No terceiro dia da ESMO 2024 foram apresentados resultados bastante aguardados pelos oncologistas especialistas em mama.
O primeiro foi a aguardada atualização de sobrevida global do estudo KN-522, que avaliou a adição de pembrolizumabe à quimioterapia neoadjuvante em pacientes com câncer de mama triplo-negativo em estágio II ou III. Já era conhecido que o pembrolizumabe aumentava significativamente as taxas de resposta patológica completa e de sobrevida livre de eventos, mas, na sessão presidencial da ESMO 2024, o LBA 4 confirmou que a adição desse imunoterápico também melhora a sobrevida global dos pacientes.
Após um seguimento mediano de 75,1 meses, 14,7% dos pacientes no grupo de pembrolizumabe haviam falecido, enquanto no grupo controle essa taxa foi de 21,8%. O hazard ratio foi de 0,66 (IC 95%, 0,50-0,87; P=0,0015), atingindo a significância estatística pré-definida. A taxa de sobrevida global em 5 anos foi de 86,6% no grupo pembrolizumabe, comparada a 81,7% no grupo placebo. Assim, pode-se afirmar que a adição de pembrolizumabe à quimioterapia neoadjuvante, seguida por seu uso adjuvante, resultou em um ganho robusto de sobrevida global na população estudada. Os resultados apresentados hoje foram publicados simultaneamente no New England Journal of Medicine.
Também foram divulgados, no New England Journal of Medicine, os resultados do estudo de fase 3 Destiny-Breast06, que avaliou o uso de trastuzumabe-deruxtecano (T-DXd) como primeira linha de terapia citotóxica em pacientes com câncer de mama receptor hormonal positivo, HER2-low ou HER2-ultralow, previamente tratados com endocrinoterapia. O estudo atingiu seu desfecho primário de sobrevida livre de progressão (SLP), mostrando que o T-DXd prolonga a SLP em comparação à quimioterapia (13,2 meses versus 8,1 meses, respectivamente; HR 0,62; IC 95%, 0,51-0,74; P<0,001). Na ESMO, foram apresentadas duas análises adicionais desse estudo.
A primeira análise (LBA 21) avaliou a concordância entre as classificações de HER2-low e ultralow obtidas localmente e no centro de estudo durante o período de rastreamento. O teste central de HER2 foi realizado utilizando o anticorpo monoclonal primário VENTANA anti-HER2/neu (4B5) da Roche, além de testes de hibridização in situ (ISH) quando aplicável. Foram obtidos resultados válidos para HER2 em 1629 pacientes, com os testes centrais identificando 12% com IHC 0 (ausência de coloração de membrana), 21% com HER2-ultralow e 67% com HER2-low. A concordância global foi de 77,8% para HER2-low. No entanto, entre os 349 pacientes classificados como HER2 0 localmente, 85 (24%) foram identificados como HER2-low e 140 (40%) como HER2-ultralow nos testes centrais. O benefício do T-DXd foi consistente entre os subgrupos, incluindo a classificação de HER2, tipo de amostra e localização do tumor. Dessa forma, recomenda-se que pacientes com câncer de mama metastático HR+ e HER2 0 tenham suas amostras revisadas para confirmar o status de HER2 e verificar sua elegibilidade para o uso de T-DXd.
A segunda análise (LBA 22), avaliou os desfechos relatados pelos próprios pacientes no estudo Destiny-Breast06, considerando questões de qualidade de vida, funcionalidade e impacto nas percepções de saúde. Foram utilizados os questionários de qualidade de vida do EORTC (QLQ-C30) e o módulo específico para câncer de mama (QLQ-BR45). Os dados de qualidade de vida foram semelhantes entre o grupo geral e o grupo HER2-low. Em termos gerais, tanto a qualidade de vida quanto os itens funcionais mantiveram-se estáveis entre os grupos. No entanto, o T-DXd foi associado a um retardo na deterioração da função física e da dor em relação ao grupo de quimioterapia, embora tenha aumentado os sintomas de náuseas, vômitos e perda de apetite.
Romualdo Barroso, MD, PhD
Oncologista Clínico, Head de Pesquisa em Oncologia e Líder Nacional de Câncer de Mama – DASA Oncologia; Pós-doutorado no Departamento de Oncologia Médica do Dana-Farber Cancer Institue, Harvard Medical School
Referências:
Alameda Campinas, 579 – Jardim Paulista, São Paulo – SP, 01404-100
CEO: Thomas Almeida
Editor científico: Paulo Cavalcanti
Redatora: Bruna Marchetti
© 2020 Oncologia Brasil
A Oncologia Brasil é uma empresa do Grupo MDHealth. Não provemos prescrições, consultas ou conselhos médicos, assim como não realizamos diagnósticos ou
tratamentos.