Acetato de abiraterona e prednisolona no tratamento do câncer de próstata não metastático de alto risco - Oncologia Brasil

Acetato de abiraterona e prednisolona no tratamento do câncer de próstata não metastático de alto risco

2 min. de leitura

Dois anos de terapia baseada em acetato de abiraterona e prednisolona (AAP) aumentou significativamente a sobrevida e a sobrevida livre de metástase (SLMde pacientes com câncer de próstata não metastático (MOalto risco que iniciaram terapia de privação androgênica (ADT)

Nos últimos anos, o tratamento de pacientes com câncer de próstata vem avançando tanto no cenário do câncer metastático quanto no câncer não metastático. A intensificação do tratamento hormonal com abiraterona e prednisolona (AAP), enzalutamida (ENZ) ou apalutamida até progressão de doença em pacientes metastáticos já demonstrou melhorar o desfecho destes pacientes. Porém, no cenário do câncer de próstata não metastático (M0), a eficácia destas medicações ainda é incerta. Pacientes M0 alto risco atualmente são tratados com terapia de privação androgênica (ADT) e quando indicado, radioterapia (RT). Buscando esclarecer estas dúvidas, uma nova análise dos dados do STAMPEDE foi apresentada por Attard et al durante a ESMO 2021 (Congresso Europeu de Oncologia).  

O STAMPEDE é um estudo de múltiplos braços e estágios, que como parte de duas comparações separadas, randomizou pacientes com câncer de próstata M0 com linfonodo positivo ou linfonodo negativo de alto risco (> 1 T3/4, PSA ≥ 40ng/ml, Gleason 8-10 ou recorrente) 1:1 para ADT (controle) vs ADT + APP (1000mg AA + 4mg P uma vez ao dia); ou ADT vs ADT + AAP + ENZ (160mg uma vez ao dia) por dois anos, à não ser que RT fosse omitida quando o tratamento pudesse continuar até progressão de doença. O desfecho primário do estudo foi a sobrevivência livre de  metástase (SLM). 

A randomização incluiu 1974 pacientes em 113 centros do Reino Unido e Suíça. Destes, 914 pacientes foram randomizados para para ADT +/- AAP (novembro 2011 a janeiro 2014); e 1060 pacientes foram randomizados para ADT +/- AAP + ENZ (março 2016 a julho 2014). Segundo o autor, os grupos foram bem balanceados entre si, sendo a mediana de idade 68 anos, mediana de PSA 34ng/ml, 79% Gleason 8-10, 39% linfonodo positivo e 85% com RT planejada. A mediana de tempo até interrupção do tratamento foi de 23.7 meses (IQR 17.6-24.1) para AAP; 20.7 meses (IQR 4.4-24) para AAP quando utilizado ENZ; e 23.2 meses (IQR 6.3-24) para ENZ. 180 eventos de SLM ocorreram no grupo experimental e 306 no grupo controle. A terapia baseada em AAP aumentou a SLM (HR 0.53, 95% IC 0.44-0.64, p = 2.9×10¹¹) e a sobrevida (HR 0.60, 95% IC 0.48-0.73, p = 9.3×107): SLM em 6 anos de 69% para 82% e sobrevida em 6 anos de 77% para 86%. O efeito do tratamento foi consistente entre os subgrupos mais importantes e entre os períodos de randomização de AAP e AAP+ENZ (SLM HR 0.54, 95% IC 0.43-0.68; HR 0.53, 95% IC 0.39-0.71 respectivamente; HR interação 1.02, 95% IC 0.70-1.50, p= 0.908) 

Como conclusão, os autores afirmam que o uso de 2 anos de terapia baseada em AAP aumentou significativamente a sobrevida e SLM em paciente com câncer de próstata M0 de alto risco que iniciaram ADT, devendo este ser considerado um novo padrão de tratamento.  

 

Referências: 

1) Attard G., et al. Abiraterone acetate plus prednisolone (AAP) with or without enzalutamide (ENZ) added to androgen deprivation therapy (ADT) compared to ADT alone for men with high-risk non-metastatic (M0) prostate cancer (PCa): Combined analysis from two comparisons in the STAMPEDE platform protocol. ESMO 2021, Abstract LBA4.