A dor oncológica do tipo breakthrough (BTcP), é uma condição que afeta até 95% dos pacientes com doença oncológica avançada, impactando negativamente a qualidade de vida destes pacientes, e até recentemente, não havia tratamento efetivo para esta condição.
A dor oncológica do tipo breakthrough (breakthrough cancer pain [BTcP], também conhecida como dor irruptiva oncológica ou episódica) é definida como uma exacerbação transitória da dor, que ocorre em um cenário de dor persistente/crônica e controlada. Esta exacerbação transitória da dor é produzida espontaneamente ou em relação a um gatilho específico, e pode ser previsível ou imprevisível, apesar da dor crônica apresentar um controle relativamente adequado e estável.
Em pacientes oncológicos é muito comum a presença de dor persistente/crônica, que geralmente requer o uso de diversos analgésicos para controle. Nestes pacientes, a prevalência de BTcP varia dependendo do cenário clínico e dos diferentes critérios de diagnóstico, podendo ser de 50-70% em pacientes em tratamento oncológico ativo, e de 70-95% em pacientes com doenças oncológicas avançadas. De acordo com estudos, a BTcP pode ocorrer com maior frequência em pacientes com tumor gastrointestinal, urogenital, pulmão, mama, pâncreas, cabeça e pescoço, colorretal, mieloma múltiplo e próstata.
Pacientes com câncer que apresentam BTcP geralmente experienciam mais depressão e ansiedade, além prejuízos substanciais no funcionamento físico e social, quando comparado com pacientes com câncer que não apresentam BTcP. Devido a isso, a BTcP afeta negativamente a qualidade de vida destes pacientes. Desta forma, o manejo e controle eficaz da BTcP tem o potencial de melhorar a qualidade vida e diversos aspectos físicos, sociais e psicológicos em pacientes oncológicos que sofrem desta condição.
A BTcP geralmente tem uma duração aproximada de 30 minutos, sendo que seu pico ocorre em aproximadamente 3 minutos, podendo os pacientes experienciar uma média de 1 a 4 episódios diários. A estratégia de tratamento atual para o gerenciamento de pacientes oncológicos com dor crônica e BTcP é muitas vezes um regime de opioides, com horário fixo e regular, para controlar a dor persistente, em conjunto com um opioide de ação rápida administrado por via oral como suplemento (rescue medication), tomado conforme necessário. Estes protocolos de tratamento, por muitas vezes, não fornecem um alívio eficaz da dor para os pacientes com BTcP. Isso pode ser explicado pelas características típicas deste tipo de dor, particularmente pelo fato de que a dor atinge um pico em poucos minutos, enquanto o início da analgesia dos opioides orais de ação rápida tradicionais pode levar de 30 a 60 minutos – sugerindo, então, que a responsividade a estes medicamentos orais pode ser inferior ao ideal, devido ao início da analgesia ocorrer após o pico de intensidade da dor alvo.
Figura 1. Características da dor oncológica do tipo Breakthrough (BTcP). Os picos representam os episódios de BTcP que não são controlados pela medicação para a dor basal. Adaptado de: Bennett, et al. 2005.
Diante deste cenário, o tratamento com um opioide de ação rápida não evita as consequências adversas da BTcP na maioria dos pacientes oncológicos. Assim, a partir da necessidade de uma medicação com ação imediata, curta duração adequada (que acompanhe a duração do episódio de BTcP), e com eficácia considerável, foi desenvolvido o citrato de fentanila transmucoso para o tratamento da BTcP. Este medicamento foi aprovado para pacientes oncológicos adultos que estejam em tratamento crônico ou que desenvolveram tolerância à terapia opioide utilizada no tratamento da dor crônica/persistente. Dentre suas características, está a via de administração transmucosal, que permite uma fácil utilização pelo paciente e entrega imediata do componente para corrente sanguínea, com rápida farmacocinética – rápida absorção e mecanismo de ação, com tempo de meia vida curto.
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