As admissões não planejadas refletem desafios no manejo de sintomas e evidenciam a importância dos cuidados paliativos para personalizar os planos de cuidado e melhorar a qualidade de vida. O estudo destaca a necessidade de gerenciar adequadamente sintomas como a dor para reduzir hospitalizações e custos associados.
O câncer é uma das principais causas de mortes prematuras em mais de 130 países, com uma crescente incidência em países de baixa e média renda. A maioria dos pacientes com câncer é hospitalizada em algum momento, e quase 60% dessas hospitalizações ocorrem no ano após o diagnóstico, sendo um terço delas não planejadas. Entre pacientes com câncer avançado, esse índice chega a quase 60%. As admissões não planejadas estão associadas a piora no estado nutricional, maior mortalidade hospitalar e readmissões de curto prazo após a alta. Muitas dessas admissões são necessárias devido a sintomas agudos e não controlados, refletindo desafios no acesso a cuidados apropriados e oportunos. A equipe multidisciplinar de cuidados paliativos é crucial para o controle dos sintomas e para alinhar as expectativas do paciente e da família, melhorando a qualidade de vida no fim de vida e reduzindo custos significativos de hospitalização. No presente estudo, o objetivo foi descrever os padrões de hospitalização e os desfechos associados a admissões não planejadas em pacientes com câncer, destacando a importância dos cuidados paliativos para melhorar a qualidade de vida e reduzir os custos de saúde.
Trata-se de um estudo retrospectivo de coorte com adultos portadores de tumores sólidos hospitalizados após admissões não planejadas, ocorridas no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) entre 1 de fevereiro de 2021 e 31 de dezembro de 2021. Pacientes foram excluídos se tivessem sido admitidos eletivamente, tivessem apenas malignidades hematológicas, diagnóstico de COVID-19 durante a hospitalização, procedimentos cirúrgicos nos 30 dias anteriores à admissão, ou se fossem admitidos e liberados do pronto-socorro antes de serem transferidos para a unidade de internação. Dados foram coletados dos registros eletrônicos de saúde e revisões manuais dos prontuários médicos foram realizadas para campos não estruturados. Os desfechos primários foram a mortalidade hospitalar e a sobrevida global pós-alta.
Das 14.189 hospitalizações no período do estudo, 3.726 atenderam aos critérios de inclusão. A mediana de idade foi de 62,6 anos, com quase metade sendo mulheres. Aproximadamente 55,7% dos pacientes tinham um bom estado de desempenho antes da admissão. Os sítios tumorais mais comuns foram mama (15,6%), colorretal (13,4%), próstata (7,9%), pulmão (7,5%) e cabeça e pescoço (6,6%). A maioria dos pacientes estava sob tratamento sistêmico paliativo (39,7%) ou em acompanhamento clínico (30,1%). Os sintomas mais comuns na admissão foram dor (40,6%), náusea (16,8%) e dispneia (16,1%). A dor foi a principal queixa para diferentes subtipos tumorais, exceto para tumores de pulmão e sistema nervoso central, onde a dispneia e o estado mental alterado foram mais comuns. A mediana de dias de hospitalização foi de 6,29. A taxa bruta de mortalidade hospitalar foi de 18,9%. A progressão da doença foi o diagnóstico mais comum (34,0%) e esteve associada a maiores taxas de mortalidade hospitalar (razão de chances, 3,5).
Entre os pacientes admitidos, 703 morreram no hospital, e 3.023 foram incluídos na análise de sobrevida pós-alta. A mediana de tempo de acompanhamento foi de 8 meses. As taxas brutas de readmissão em 7, 30 e 90 dias após a alta foram de 11,9%, 33,5% e 54%, respectivamente. A progressão da doença esteve associada a maiores taxas de readmissão durante o acompanhamento (razão de risco específica, 1,75). A mediana de sobrevida global pós-alta foi de 12,6 meses, com 65% dos pacientes vivos aos 6 meses, 51% aos 12 meses, 42% aos 18 meses e 35% aos 24 meses. Pacientes com progressão da doença apresentaram maior risco de morte e menor sobrevida pós-alta (mediana de sobrevida global, 5 meses vs. 18 meses; p < .001; razão de risco, 2,4).
O estudo descreveu de forma abrangente os sintomas, diagnósticos e desfechos de 3.726 pacientes com câncer admitidos em um grande centro de câncer em São Paulo, Brasil. A progressão da doença foi o diagnóstico mais comum e esteve associada a maiores taxas de mortalidade hospitalar e menor sobrevida pós-alta. Pacientes com admissões não planejadas apresentam alto risco de morte durante a internação e após a alta, especialmente aqueles com progressão da doença ou complicações graves de câncer. Essas admissões representam uma oportunidade crucial para os oncologistas personalizarem os planos de cuidado e alinharem as expectativas com pacientes e suas famílias. Além disso, o manejo adequado de sintomas mal controlados, como a dor, é essencial para reduzir a necessidade de hospitalizações e deve ser abordado cuidadosamente pelos médicos.
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