Testes com exames de sangue foram capazes de prever o tecido onde o câncer se originou em 96% das amostras com uma precisão de 93%
Pesquisadores desenvolveram o primeiro exame de sangue que pode detectar com precisão (em 93% dos casos) mais de 50 tipos de câncer e identificar em qual tecido o câncer se originou (em 96% das amostras), muitas vezes antes de existirem sinais ou sintomas clínicos da doença.
Em um artigo publicado na Annals of Oncology, os pesquisadores mostram que o teste, que pode ser usado em programas nacionais de rastreamento de câncer, tem uma taxa de 0,7% de falso positivo para detecção de câncer. Isso significa que menos de 1% das pessoas seriam erroneamente identificadas como tendo câncer. Como comparação, cerca de 10% das mulheres são erroneamente identificadas como portadoras de câncer nos programas nacionais de rastreamento de câncer de mama, embora essa taxa possa variar dependendo da frequência dos exames e do tipo de mamografia realizada.
O exame
Os tumores liberam o DNA no sangue, e isso contribui para o que é conhecido como DNA livre e circulante na corrente sanguínea (cell free DNA [cfDNA]). No entanto, como o cfDNA também pode vir de outros tipos de células, pode ser difícil identificar aquele proveniente dos tumores. O exame de sangue relatado neste estudo analisa alterações químicas no DNA chamadas “metilação“, que geralmente controlam a expressão gênica. Padrões de metilação anormais e as alterações resultantes na expressão gênica podem contribuir para o crescimento do tumor. Portanto, o cfDNA têm o potencial de detectar e localizar o câncer.
O exame de sangue abrange aproximadamente um milhão dos 30 milhões de locais de metilação no genoma humano. Uma tecnologia de machine learning utilizou um algoritmo para detectar a presença de câncer e o tipo de câncer com base nos padrões de metilação no cfDNA produzido pelos tumores. Essa tecnologia foi programada para utilizar um banco de dados de sinais de metilação de câncer e não-câncer no cfDNA. Acredita-se que esse banco de dados seja o maior do mundo e pertence à empresa envolvida nesta pesquisa, GRAIL, Inc. (Califórnia, EUA).
Os participantes
Na parte do estudo Circulating Cell-free Genome Atlas (CCGA) relatado, amostras de sangue de 6.689 participantes com câncer anteriormente não tratado (2.482 pacientes) e sem câncer (4.207 pacientes) da América do Norte foram divididos em um conjunto de treinamento e validação. Desses, 4.316 participantes estavam disponíveis para análise: 3.052 no conjunto de treinamento (1.531 com câncer, 1.521 sem câncer) e 1.264 no conjunto de validação (654 com câncer e 610 sem câncer).
Os resultados
Em 12 tipos de câncer que são geralmente os mais letais (anal, bexiga, intestino, esôfago, estômago, cabeça e pescoço, fígado e ducto biliar, câncer de pulmão, ovário, pancreático, linfoma e mieloma múltiplo), os verdadeiros positivos foram de 67,3% nos estágios clínicos I, II e III. Esses 12 tipos de câncer são responsáveis por cerca de 63% das mortes por neoplasia a cada ano nos Estados Unidos e, atualmente, não há como rastrear a maioria deles antes que os sintomas apareçam. Os verdadeiros positivos foram de 43,9% para todos os tipos de câncer nos três estágios clínicos do estudo.
A detecção foi melhor de acordo com o maior estadiamento do câncer. Nos 12 cânceres pré-especificados, os verdadeiros positivos foram de 39% no estágio I, 69% no estágio II, 83% no estágio III e 92% no estágio IV.
Em todos os mais de 50 tipos de câncer, as taxas correspondentes foram de 18%, 43%, 81% e 93%, respectivamente.
Esses dados sugerem que os testes de metilação podem ser uma alternativa em um futuro não muito distante para que se realize a detecção precoce dos tumores malignos.
Saiba mais:
Blood Test Accurately Detects Over 50 Types of Cancer, Often Before Symptoms Show [news release]. European Society of Medical Oncology; March 31, 2020. https://bit.ly/2RalRGv Accessed April 6, 2020.
Liu MC, Oxnard GR, Klein EA, et al. Sensitive and specific multi-cancer detection and localization using methylation signatures in cell-free DNA [Published Online March 30, 2020]. Annals of Oncology. https://doi.org/10.1016/j.annonc.2020.02.011
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