O anticorpo monoclonal humanizado pembrolizumabe (Keytruda®) teve nova indicação aprovada no Brasil para um grupo mais abrangente de pacientes com câncer de pulmão de células não-pequenas (CPCNP) sem tratamento prévio. O imunoterápico já tinha aprovação no país para o tratamento de melanoma, carcinoma urotelial, câncer gástrico e junção gastroesofágica, linfoma clássico de Hodgkin, cancer renal e CPNPC.
Nesse último caso, para pacientes sem mutações sensibilizantes de EGFR ou translocação de ALK que já haviam progredido após quimioterapias ou terapias-alvo em linha anteriores com expressão de PD-L1 com pontuação de proporção de tumor (PPT) > 1%, em combinação com quimioterapia para pacientes virgens de tratamento independente de expressão de PD-L1, ou em monoterapia para aqueles que apresentassem expressão de PD-L1 com pontuação de proporção de tumor (PPT) ≥ 50%.
A nova aprovação, baseada no estudo KEYNOTE-042 (NCT02220894), expande a indicação para o segundo grupo de pacientes, de forma a abranger qualquer paciente sem tratamento prévio com uma PPT ≥ 1%. O KEYNOTE-042 foi um estudo internacional de fase III que recrutou 1274 pacientes com CPNPC metastático ou localmente avançado e PD-L1 ≥ 1%, sem mutação ativadora de EGFR ou translocação de ALK. Os pacientes foram randomizados para tratamento de primeira linha com pembrolizumabe a 200 mg a cada três semanas, por até trinta e cinco ciclos (n = 637), ou quimioterapia baseada em platina à escolha do pesquisador (n = 637).
Em relação ao endpoint primário de sobrevida global (SG), houve ganho significativo para o grupo tratado com pembrolizumabe em comparação ao que recebeu quimioterapia, independentemente da PPT, com medianas de SG de 20,0 vs. 12,2 meses para o subgrupo de PPT ≥ 50% (hazard ratios [HR]: 0,69; IC 95% 0,56–0,85; p=0,0003), 17,7 vs. 13,0 meses para o de PPT ≥ 20% (HR: 0,77; IC 95% 0,64–0,92; p=0,0020) e 16,7 vs. 12,1 meses para o de PPT ≥ 1%0 (HR: 0,81; IC 95% 0,71–0,93; p=0,0018). Além da maior eficácia, a ocorrência de eventos adversos (EAs) foi menor no grupo que recebeu imunoterapia (18% vs. 41%), sem diferença de mortalidade relacionada ao tratamento entre os dois grupos (2% de óbitos, em ambos os braços).
Na Conferência Mundial de Câncer de Pulmão promovida pela International Association for the Study of Lung Cancer (IASLC), os doutores William William, Diretor de Oncologia da Beneficência Portuguesa São Paulo, Vladmir Lima, Oncologista Torácico do Hospital A. C. Camargo, e Gilberto Castro, Oncologista Torácico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo e do Hospital Sírio Libanês, comentaram o estudo e a nova aprovação.
O Dr. Vladmir, cujo hospital participou do estudo, ressaltou: “Há de se lembrar que mais de 50% da população consistia em pacientes com PPT superior a 50%, mas que, independente do subgrupo de classificação PPT, houve uma redução do risco de morte. Portanto, todos os pacientes se beneficiaram do tratamento”, disse.
O Dr. William lembrou, no entanto, que o estudo fez uma análise exploratória focada no grupo com classificação PPT entre 1 e 49%. “Comparado à quimioterapia, aparentemente não há melhora ou piora na sobrevida para este subgrupo específico. E daí talvez se extraia onde vamos usar isso na prática clínica diária: para pacientes com PD-L1 expresso em 50% ou mais das células, temos duas opções de tratamento, ou seja, pembrolizumabe em monoterapia ou a combinação de quimioterapia e imunoterapia. Essas duas opções de tratamento levam a um aumento na sobrevida global comparadas à quimioterapia isolada”, afirmou.
“É interessante também o achado de que não foram detectados eventos adversos novos. A toxicidade do tratamento é menor. De mensagem, acho que podemos deixar o seguinte: no caso de pacientes para os quais, por algum motivo, você não queira, por uma fragilidade de saúde ou comorbidade, ou não precise por exemplo, por um pequeno volume de doença, receitar a quimioterapia, temos uma boa justificativa para utilizar o pembrolizumabe, mesmo para casos em que a expressão de PD-L1 é baixa”, completou.
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