Benefícios do ixazomibe no tratamento do mieloma múltiplo recaído ou refratário - Oncologia Brasil

Benefícios do ixazomibe no tratamento do mieloma múltiplo recaído ou refratário

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Neste vídeo, Dr. Paulo Quaresma, médico Hematologista no Hospital da Força Aérea do Galeão e Grupo Americas do RJ, fala sobre tratamento de segunda linha com inibidores de proteassoma em pacientes com mieloma múltiplo recaído ou refratário 

O mieloma múltiplo (MM) é uma doença do idoso. Os pacientes apresentam idade média de 69 anos ao diagnóstico, e apesar dos avanços no tratamento, a doença permanece incurável. Dentre as novas classes de novos fármacos que surgiram nos últimos 6 anos, os inibidores de proteassoma assumem grande importância, sendo ixazomibe o único inibidor de proteassoma oral aprovado para tratamento do mieloma múltiplo recaído ou refratário a 1-3 linhas de tratamento. 

A aprovação do ixazomibe se deu a partir do estudo TOURMALINE-MM1, randomizado, fase 3, duplo cego e controlado por placebo. Neste estudo, os pacientes foram randomizados para receberem a combinação de ixazomibe, lenalidomida e dexametasona (IRD), ou placebo, lenalidomida e dexametasona. O grupo do ixazomibe apresentou um benefício na sobrevida livre de progressão, e apresentou redução do risco de progressão ou morte de 26%, com baixa toxicidade. 

Dr. Paulo ainda traz neste vídeo um caso clínico de vida real: uma paciente típica que chega no consultório com suspeita de MM. Trata-se de uma paciente de 84 anos, viúva, dona de casa, diabética, com hipertensão arterial e obesidade. A paciente foi encaminhada ao serviço em dezembro de 2016 em virtude de uma anemia diagnosticada pelo ginecologista, na qual queixava-se de artralgia no joelho direito. Após a realização de exames laboratoriais, foi evidenciado anemia, com hemoglobina de 9.8 g/dL, hematócrito de 30.1%, VCM 95, RDW 14.5%, leucócitos de 4750 e 177 mil plaquetas. Adicionalmente, foram considerados normais a função renal, bioquímica e cálcio. Para investigação de diagnósticos diferenciais foram feitas sorologias para HIV, Hepatite B, CMV, toxoplasmose e VDRL, além de FAN e dosagem do fator reumatoide. Todos os exames com resultados negativos.  

No exame complementar, para a suspeita de MM, os resultados mostraram componentes monoclonais kappa sérico e na urina. Além disso, foi evidenciado um freelite aumentado com 21.3, assim como a beta 2 microglobulina de 5.6. A biópsia de medula óssea demonstrou um aumento de plasmócitos, sendo 15% de plasmócitos CD 138+ e restrição de cadeia kappa, confirmando o diagnóstico de MM. Já na TC de corpo inteiro foram verificadas lesões líticas de permeio no crânio, configurando padrão de sacabocado, notadamente na região frontal bilateralmente. 

Dessa forma, a paciente foi diagnosticada com MM de cadeia leve kappa, ISS III, DS II, sendo submetida a 6 ciclos de VCD (bortezomibe- ciclofosfamida-dexametasona). Visto que ela apresentou intolerância gastrointestinal associada ao tratamento, foi necessária redução da dose do bortezomibe. Ainda assim, em outubro de 2017, conseguiu-se constatar uma resposta completa, com freelite de relação kappa/lambda. Foi optado para o tratamento nesta fase, e a paciente seguiu em observação. 

Durante o acompanhamento do caso, em abril de 2019 constatou-se uma progressão bioquímica da doença com relação kappa/lambda de 9,8. Contudo, com a paciente se apresentando assintomática, optou-se por uma conduta expectante. Já em fevereiro de 2020, foi evidenciado um aumento bastante significativo da relação kappa/lambda para 180,4. Dessa forma, iniciou-se o tratamento de segunda linha com IRD.  

Embora a dose de lenalidomida tenha sido reduzida (15mg), a paciente apresentou cãibras musculares – por esse motivo a dose passou para 10 mg. Após o primeiro ciclo, a relação kappa/lambda apresentou redução bastante significativa, caindo para 9,8. Vale ressaltar que a paciente apresentou um quadro estável durante todo o tratamento. 

No vídeo o Dr. Paulo conclui com o caso apresentado, que esquemas de tratamento que incluem um inibidor de proteassoma, como o ixazomibe, podem apresentar uma resposta rápida, eficiente e com baixa toxicidade em pacientes com mieloma múltiplo refratário. Além disso, por se tratar de um esquema oral, a adesão ao tratamento é facilitada, um fato importante, principalmente ao considerar pacientes idosos que apresentam dificuldades de locomoção para o centro de infusão.  

   

Referências: 

Richardson PG, et al., Final Overall Survival Analysis of the TOURMALINE-MM1 Phase III Trial of Ixazomib, Lenalidomide, and Dexamethasone in Patients With Relapsed or Refractory Multiple Myeloma. J Clin Oncol. 2021 Aug 1;39(22):2430-2442. doi: 10.1200/JCO.21.00972. Epub 2021 Jun 11. PMID: 34111952.