Apesar dos inúmeros avanços científicos e terapêuticos para câncer de mama, quimioterapia ainda se mostra como principal recurso terapêutico para o subtipo triplo negativo. Apesar do benefício de sobrevida com o emprego da quimioterapia, recidiva da doença ainda é um evento comum dentro da prática médica mesmo que sob resposta inicial favorável.
Na doença triplo negativa, linfócitos frequentemente são encontrados no microambiente tumoral e, com base nesse racional biológico, questiona-se o emprego de inibidores de checkpoint imune em combinação com quimioterapia para potencializar a resposta imune antitumoral. Em cenário terapêutico já se comprovou sua importância, pois a associação de atezolizumabe com nab-paclitaxel é um esquema atualmente aprovado pela FDA e Agência Europeia de Medicamentos em doença localmente avançada ou metastática para este subtipo de câncer de mama. No entanto, em outros cenários o seu benefício ainda é desconhecido.
Para avaliação do papel deste imunoterápico especificamente na neoadjuvância, foi apresentado hoje no San Antonio Breast Cancer Symposium 2019 o estudo NeoTRIPaPDL1 em que foram recrutadas 280 pacientes do sexo feminino com câncer de mama triplo negativo e idade igual ou superior a 18 anos, com doença localizada de alto risco ou localmente avançada ou inflamatória, e as mesmas foram randomizadas para receber quimioterapia neoadjuvante com carboplatina AUC 2 e nab-paclitaxel de 125mg/m2 no 1ª e 8ª dia com ou sem atezolizumabe de 1200mg/m2 no 1ª dia. Cada ciclo correspondia a um intervalo de 21 dias e as pacientes eram expostas por 8 ciclos seguido de cirurgia e, após, 4 ciclos de um regime de antraciclina por escolha do investigador.
O objetivo primário do estudo, que ainda segue em curso, é determinar a taxa de sobrevida livre de eventos em 5 anos e como objetivo secundário taxa de resposta patológica completa cumprindo um papel substitutivo de desfechos a longo prazo.
Os autores apresentaram os dados correspondentes às taxas de resposta patológica completa e obtiveram como resultado que o acréscimo de atezolizumabe para quimioterapia neoadjuvante por cerca de 6 meses resultaram em taxas discretamente maiores quando comparadas ás taxas do grupo de quimioterapia exclusiva: 43,5% vs 40,8% respectivamente, porém não estatisticamente significativo. Mesmo para subpopulação de PD-L1 positivo também não foi observado significância estatística: 51,9% vs 48%, respectivamente.
Para a impressão dos autores, os resultados apontam para ausência de benefício terapêutico quanto ao acréscimo de atezolizumabe no cenário neoadjuvante agregado a quimioterapia, porém não se descarta que algum benefício ainda pode ser observado a longo prazo. Resposta patológica completa não fornece informações sobre a qualidade da resposta e por essa lógica a mesma não foi elegida como objetivo primário neste estudo. Por outro lado, as toxicidades com a adição de atezolizumabe foram aceitáveis para a maioria das pacientes recrutadas com 8% de eventos adversos imunomediados de algum grau sendo a sua maioria constituída por reações infusionais (incidência de 1,4% para toxicidade grau 3 ou mais).
Amostras biológicas para análises exploratórias como infiltração linfocitária, mutações de DNA e DNA tumoral circulante serão ainda avaliadas e, por fim, aguardamos os resultados finais deste estudo quanto ao impacto desta neoadjuvância após cirurgia.
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