do início da neoadjuvancia baseada em Durvalumabe + cisplatina + gemcitabina ou cisplatina + gemcitabina, antes da cistectomia e no 1o ciclo do tratamento adjuvante. A plataforma utilizada foi a da Signatera (Natera, Inc, Austin, TX, USA). A presença de ctDNA esteve associada a pior prognóstico, assim como a não negativação desse biomarcador após neoadjuvancia e o uso de durvalumabe aumentou 10% essa conversão. 97% dos pacientes que persistiram com ctDNA detectável pré-cistectomia não tiveram resposta patológica completa. Durvalumabe aumentou sobrevida livre de eventos na população ctDNA+ e ctDNA- após cistectomia. (4)
A análise final do Checkmate 214 foi apresentada pelo Dr Robert Motzer. Com 9 anos de follow-up mediano, ipilimumabe e nivolumabe reduziram em 29% chance de morte comparado com sunitinibe na população ITT, com 31 e 20% de pacientes vivos em 108 meses, mantendo magnitude de benefício também em duração de resposta. (5)
Um novo inibidor de HIF-2 ∝ foi apresentada pelo Dr Tony Choueiri em combinação a cabozantinibe em pacientes previamente tratados com anti-PD-1/PD-L1 e VEFGR-TKI. A combinação de casdatifan e cabozantinibe proporcionou taxa de resposta objetiva de 41% em 27 pacientes avaliados, com toxicidades mais comuns já esperadas de cada agente (anemia, fadiga). (6)
Na atualização de 5 anos do estudo LITESPARK-004, belzutifan continua a demonstrar altas taxas de resposta em câncer renal não renal em pacientes portadores de mutações/deleções germinativas em VHL. (7)
Referência
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Editor científico: Paulo Cavalcanti
Redatora: Tainah Matos
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