Análise exploratória do estudo CASPIAN traz resultados promissores de eficácia da combinação durvalumabe e etoposídeo-platina no contexto de pacientes com câncer de pulmão de pequenas células extenso, apresentando um benefício significativo de sobrevida global e sobrevida livre de progressão em sistema nervoso central
O câncer de pulmão de pequenas células (CPPC) é caracterizado pelo crescimento tumoral difuso, compreendendo aproximadamente 15% dos tumores de pulmão. Além disso, aproximadamente dois terços dos pacientes são diagnosticados com a doença em estágio extenso (ES), e até 80% dos pacientes desenvolvem metástases cerebrais em 2 anos após o diagnóstico. Para estes pacientes, uma opção de tratamento é o uso do durvalumabe combinado com etoposídeo e platina, um anticorpo monoclonal humano da classe IgG1 que bloqueia a ligação entre PD-L1 e as moléculas PD-1 e CD80. Este agente foi testado no estudo aberto, de fase III, CASPIAN, que avaliou seu uso em primeira linha, em combinação com etoposídeo e cisplatina ou carboplatina, e comparados com o uso isolado de etoposídeo-platina (EP) em pacientes com CPPC.
Nesta análise exploratória foram relatados os resultados dos tratamentos em um subgrupo de pacientes, levando em consideração a presença ou ausência de metástases cerebrais ou do SNC no início do estudo (baseline). Também foi realizada uma análise exploratória do tempo até a progressão para metástase cerebral ou do SNC, e necessidade de radioterapia. O objetivo foi avaliar pacientes que receberam durvalumabe e EP como tratamento de primeira-linha, contra os pacientes que receberam apenas EP.
O estudo CASPIAN recrutou e randomizou pacientes virgens de tratamento que foram diagnosticados com CPPC-ES e performance status menor ou igual a 1. Pacientes com metástases cerebrais tratadas e estáveis ou não-tratadas e assintomáticas foram elegíveis. Vale destacar que CASPIAN é o único estudo que incluiu pacientes com metástase cerebral tratada ou assintomática no cenário do CPPC-EE.
No total, 805 pacientes foram randomizados, incluindo 268 para o grupo D-EP e 269 para o grupo EP, dos quais 28 (10,4%) e 27 (10%) possuíam metástases cerebrais ou do SNC, respectivamente.
Na comparação contra EP apenas, a combinação durvalumabe e EP prolongou a sobrevida global (SG) e a sobrevida livre de progressão (SLP) de pacientes com ou sem metástases cerebrais no baseline, especialmente nas análises de doze meses. A análise não-estratificada demonstrou uma taxa de risco (HR) de 0,79 para SG (IC 95% = 0,44-1,41) em pacientes com metástases, e de 0,76 (IC 95% = 0,62-0,92) nos pacientes sem metástases neste sítio; isto representa uma redução do risco de morte de 21% e 24%, respectivamente. A SLP também aumentou em pacientes com ou sem metástases cerebrais, resultando em HR de 0,73 (IC 95% = 0,42-1,29) e 0,80 (IC 95% = 0,66-0,97), respectivamente.
Na análise exploratória dos pacientes com metástases cerebrais, a combinação durvalumabe e EP retardou a progressão da doença para o cérebro ou necessidade de radioterapia cerebral, apresentando HR de 0,69 (IC 95% = 0,5-0,95), ou seja, uma redução do risco de 31%. Além disso, proporções similares de pacientes receberam radioterapia depois do fim do estudo em ambos os grupos, sendo 55 de 268 (20,5%) no grupo D-EP e 57 de 269 (21,2%) no grupo EP.
Quanto à segurança, em pacientes com metástases cerebrais no baseline, os do grupo D-EP apresentaram menos eventos adversos de quaisquer causas de graus 3 ou 4, e eventos adversos graves, do que os do grupo EP apenas, sendo as taxas de 67,9% contra 85,2% e 28,6% contra 59,3%, respectivamente. No geral, mais pacientes no grupo D-EP reportaram eventos adversos imuno-mediados independente da presença de metástases cerebrais; entretanto, a maior parte foi de baixo grau e endócrino-relacionados. A segurança entre pacientes sem metástases cerebrais foi similar.
Pacientes com CPPC-EC e metástases cerebrais apresentam uma deterioração significativa da qualidade de vida. Desta forma, novas opções de tratamento para este grupo de pacientes é necessária. Nesta análise de subgrupos reportada aqui, o benefício para a SG e SLP foi mantido na terapia de primeira-linha com a combinação durvalumabe e EP, independentemente da presença de metástases cerebrais no início do tratamento. Por fim, esta análise revelou que a combinação de durvalumabe e EP retardou, com uma redução de 31% do risco, a progressão cerebral ou a necessidade de radioterapia em SNC. Esses dados sugerem que essa combinação pode atrasar a progressão intracranial – um desafio considerável no tratamento do CPPC-EC.
Referência:
Chen Y, Paz-Ares L, Reinmuth N, Garassino MC, Statsenko G, Hochmair MJ, Özgüroğlu M, Verderame F, Havel L, Losonczy G, Conev NV, Hotta K, Ji JH, Spencer S, Dalvi T, Jiang H, Goldman JW. Impact of Brain Metastases on Treatment Patterns and Outcomes With First-Line Durvalumab Plus Platinum-Etoposide in Extensive-Stage SCLC (CASPIAN): A Brief Report. JTO Clin Res Rep. 2022 Apr 26;3(6):100330. doi: 10.1016/j.jtocrr.2022.100330. PMID: 35719865; PMCID: PMC9204731.
Informações sobre o ensaio: NCT03043872.
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