Há algo de novo no APHINITY? - Oncologia Brasil

Há algo de novo no APHINITY?

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O Dr. José Bines, Oncologista clínico do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e membro do GBECAM, em participação na edição de 2019 San Antonio Breast Cancer Symposium (SABCS) comenta novos dados do estudo APHINITY.

O estudo de fase III APHINITY, publicado originalmente no NEJM em 2017, ajudou a estabelecer o pertuzumabe, em combinação a trastuzumabe e quimioterapia, como tratamento padrão na adjuvância de pacientes com câncer de mama com hiperexpressão de receptor do fator de crescimento epidérmico humano do tipo 2 (HER2, do inglês human epidermal growth factor receptor type 2) e alto risco para recidiva. Novos dados do seguimento estendido desse estudo foram apresentados no San Antonio Breast Cancer Symposium 2019, encontro que conta com alguns dos mais importantes trabalhos em câncer de mama do ano, e que ocorre de 10 a 14 de dezembro, em San Antonio, Texas.

Na publicação original, a adição de pertuzumabe visava a reduzir o risco de recorrência do câncer de mama positivo para HER2 (HER2+), que chega a 30% na população tratada com trastuzumabe, buscando assim uma redução da alta letalidade resultante da doença metastática. O estudo recrutou 4805 pacientes, randomizadas em razão 1:1 para os braços de pertuzumabe ou placebo, ambos associados ao tratamento padrão com quimioterapia e trastuzumabe. Na análise inicial, observava-se uma redução relativa significativa de 19% do risco de recorrência, com 94,1% de pacientes livres de doença em 3 anos no grupo de pertuzumabe, em comparação a 93,2% no grupo placebo (HR 0,81; IC 95% 0,66-1,00; p = 0,045). Não havia, naquele momento, diferença significativa em sobrevida global (SG).

Agora, em análise interina de seis anos de seguimento, um menor número de mortes foi visto na população que recebeu a combinação de pertuzumabe e trastuzumabe (SG em 6 anos de 94,8% vs. 93,9% para o braço do placebo), com redução relativa do risco de recorrência ou morte de 24%. Apesar disso, uma diferença estatisticamente significativa em SG ainda não foi encontrada. Assim como na análise inicial do estudo, os pacientes com linfonodos acometidos parecem ter tido maior benefício da combinação, com ganho absoluto de 4,5% em sobrevida livre de doença invasiva.

Apesar do longo tempo de seguimento, novamente não foi visto um aumento importante no número de eventos adversos cardíacos com a adição de pertuzumabe, mantendo-se incidências menores do que 1% desses eventos em ambos os braços (0,8% no braço de pertuzumabe vs. 0,3% no de placebo). Esses resultados reforçam a segurança da combinação, mesmo em relação a potenciais alterações cardíacas em longo prazo.

Em comentário sobre o estudo, a Dra. Martine Piccart, primeira autora do mesmo, ressalta que esses novos resultados corroboram a eficácia da adição de pertuzumabe à terapia padrão prévia na redução da incidência de recorrência desses pacientes, sobretudo naqueles de maior risco. Para ela, os dados do seguimento de seis anos do estudo APHINITY ratificam o benefício clínico e a segurança da combinação de pertuzumabe, trastuzumabe e quimioterapia na adjuvância do câncer de mama HER2+ inicial. Por fim, a médica pontuou também que, ainda que o benefício em SG não seja ainda estatisticamente relevante neste momento, há razões para acreditar que o mesmo mostrará diferença significativa com seguimento mais prolongado.

O SABCS acontece de 10 a 14 de dezembro de 2019 em San Antonio (EUA) e reúne mais de sete mil profissionais de 90 países para discutir sobre câncer de mama. Acompanhe os destaques do SABCS na cobertura da Oncologia Brasil.