Tumores ginecológicos
No segundo dia do Congresso Europeu de Oncologia Clínica – ESMO® 2024, tivemos a apresentação de estudos importantes para o cenário do tratamento de tumores ginecológicos.
TROPHAMET phase I/II trial
O estudo TROPHAMET é um ensaio de fase II braço único que avaliou a eficácia de avelumabe combinado a quimioterapia com metotrexato em pacientes com neoplasia trofoblástica gestacional de baixo risco.
O estudo recrutou 26 pacientes com escore de baixo risco (FIGO 6 ou menos), recebendo avelumabe 800mg IV a cada 2 semanas e metotrexato esquema padrão, tendo como objetivo a normalização de HCG maior ou igual 90% e hipótese nula em caso de redução que 70%. Dos 26 pacientes, 54% apresentavam doença em estágio III, 38% FIGO score 5 e 6. A maioria das pacientes eram mola pós-completa e uma paciente tinha coriocarcinoma. Em média, foram realizados 8 ciclos de tratamento com avelumabe.1
Como resultado, 96% das pacientes (n = 25) tiveram negativação do beta HCG e apenas uma apresentou resistência e recebeu dois regimes de quimioterapia posteriores seguido de histerectomia. O tempo médio de normalização foi de 3.3 meses. A toxicidade mais importante foi mucosite e hepatotoxicidade (7.8%).
Comentários: Essa foi a taxa de normalização de beta HCG mais alta já apresentada em primeira linha e destaca há grande dificuldade de se conduzir um estudo randomizado fase III nessa doença rara.
ENGOT-en11/GOG-3053/KEYNOTE-B21
Outro estudo muito importante para o cenário de tumores ginecológicos foi o ENGOT-en11/GOG-3053/KEYNOTE-B21, um ensaio randomizado fase III que avaliou o impacto do acréscimo de pembrolizumabe à quimioterapia adjuvante em pacientes com câncer de endométrio de alto risco de recorrência.
Foram incluídos pacientes com câncer de endométrio estagio I ou II com histologia não endometrioide com invasão miometrial ou endometrioide com p53 anormal e os critérios prévios ou estágios III ou IVA de qualquer histologia, incluindo carcinossarcoma. Os pacientes foram estratificados como DMMR e pMMR em análise pré-especificada. Ambos os grupos poderiam ter recebido cisplatina com radioterapia adjuvante. O grupo experimental recebeu 4 a 6 ciclos de carboplatina com paclitaxel concomitante a pembrolizumabe 200mg a cada 3 semanas. Em seguida, as pacientes recebiam pembrolizumabe 400 mg a cada 6 semanas por 6 ciclos. Na população incluída no estudo, 26% eram dMMR, 41% com linfonodo positivo, um terço das pacientes era estágio I e II. Cerca de 60% receberam radioterapia nos dois braços. 1095 pacientes foram incluídos no estudo.
Os resultados não demonstraram diferença entre os braços na análise por intenção de tratar na população geral. Quando estratificados por subgrupo, os pacientes do grupo dMMR, tiveram uma redução do rsico de recidiva da ordem de 70% (HR 0.31), com 8 versus 25 eventos em pembrolizumabe e placebo, respectivamente. No subgrupo pMMR, não houve diferença (HR 1.2).
Comentários: esse estudo apresenta um impacto clínico importante na população pMMR e potencial de mudança em prática clínica. A presença do tumor parece influenciar positivamente o efeito da imunoterapia, mesmo na população pMMR, como visto em estudos para a doença avançada.
Análise final do estudo PRIMA/ENGOT-OV26/GOG-3012.
O estudo randomizado fase III avaliou niraparibe como terapia de manutenção em pacientes com câncer de ovário avançado seroso de alto grau ou endometrioide estágio III ou UV. No seguimento de 6 anos, foram apresentados os dados de sobrevida global (com 62.5% de maturidade) e sobrevida livre progressão.
Os dados se sobrevida livre de progressão foram de 35% vs 16% para a população com HRd (homologous recombination-deficient) (Harzard Ratio – HR = 0.5). Não houve diferença em sobrevida global na população geral (HR 1.01), HRd (0.95) ou HRp (HR 0.93). Não houve diferença entre síndrome mielodisplásica entre os grupos na análise final.
Comentários: o estudo foi positivo para o dado de sobrevida livre de progressão, seu objetivo primário, entretanto não conseguiu demonstrar redução do risco de morte no uso de niraparibe versus placebo.
Análise de sobrevida global do estudo KEYNOTE-A18 – apresentado em sessão plenária
O ensaio clínico ENGOT-cx11/GOG-3047/KEYNOTE-A18 incluiu 1060 pacientes que randomizou pacientes com câncer de colo uterino localmente avançado 9 IB2 a IVa no estadiamento FIGO 2014 entre quimioterapia com cisplatina concomitante a radioterapia e pembrolizumabe 200mg mg a cada 3 semanas por 6 ciclos seguido de 400mg a cada 6 semanas por 15 ciclos ou placebo. Da população avaliada, 44% das pacientes eram estádio IB2-II, 95% tinham positividade para PDL1, 88% receberam radioterapia com intensidade modulada.
Após 3 anos de seguimento, os dados de sobrevida livre de progressão foram de 69% vs 56 % no grupo experimental e placebo, respectivamente, com HR 0.68 (0.56-0.84). A sobrevida global foi de 82.5 versus 74.8% com HR 0.67 (0.5-0.9) e p=0.004, com uma taxa de descontinuação semelhante entre os grupos.
Comentários: o estudo reforça o uso de pembrolizumabe associado a quimio e radioterapia como tratamento padrão-ouro.
Daniel Musse, MD
Médico Oncologista Clínico na Rede D’Or.
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