Atualização em terapia nutricional na assistência ao paciente com câncer gastrointestinal - Oncologia Brasil

Atualização em terapia nutricional na assistência ao paciente com câncer gastrointestinal

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 A desnutrição é altamente prevalente no cenário oncológico, apresentando forte impacto negativo no desfecho clínico dos pacientes. Confira dois estudos focados, especificamente, na abordagem de nutrição em indivíduos com tumores gastrointestinais 

 

Durante o Congresso Mundial da ASCO 2021, foram apresentados dois trabalhos relacionados à importância do planejamento e da terapia nutricionais no manejo de tumores do trato gastrointestinal. 

O primeiro abordou a viabilidade de um algoritmo de gerenciamento nutricional baseado em risco para pacientes geriátricos com câncer de esôfago submetidos à quimiorradiação (QTRT). 

Indivíduos idosos (idade ≥ 65 anos), com câncer de esôfago ou transição esofagogástrica (TEG) localmente avançado, recebendo quimioterapia de indução e QTRT pré-operatória ou definitiva, foram elegíveis. A avaliação inicial foi realizada por meio da escala de triagem Mini Avaliação Nutricional (MNA). 

Aqueles que estavam em risco nutricional ou desnutridos foram encaminhados ao nutricionista para avaliação e aconselhamento. O estado nutricional foi reavaliado após a quimioterapia de indução e os pacientes com desnutrição grave foram encaminhados para colocação de sonda enteral antes da QTRT.  

O objetivo principal foi determinar a viabilidade do algoritmo, com base em parâmetros observados durante as avaliações, incluindo IMC, circunferência do braço, contagem de linfócitos e marcadores séricos de proteínas, como a albumina, entre outros, como a necessidade de nutrição enteral. Os desfechos secundários incluíram toxicidade, capacidade funcional e avaliação da qualidade de vida. 

 

Resultados: 

Vinte pacientes idosos com câncer de esôfago localmente avançado foram inscritos e 14 preencheram os critérios para encaminhamento ao nutricionista. A quimioterapia de indução foi associada à melhora da disfagia, com 92% dos pacientes relatando melhora ou resolução dos sintomas. Não houve pacientes que preencheram os critérios para alimentação enteral antes da QTRT, com base nas diretrizes, e apenas um paciente (5%) exigiu a colocação de sonda de alimentação durante a QTRT.  

No total, 17 pacientes (85%) concluíram o algoritmo de gerenciamento nutricional e finalizaram o curso de tratamento planejado. As taxas de hospitalização, esofagite de grau ≥ 2, toxicidade de grau ≥ 3 e descontinuação precoce da QTRT foram semelhantes entre os pacientes com nutrição normal e anormal. 

Os autores concluem que um algoritmo de gerenciamento nutricional baseado em risco é viável em pacientes idosos com câncer de esôfago. A abordagem da quimioterapia de indução pode melhorar a disfagia, reduzir a necessidade de alimentação enteral e facilitar a conclusão da QTRT nesta população nutricionalmente vulnerável.  

  

A importância do peso pré-operatório nos desfechos cirúrgicos 

 

Outro importante estudo apresentado durante o congresso avaliou o efeito do peso pré-operatório e da albumina nas complicações pós-operatórias, em grupo contemporâneo de veteranos norte-americanos com câncer colorretal (CCR). 

Trata-se de revisão retrospectiva de 105 pacientes tratados com cirurgia de intenção curativa, no VA Ann Arbor Healthcare System, entre janeiro de 2015 e janeiro de 2020. Indivíduos com doença metastática à distância, terapia neoadjuvante, histologia não adenocarcinoma ou aqueles que recebem a maioria dos cuidados fora do VA foram excluídos. Foram examinadas as tendências de índice de massa corpórea (IMC), desde um ano antes a um ano após a cirurgia, bem como as taxas de consultas nutricionais e complicações pós-operatórias, definidas como desenvolvimentos clínicos anormais (infecção e cicatrização tardia). 

 

Resultados: 

No momento do diagnóstico do CCR, a média de idade era 70,3 e a média do estadiamento era T2N0. As ressecções cirúrgicas foram 65% (n = 68) laparoscópicas. Perda de peso pré-operatória, de seis meses antes do diagnóstico até o momento da cirurgia, foi observada na maioria dos pacientes (n = 47, 64%). Perda de peso significativa, definida como ≥ 3% de redução de peso, foi observada em 45% (n = 33) dos participantes.  

Um quarto dos participantes apresentava albumina pré-operatória baixa de menos de 3,5 (n = 25, 25%). Perda de peso significativa e albumina pré-operatória baixa foram, cada uma, independentemente associada ao aumento de complicações pós-operatórias (p < 0,01). A perda de peso pós-operatória foi observada em 81% (n = 73) e 69% (n = 48) dos pacientes, aos 30 e 60 dias após a ressecção, respectivamente, e não foi associada a complicações pós-operatórias.  

A consulta nutricional pós-operatória hospitalar foi realizada em 96% (n = 101) dos pacientes. Suplementos nutricionais foram recomendados em apenas 23% (n = 23) dos casos. Em situações de perda de peso significativa, a avaliação nutricional pré-operatória foi realizada em 15% (n = 5) dos pacientes e o acompanhamento nutricional ambulatorial pós-operatório ocorreu em 18% (n = 6) dos casos. 

Os autores concluem que 45% dos pacientes tiveram perda de peso ≥ 3% nos seis meses anteriores ao diagnóstico de CCR e 25% tinham níveis baixos de albumina. Esses fatores levaram a maiores complicações pós-operatórias. Segundo os pesquisadores, um programa intensivo de pré-habilitação nutricional para lidar com a perda de peso e o baixo teor de albumina, antes da cirurgia para CCR, é necessário e pode reduzir as complicações associadas.  

 

Referências:  

  1. Moy RH, et al. A nutritional management algorithm in older patients with locally advanced esophageal cancer. Clin Oncol 39, 2021 (suppl 15;  abstr e16038). DOI:10.1200/JCO.2021.39.15_suppl.e16038. 
  1. Mitbander U, et al. Nutritional status and outcomes of veterans undergoing curative surgery for colorectal cancer. J Clin Oncol 39, 2021 (suppl 15;  abstr e18585). DOI:10.1200/JCO.2021.39.15_suppl.e18585.  

 

 

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