Revisão publicada recentemente na CJON-Clinical Journal of Oncology Nursing conscientiza sobre a complexidade de tratamento e acolhimento dos pacientes oncológicos LGBTQIA+
Existem poucos estudos acerca da população LGBTQIA+ e o câncer, principalmente pelo fato de que as pesquisas não se atentam a questões como orientação sexual e identidade de gênero. No entanto, segundo a American Cancer Society, 17 milhões de americanos vivem com histórico de câncer e cerca de 5,6% da população se identifica como LGBTQIA+. Isto representa um número alto de pessoas que não estão sendo reconhecidas e cuidadas de acordo com suas especificidades e disparidades.
Essas disparidades em saúde, são percebidas, por exemplo, em maiores índices de uso de tabaco, álcool e obesidade nesses indivíduos. Além disso, neles são maiores as taxas de incidência, mortalidade e diagnóstico tardio de câncer colorretal, de útero, pulmão e próstata. Todos estes fatos estão relacionados ao estigma social sofrido por estes indivíduos, gerando receio para buscar um atendimento, que muitas das vezes, possui uma abordagem incorreta e discriminatória.
Para conseguir atender melhor esse grupo, o primeiro passo é criar um ambiente acolhedor que suprima o máximo possível a sensação de vulnerabilidade experimentada pelo paciente. Isso pode ser alcançado por meio de exibição em destaque de políticas de não discriminação e recursos educacionais relacionados ao câncer, adaptação de formulários e instalações com termos de gênero neutros e políticas de visitação para parceiros e familiares escolhidos.
Também se faz necessário o preparo do profissional de saúde para que ele entenda termos básicos. Por exemplo, orientação sexual que é definido pela APA – American Psychological Association – como a atração por outras pessoas; identidade de gênero, relacionado como um conceito íntimo de si como feminino, masculinos, ambos ou nenhum; expressão de gênero, entendida como aparência externa a identidade de gênero, expressa por comportamento e estética pessoal.
Além disso, é também de suma importância, para uma abordagem mais humanizada, a coleta de dados sobre orientação sexual e identidade de gênero, de forma discreta e confidencial. Tornando a coleta desses dados um hábito na anamnese é possível entender os riscos e fatores psicossociais de cada paciente, além de favorecer um diálogo mais aberto e triagem oncológica mais acertada. A partir dos dados de autoidentificação a equipe de saúde poderá utilizar uma linguagem inclusiva, com uso apropriado de pronomes. Outros exemplos de linguagem inclusiva que podem ser usados é a substituição de termos como “homossexual” e “sexo feminino ou masculino de nascimento” por “gay ou lésbica” e “sexo feminino ou masculino atribuído ao nascer”.
No âmbito oncológico, os cuidados com o grupo LGBTQIA+ apresentam uma complexidade maior, demonstrada pela dor ou impossibilidade no sexo receptivo com homens devido a complicações intestinais em tratamentos radioterápicos de câncer de próstata e anal. Já o câncer de mama e próstata podem ter triagem diferente para pessoas trans que passaram por cirurgias de afirmação de sexo com retenção de órgãos reprodutivos, além de efeitos colaterais de diversos tipos de quimioterapias que levam à disfunção erétil e possuem implicações diferentes para homens gays e bissexuais.
Dessa forma, fica clara a complexidade de tratamento e acolhimento dos pacientes oncológicos LGBTQIA+, não só pelos fatores estressores sofridos por esse grupo como também pelo despreparo das equipes de saúde. Assim, as recomendações desse estudo são relevantes para melhorar a qualidade do tratamento desses pacientes e consequentemente, melhorar sua qualidade de vida.
Referências:
Rogers T. G, et al. Care Considerations for the LGBTQ+ Patient With Cancer. Clinical Journal of Oncology Nursing . February 2022, VOL. 26, NO. 1 . doi : 10.1188/22.CJON.104-108.
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