Neste estudo discutido/apresentado no ASH 2024, os autores utilizaram dados de um banco de dados prospectivo e validado (MDS NHS) para demonstrar que a citopenia clonal de significado indeterminada e síndromes mielodisplásicas de baixo risco são entidades clínicas significativas distintas.
A Citopenia Clonal de Significado Indeterminado (em inglês, clonal cytopenia of undetermined significance – CCUS) é uma entidade clínica recentemente descrita que não atende aos critérios diagnósticos para síndromes/neoplasias mielodisplásicas (MDS) mas apresenta risco significativo de progressão para neoplasia mieloide (MN), com uma incidência cumulativa de 2 anos variando entre 2,8% e 12,6%. A principal diferença entre CCUS e MDS de baixo risco (LR-MDS) é a presença de displasia patologicamente definida em mais de 10% de qualquer linhagem celular. Enquanto alguns estudos sugerem que CCUS e LR-MDS representam uma única entidade clínica, ainda faltam avaliações patológicas abrangentes, prospectivas e multicamadas, comparando os dois casos.
No presente estudo, os autores utilizaram um banco de dados prospectivo e rigorosamente validado do National MDS Natural History Study (MDS NHS). A patologia foi revisada, centralmente por hematopatologistas especialistas, e, caso houvesse discordância com a revisão local, um terceiro especialista adjudicava o diagnóstico final. Características basais foram comparados usando testes exatos de Fisher. Para os casos de CCUS, foram calculados o escore de risco de hematopoiese clonal (CHRS) e o escore de risco de citopenia clonal (CCRS), para estratificar pacientes em categorias de risco baixo, intermediário e alto. Sobrevida livre de progressão (PFS) e sobrevida global (OS) foram comparados entre categorias de risco, ajustando-se para riscos concorrentes. Os achados foram validados em uma corte independente do Moffitt Cancer Center.
A análise primária incluiu 258 pacientes com CCUS confirmada e 274 com LR-MDS, provenientes do MDS NHS (junho de 2016 a fevereiro 2024). As características demográficas, como idade, sexo e raça, foram semelhantes entre os grupos (p <0,05). Pacientes com CCUS apresentaram níveis significativamente mais altos. De hemoglobina (11,9 vs. 10,5 g/dL, p<0,001) e ANC (2,8 vs. 2,0 × 109/L, p<0,01) em comparação com LR-MDS, enquanto as contagens plaquetas foram semelhantes (137 vs. 138 × 109/L, p=0,99). A duração mediana de seguimento foi de 2 anos e as taxas de OS e PFS em 2 anos foram significativamente melhores nos grupos CCUS (OS: 85% vs. 72%; PFS: 95% vs.83%, ambos p<0,01). Esses dados sugerem que CCUS e LR-MDS são entidades clinicamente distintas.
O CCRS estratificou pacientes com CCUS em grupos de risco com desfechos clínicos diferentes. O risco cumulativo de progressão para MN em 2 anos aumento de 3,3% (risco baixo) para 5,9% (intermediário) e 14% (alto). Pacientes CCUS de risco baixo/intermediário apresentaram o melhor PFS e OS em comparação ao LR-MDS, enquanto aqueles de alto risco exibiram PFS e OS semelhantes ao LR-MDS. Na análise independente de validação, com 106 pacientes com CCUS e 3217 com LR-MDS, os achados corroborando as diferenças entre CCUS e LR-MDS. O CCRS identificou um subgrupo de alto risco entre os pacientes com CCUS, com risco de progressão significativamente maior, mas com OS semelhantes ao LR-MDS. A análise de uma coorte independente estabeleceu CCUS como uma entidade clínica distinta. Entretanto, CCUS de alto risco apresentou características clínicas semelhantes às de LR-MDS. Esses resultados, replicados em 2 coortes independentes, sugerem que CCUS de alto risco deve ser considerada em ensaios clínicos para LR-MDS.
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