Tumores gastrointestinais
No segundo dia de Congresso da ESMO® 2024 tivemos dois estudos em tumores gastrointestinais presentes na Sessão Presidencial.
No estudo de fase III POD1UM-303 (InterAACT 2), 308 pacientes com carcinoma espinocelular do canal anal localmente recorrente ou metastático, foram randomizados para receber primeira linha de tratamento paliativo com 6 ciclos de carboplatina e paclitaxel associados à placebo ou à imunoterapia anti-PD-1, retifanlimabe 500 mg a cada 4 semanas, por até 1 ano. O objetivo primário foi alcançado, com sobrevida livre de progressão (SLP) mediana significativamente maior em comparação com quimioterapia isolada (9,3 meses versus 7,4 meses; HR 0,63; IC de 95% 0,47–0,84; p=0,0006), com boa tolerabilidade. Os dados de sobrevida global (SG) apesar de imaturos, apresentam uma forte tendência de benefício em favor do braço retifanlimabe (SG mediana: 29,2 meses versus 23,0 meses; HR 0,70; IC de 95% 0,49–1,01; p=0,0273), apesar da possibilidade de crossover no estudo.1
No estudo de fase III LEAP 012, 480 pacientes com CHC não elegível para tratamento curativo e com todas as lesões tratáveis com uma a 2 sessões de TACE, foram randomizados para receber TACE associada a placebo ou lenvatinibe e pembrolizumabe (LP), por até 2 anos. Na apresentação desta primeira análise interina, com 25,6 meses, um dos desfechos primários, SLP, foi superior para o grupo que fez LP, 14,6 meses versus 10,0 meses (HR 0,66; IC de 95% 0,51–0,84; p = 0,0002). Os dados de SG, outro desfecho primário do estudo, estão imaturos para avaliação, podendo ser falseados ao longo do tempo por terapias sistêmicas após a progressão.2
Estes dois estudos acima apontam para a possibilidade de mudança na prática clínica, mas ainda carecendo de maiores informações para uma adequada e segura entrada na rotina.
Alguns outros estudos em trato digestivo alto, apresentados fora da sessão presidencial, foram marcantes no dia de hoje.
No estudo de fase III TOPGEAR, em pacientes com câncer gástrico e gastroesofágico ressecável, a adição de quimiorradioterapia pré-operatória à quimioterapia perioperatória melhorou a resposta patológica (pCR; 16,8% versus 8,0%; p<0,0001), mas não a SG (46,4 meses versus 49,4 meses). Estes resultados se alinham aos do estudo ESOPEC, apresentando na sessão plenária da ASCO 2024, contra-indicando quimiorradioterapia pré-operatória no tratamento destes tumores.3
Foi apresentada também a análise final do estudo KEYNOTE-811, com benefício em SG com pembrolizumabe de primeira linha versus placebo adicionado ao trastuzumabe e quimioterapia em pacientes com adenocarcinoma metastático gástrico/da junção gastroesofágica HER2-positivo, irressecável e sem tratamento prévio, sendo de 20,0 meses versus 16,8 meses (HR 0,80; IC de 95% 0,67–0,94; p=0,004) e de 20,1 meses versus 15,7 meses (HR 0,79; IC de 95% 0,66–0,95) para pacientes PD-L1 ≥1.4
Ana Paula Victorino, MD
Oncologista Clínica no Instituto Américas, Diretora Científica do Instituto Americas/ Oncologia.
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