Estudo NeoTRIP: Ausência de benefício de atezolizumabe associas a quimioterapia em neoadjuvância para câncer de mama triplo negativo de alto risco ou localmente avançado - Oncologia Brasil

Estudo NeoTRIP: Ausência de benefício de atezolizumabe associas a quimioterapia em neoadjuvância para câncer de mama triplo negativo de alto risco ou localmente avançado

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Estudo de fase III não demonstra benefício de adição de anti-PD-L1 a regime quimioterápico neoadjuvante em câncer de mama triplo negativo não metastático

 

Imunoterapias baseadas em inibidores de checkpoints imunológicos (ICIs) promovem benefício clínico em diversos tipos de tumores sólidos. No câncer de mama, estudos demonstraram benefício de ICIs para o subtipo triplo negativo (TN), levando a aprovação do uso de alguns ICIs para esses cânceres, como o uso dos anticorpos monoclonais atezolizumabe (anti PD-L1) em cenários metastáticos, após publicação dos resultados do ensaio IMbrave30, e pembrolizumabe (anti-PD1) para pacientes não metastáticos com alto risco de recidiva, após publicação das análises interinas do estudo KEYNOTE-522.  

O ensaio clínico de fase III NeoTRIP (NCT002620280) objetivou avaliar o uso da adição do anticorpo monoclonal anti-PD-L1 atezolizumabe à quimioterapia neoadjuvante para pacientes com câncer de mama TN não metastático, e análises interinas do estudo publicadas anteriormente demonstraram um aumento numérico não significativo da taxa de resposta patológica completa entre pacientes tratados com atezolizumabe em comparação a pacientes tratados apenas com quimioterapia com nab-paclitaxel e carboplatina. Agora, no congresso anual da ESMO de 2023, os autores reportam resultados de sobrevida livre de evento em 5 anos. 

Nesse estudo randomizado, open-label, multicêntrico, 280 participantes foram recrutados entre maio de 2016 e dezembro de 2018 e alocados (1:1) para receber quimioterapia neoadjuvante com nab-paclitaxel e carboplatina associada (n = 138) ou não (n = 142) a atezolizumabe (1200mg, IV) a cada 3 semanas por 8 ciclos, seguida de cirurgia e terapia adjuvante (4 ciclos) com antraciclina. O desfecho primário planejado foi a sobrevida livre de evento (definido como progressão, recidiva ou morte) em 5 anos. 

Com um acompanhamento mediano de 54 meses, a taxa de sobrevida livre de eventos em 5 anos foi de 70,6% (IC95%: 61,6 – 77,9) no grupo recebendo atezolizumabe e de 74,9% (IC95%: 66,6 – 81,5) no grupo recebendo apenas quimioterapia. A análise estratificada por estadiamento da doença, expressão de PD-L1 tumoral e idade resultou em um valor de P não significativo de 0,66 para o uso ou não de atezolizumabe em neoadjuvância. Fatores significativamente associados à sobrevida livre de eventos em modelos multivariados incluíram a presença de resposta patológica completa (HR: 0,19; P < 0.0001), o estadiamento da doença (HR: 2,05; P = 0,0039) e a expressão de PD-L1 (HR: 0,61; P = 0,043). Ainda, a maior presença estromal de linfócitos infiltrantes foi associada a melhor sobrevida livre de evento em ambos os braços do estudo, mas não foi preditora do benefício de atezolizumabe. 

Assim, os resultados do estudo NeoTRIP não demonstram benefício da adição de atezolizumabe ao regime neoadjuvante com nab-paclitaxel e carboplatina para pacientes com câncer de mama TN não metastático de alto risco. Os autores reportam que estudos de pesquisa de biomarcadores estão em desenvolvimento para identificar pacientes que possam se beneficiar desse regime terapêutico. 

 

Referência

Luca Gianni. LBA-19 – Event-free survival (EFS) analysis of neoadjuvant taxane/carboplatin with or without atezolizumab followed by an adjuvant anthracycline regimen in high-risk triple negative breast cancer (TNBC): NeoTRIP Michelangelo randomized study. ESMO 2023. Disponível em: https://cslide.ctimeetingtech.com/esmo2023/attendee/confcal/presentation/list?q=LBA19&r=st%7E3