Dra. Debora Gagliato, Oncologista Clínica da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, discute neste podcast sobre os principais avanços no manejo do câncer de mama metastático HER2+
Este subtipo específico de câncer de mama é caracterizado pela superexpressão ou amplificação do receptor transmembrana HER2, que uma vez dimerizado com outros parceiros, principalmente HER3, ativa uma série de vias de sinalização intracelulares que levam a proliferação, crescimento, divisão, síntese proteica e motilidade da célula; gerando um fenótipo muito agressivo. Este costumava ser o fenótipo mais agressivo do câncer de mama, no entanto, hoje, em 2021, no contexto de doença metastática, é o subtipo do câncer de mama com melhor prognóstico.
A especialista comenta, inicialmente, sobre o trastuzumabe, o primeiro anticorpo anti-HER2+ a ser desenvolvido e aprovado para uso clínico. Ela destaca particularidades sobre seu mecanismo de ação, ressaltando que, em algumas pacientes, é possível que o mesmo o uso trastuzumabe isolado possa resultar um ótimo prognóstico, com longos períodos de sobrevida livre de progressão (SLP).
Neste sentido, o estudo pivotal de 2001, demonstrou que o acréscimo do trastuzumabe à quimioterapia citotóxica leva a melhoras substanciais na SLP e sobrevida global (SG) de pacientes com câncer de mama HER2+ avançado. Em 2012, o estudo CLEOPATRA, avaliou a adição do pertuzumabe ao esquema anterior de quimioterapia e trastuzumabe. Este foi um estudo primariamente com pacientes com doença metastática de novo e que a maioria dos pacientes não havia recebido terapias anti-HER2 anteriormente. O estudo também excluiu mulheres com câncer de mama e metástase no SNC. O acréscimo do pertuzumabe levou a ganhos importantes da taxa de resposta objetiva, chegando a 80% de resposta no grupo do duplo bloqueio, além de um importante ganho de aproximadamente 6 meses na SLP, e um substancial ganho na SG com um acréscimo de 16 meses. Na apresentação final do estudo CLEOPATRA, em torno de 37% dos pacientes estavam vivos com 8 anos de acompanhamento, e aproximadamente 20% dos pacientes estavam livres de progressão. Dra. Débora comenta que estes dados sugerem que uma parcela de pacientes poderia estar curada com o uso do duplo bloqueio de HER2 associado a quimioterapia.
O regime CLEOPATRA, que é o padrão ouro de tratamento em primeira linha para câncer de mama HER2+ avançado, utiliza o duplo bloqueio de HER2 em combinação com o docetaxel, um taxano que leva a muitos efeitos adversos indesejáveis. Neste sentido, o estudo PERUSE, avaliou o uso de outros taxanos, como o paclitaxel ou nab-paclitaxel, em conjunto com trastuzumabe e pertuzumabe. Com um seguimento mediano de 69 meses, este estudo não mostrou uma diferença em termos de SLP, SG ou taxa de resposta no uso de qualquer taxano. Sendo assim, é possível utilizar outro taxanos, com um melhor perfil de tolerabilidade, sem perdas na eficácia do tratamento.
O regime EMILIA obteve bastante destaque no cenário de segunda linha. Este foi um estudo em que pacientes com câncer de mama HER2+ pós-progressão a taxano e trastuzumabe foram randomizados para lapatinibe mais capecitabina ou T-DM1. T-DM1 foi associado a um substancial ganho tanto em SLP, taxa de resposta e SG em relação ao braço controle. Este estudo levou T-DM1 a ser o padrão de tratamento em segunda linha para este grupo de pacientes. No entanto, o estudo não contemplou pacientes previamente expostos a pertuzumabe, então não se sabia se este regime teria eficácia nestes pacientes que já haviam utilizado esta droga.
Entretanto, recentemente, o estudo DESTINY-Breast 03, um estudo muito importante, recrutou pacientes com câncer de mama HER2+ avançado previamente tratados com trastuzumabe e taxano, e randomizou para T-DXd ou T-DM1. Este estudo demonstrou ganhos substanciais em termos de SLP a favor do uso de T-DXd. T-DXd reduziu o risco de progressão em mais de 70%, em comparação com T-DM1. O regime também foi associado a uma taxa de resposta objetiva de 80%, e taxa de resposta completa de 16%.
A especialista conclui que, no manejo do câncer de mama HER2+ avançado, é sempre importante manter a via do HER2 bloqueada, porque sabemos que essa via é um driver importante na carcinogênese, evolução e agressividade deste tumor.
No podcast, Dra. Débora faz uma interessante análise da linha do tempo da evolução dos tratamentos para pacientes com câncer de mama HER2+ avançado. Vale a pena ouvir e conferir o conteúdo completo!
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