Diretamente do ASCO 2025, a Dra. Camila Yamada☨, compartilha os dados finais do estudo CATNON – um dos destaques mais importantes da sessão oral de tumores do sistema nervoso central, e que impacta diretamente a prática clínica no manejo dos gliomas anaplásicos não co-deletados.
☨ Oncologista Clínica, Líder da Neuro-Oncologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Presidente SNOLA 2025-2027, Coordenadora do Comitê Técnico Científico dos Tumores de SNC da SBOC e Chair LACOG Neuro-oncology.
O CATNON trial é um estudo fase III com desenho fatorial 2×2 que randomizou 751 pacientes adultos com glioma anaplásico recém-diagnosticado e sem co-deleção 1p/19q para quatro estratégias terapêuticas diferentes: radioterapia (RT) isolada; RT com temozolomida concomitante (TMZconc); RT seguida por 12 ciclos de temozolomida adjuvante (TMZadj); ou RT com TMZconc e TMZadj. Análises interinas publicadas em 2017 e 2019 já haviam demonstrado o benefício da adjTMZ na sobrevida global (SG) de pacientes com mutação da isocitrato desidrogenase 1 e 2 (IDH), no entanto, não havia sido observado benefício da TMZconc, independentemente do status de mutação de IDH.
A análise final apresentada no ASCO 2025 reafirma que o principal determinante prognóstico é o status mutacional do IDH: pacientes com tumores IDH selvagem (IDHwt) apresentaram SG mediana de apenas 1,7 anos, enquanto aqueles com mutação em IDH (IDHmt) alcançaram 8,5 anos. O benefício para temozolomida (TMZ) foi limitado a pacientes com tumores IDHmt: após quase 11 anos de acompanhamento, 45% desses pacientes ainda estavam vivos.
O impacto da TMZ foi claro: a adjuvância com TMZ aumentou significativamente a SG em pacientes com tumores IDHmt, com mediana de 12,5 anos para aqueles que receberam RT seguida de TMZadj, comparado a 8 anos sem o tratamento adjuvante. A razão de risco (HR) para TMZadj foi de 0,54 (IC 95% 0,42–0,69; p < 0,0001), confirmando o benefício substancial. Já o uso de TMZ concomitante à RT não trouxe ganho estatisticamente significativo, nem mesmo quando combinado com a adjuvância (HR 0,92; p = 0,69).
Além disso, foram apresentados dados exploratórios sobre marcadores moleculares. Alterações como amplificação de PDGFR e CDK4, deleção homozigótica de CDKN2A/B e subtipos de metilação mostraram associação com pior prognóstico, mas nenhum deles demonstrou valor preditivo de resposta à TMZ, o que reforça que tais alterações não devem guiar a decisão de uso da quimioterapia adjuvante.
O estudo consolida que o tratamento padrão para pacientes com glioma anaplásico IDH mutado não co-deletado deve ser radioterapia seguida de 12 ciclos de temozolomida adjuvante. Essa combinação proporciona um ganho significativo de sobrevida e permanece como a melhor estratégia baseada em evidência robusta, agora sustentada por mais de uma década de acompanhamento.
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Redatora: Tainah Matos
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