A Dra. Ana Luísa Baccarin explica os detalhes de uma das sequelas mais comuns da quimioterapia, o “Chemo Brain” ou “Nevoeiro Quimioterápico” - Oncologia Brasil

A Dra. Ana Luísa Baccarin explica os detalhes de uma das sequelas mais comuns da quimioterapia, o “Chemo Brain” ou “Nevoeiro Quimioterápico”

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O “chemo brain” ou “nevoeiro quimioterápico” é uma reação muito frequente e geralmente pouco abordada no espectro das sequelas da quimioterapia. Esse quadro caracteriza-se por um déficit cognitivo (principalmente com prejuízo da memória de curto prazo e capacidade de concentração) que costuma ocorrer durante ou após o término do tratamento quimioterápico. Alguns tratamentos causam esse efeito mais frequentemente, como a ciclofosfamida e adriamicina (ambas integrantes da “quimio vermelha”), o paclitaxel e o 5-FU. Por isso, a frequência é muito maior nas pacientes com câncer de mama.

“A hipótese mais plausível para esse quadro é a sobrecarga emocional e física que se inicia com o choque do diagnóstico e se estende por todo o tratamento. Porém, evidências de estudos pré-clínicos, em animais, demonstram que a quimioterapia é capaz de reduzir o metabolismo e o crescimento celular nas áreas cerebrais ligadas ao aprendizado e memória, como o hipocampo. Isso justificaria a ocorrência desse transtorno mesmo nas pacientes que permanecem estáveis emocional e fisicamente durante o tratamento”, afirma a Oncologista Clínica da Oncocenter (São Paulo) e Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (São Paulo), Dra. Ana Luísa Baccarin.

De acordo com ela, o quadro costuma durar em torno de seis meses, podendo chegar a um ano ou mais. “A paciência é necessária para a plena recuperação, pois a resolução não é imediata. O tratamento com medidas não farmacológicas surte muito mais efeito e deve ser priorizado”, ressalta a Dra. A oncologista destaca algumas medidas simples para diminuir o impacto dos efeitos causado pelo tratamento quimioterápico. Veja:

1 – Avaliar se outros transtornos emocionais não estão ocorrendo em conjunto com o chemobrain: ansiedade e depressão são os mais comuns.

2 – Checar se os níveis de vitamina D, vitamina B12 e função tireoidana estão corretos – isso é importantíssimo!

3 – Não se cobre nessa fase! É muito comum um paciente terminar o tratamento e voltar ao trabalho a “todo vapor”, traçando inúmeras metas e querendo produzir ainda mais que antes , para compensar o tempo “perdido” com o tratamento. Isso é uma grande armadilha e pode gerar enorme frustração. Volte a trabalhar, mas volte tranquilo e não queira abraçar grandes desafios nesse momento de recuperação!

4 – Tenha um sono reparador. Não tem meio termo: se o sono estiver ruim, o dia seguinte tenderá a ser pior que o anterior. Nem pense em tomar remédios “tarja preta” pra promover esse sono. Chás, fitoterápicos e a própria melatonina são grandes aliados pra que isso ocorra de forma limpa.

5 – Anote compromissos, faça lembretes de tudo que for necessário na agenda ou no celular. Crie uma rotina de organização em relação a isso.

6 – Faça atividade física todos os dias se possível, principalmente aeróbica: a meta é melhorar oxigenação e vasodilatação cerebral e promover relaxamento e bem estar.

7 – Preste atenção no que você está comendo. Uma dieta inteligente e estratégica, rica em fitoquímicos antioxidantes, pode ser uma poderosa aliada nesse momento. Portanto, passe em um nutricionista, de preferência que trabalhe em conjunto com o seu oncologista.

8 – Evite variações frequentes de rotina. Cada dia fazer uma coisa diferente num horário diferente vai exigir do seu cérebro mais esforço ainda.

9 – Seja resolutivo! Só passe para o próximo problema se o anterior estiver resolvido: o foco é a palavra de ordem. Demore o tempo que for necessário, mas não acumule listas de problemas e desafios diariamente, sendo que um sequer foi riscado da lista.

10 – Sempre que possível, a avaliação por um neuropsicólogo é muito bem vinda. Ele poderá avaliar com mais precisão o grau de comprometimento cognitivo.

11 – Se necessário, a avaliação do psiquiatra poderá ser requisitada. Alguns pacientes podem se beneficiar do uso temporário de psico-estimulantes como a Ritalina e de antidepressivos como a Vortioxetina, que parece melhorar também a capacidade cognitiva no longo prazo. Desque que não haja interação medicamentosa com outros tratamentos oncológicos (o tamoxifeno, por exemplo, interage com vários antidepressivos).

12 – Converse sobre o problema com todos os familiares e amigos próximos. Tentem juntos criar um ambiente social adequado pra esse momento, ou seja, sem cobranças, sem pressão e sem maiores desafios.

13 – Converse com seu oncologista! Ciente do grau de impacto desse transtorno na sua vida, ele com certeza mobilizará todos os esforços pra que você passe por essa fase da forma mais tranquila possível.

Dra. Ana Luísa Baccarin é Médica Oncologista na Clínica da Oncocenter (São Paulo) e Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (São Paulo).

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