Associação entre atrasos no tratamento e desfecho desfavorável em pacientes com sarcoma de Ewing localizado   - Oncologia Brasil

Associação entre atrasos no tratamento e desfecho desfavorável em pacientes com sarcoma de Ewing localizado  

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A implementação do tratamento sistêmico intensivo em dose e tempo melhorou os desfechos clínicos em pacientes com o tumor, porém, poucos dados existem quanto ao impacto dos atrasos no tratamento  

 

Durante o Congresso Mundial da ASCO 2021, foi apresentada uma análise retrospectiva referente à associação entre atraso no tratamento e desfecho clínico em pacientes com sarcoma de Ewing localizado que foram recrutados no GPOH Euro-E.W.I.N.G.99 (NCT00020566), um estudo randomizado de fase III que avaliou a eficácia de diferentes regimes de quimioterapia combinados quando administrados com ou sem transplante de células-tronco periféricas, radioterapia e/ou cirurgia no tratamento de pacientes com sarcoma de Ewing. 

Dados de 692 pacientes com tumor de extremidades, pelve, parede torácica e tronco registrados no banco de dados internacional da Sociedade Alemã de Oncologia e Hematologia Pediátrica (GPOH) e tratados no Euro-E.W.I.N.G 99 foram analisados. Todos os pacientes foram submetidos a tratamento cirúrgico após quimioterapia de indução.  

 

Resultados: 

De acordo com o protocolo, os pacientes deveriam receber seis ciclos de quimioterapia de indução VIDE (vincristina, ifosfamidadoxorrubicina e etoposídeo) em intervalos de 21 dias. A duração entre os ciclos de indução conforme protocolo foi cumprida em apenas 5% dos pacientes. Em 72% dos participantes, a duração média do intervalo entre os ciclos de quimioterapia de indução foi de 25 dias. O intervalo médio entre o dia 1 do primeiro ciclo de quimioterapia de indução e a cirurgia definitiva foi de 141 dias em pacientes que receberam seis ciclos de VIDE antes da cirurgia. O valor de corte ideal para análises de sobrevida nesses pacientes foi de 150 dias.  

Pacientes com duração de quimioterapia de indução superior a 150 dias estavam em maior risco de desenvolver um evento (HR 1,546; IC 95% 1,103 – 2,166) e tinham um risco maior de morte (HR 1,574; IC 95% 1,095 – 2,262) em comparação a pacientes com duração de quimioterapia de indução inferior a 150 dias.  

Os pacientes com atrasos durante a quimioterapia de indução também experimentaram atraso significativo entre o VIDE 6 e a cirurgia (36 versus 27 dias, p < 0,001) e foram tratados com maior frequência em centros menores de baixo volume (63% versus 48%, p = 0,005). Pacientes com intervalo prolongado > 21 dias entre a cirurgia e o primeiro dia de quimioterapia pós-operatória estavam em maior risco de desenvolver um evento (HR 1,406; IC de 95% 1,011 – 1,955), e também tiveram uma taxa significativamente maior de complicações pós-operatórias (26% versus 11%, p < 0,001), em comparação aos pacientes com intervalo mais curto. 

Os autores concluem que os atrasos entre a quimioterapia de indução e a cirurgia, assim como entre a cirurgia e a quimioterapia de consolidação, estão independentemente associados a um desfecho desfavorável em pacientes com sarcoma de Ewing localizado. Ademais, os resultados ressaltam a necessidade e a importância de tratar pacientes com essa patologia em centros maiores e experientes. A implementação de métodos novos e padronizados na estratégia operatória e cuidados de suporte otimizados durante a terapia sistêmica são necessários para reduzir a morbidade perioperatória e atrasos no tratamento. 

Referências:  

  1. Dirksen U, et alAssociation of treatment delays with an unfavorable outcome in patients with localized Ewing sarcoma: A retrospective analysis of data from the GPOH Euro-E.W.I.N.G.99 trialClin Oncol 39, 2021 (suppl 15; abstr 11502). DOI:10.1200/JCO.2021.39.15_suppl.11502.