Dr. Jacques Tabacof, onco-hematologista do Grupo Oncoclínicas (SP), destaca os dados atualizados de segurança e eficácia relativos ao escalonamento de dose de odronextamabe (REGN1979) em pacientes com linfoma não Hodgkin de células B altamente refratários. O trabalho foi apresentado na Sessão Oral de Linfomas durante o 62º Congresso Anual da ASH.
De acordo com o médico, o odronextamabe é um novo anticorpo biespecífico CD3 x CD20 que, ligado simultaneamente ao CD3 do linfócito T e CD20 da célula neoplásica, ativa este linfócito T e destrói a célula neoplásica CD 20 positiva. Outro trabalho divulgado no mesmo evento em 2019 e mais quatro estudos apresentados na sessão oral deste ano reforçam a importância dessa classe de medicamentos.
Odronextamabe foi estudado na fase 1 e administrado segundo um esquema de escalonamento de dose para identificar a dose máxima tolerada e dose para ser administrada no estudo de fase 2. Para minimizar o risco de síndrome de liberação de citocinas (SLC), que é um dos grandes problemas encontrados nesse tipo de anticorpos bi-específicos, foi usada a estratégia de associação de dexametasona como pré-medicação. Além disso, os investigadores dividiram as primeiras duas doses que são semanais em dois dias (ou seja, a 1ª semana em 2 dias e a 2ª semana também em 2 dias). A partir da 3ª semana, apenas em 1 dia.
Os objetivos principais foram segurança e toxicidades limitantes de dose (TLDs), estabelecer uma dose máxima tolerada (DMT) e identificar o regime de dosagem recomendado. Os objetivos secundários incluíram uma avaliação preliminar da atividade antitumoral.
Foram recrutados 136 pacientes com linfomas de células B recidivado/refratários CD20 positivos pesadamente pré-tratados. Setenta e oito pacientes tinham linfoma difuso de grandes células B, 38 tinham linfomas foliculares, 12 tinham linfomas de células do manto e os outros menos frequentes. Os indivíduos eram altamente refratários (80,3%) e haviam recebido uma média de 3 (variação: 1‒11) linhas de terapia anteriores, podendo chegar a 11 linhas de tratamento. 25% dos pacientes receberam terapia CAR T–cell prévia e 80% estavam refratários a última linha de tratamento.
Os investigadores desse estudo de fase 1 administraram 0,5 mg de dose fixa por semana até 320 mg por 12 semanas. O medicamento foi bem tolerado. A dose máxima não foi alcançada, mas foi possível identificar a dose para o estudo de fase 2.
Segundo o onco-hematologista, a estratégia de mitigação da síndrome da liberação de citocinas obteve sucesso. SLC de graus 1 e 2 ocorreu em 53% dos pacientes, grau 3 em 6% e não ocorreu nenhum caso de graus 4 e 5. Lise tumoral não foi frequente e a neurotoxicidade não foi relevante. A maioria dos eventos de SLC ocorreu durante as primeiras 2 semanas de dosagem intensiva e foi resolvida em uma média de 2 dias com medidas de tratamento de suporte. Nenhum paciente interrompeu o tratamento com odronextamabe devido à SLC.
Do ponto de vista da atividade antitumoral, Dr. Jacques Tabacof comenta que esses anticorpos são muito potentes e com uma ampla atividade terapêutica. De 30 pacientes com linfoma folicular avaliáveis, 90% responderam, sendo 70% de forma completa. A duração mediana dessas respostas não foi atingida, mostrando realmente que houve respostas duradouras com a utilização desse anticorpo bi-específico.
Em pacientes com linfoma difuso de grandes células recidivado ou refratário, houve promissora atividade em níveis mais elevados de dose de odronextamabe. Aqueles que não receberam terapia anterior com CAR T tiveram uma taxa de resposta completa de 55%, o que é um resultado “muito bom”, comenta o especialista. Já os indivíduos que receberam previamente CAR T (24 pacientes), a taxa de resposta foi de 33%, com 21% de respostas completas.
Dr. Tabacof conclui que o odronextamabe possui uma boa relação risco-benefício em pacientes com linfomas B recidivados/refratários, que é uma população de difícil tratamento. A pré-medicação com dexametasona e a dosagem acelerada mitigam o risco de SLC e permitem a administração de odronextamabe de até 320 mg semanais sem toxicidade limitante de doses. Em sua opinião, em um futuro próximo, os anticorpos bi-específicos CD3 e CD20 terão um importante papel na prática clínica dos médicos onco-hematologistas.
Ouça também os comentários do especialista na versão podcast:
Referência:
Bannerji R, et al. Odronextamab (REGN1979), a Human CD20 x CD3 Bispecific Antibody, Induces Durable, Complete Responses in Patients with Highly Refractory B-Cell Non-Hodgkin Lymphoma, Including Patients Refractory to CAR T Therapy. Abstract 400. Presented at: 62nd ASH Annual Meeting and Exposition, 2020.
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