Dr. Bruno Benigno, Urologista do AC Camargo Cancer Center, comenta sobre as novas estratégias e avanços no tratamento do câncer de Próstata Metastático.
O câncer de próstata é a malignidade mais frequente em homens do mundo todo, quando excluímos os tumores malignos que se originam na pele.
Estima-se que aproximadamente 1.300.000 homens são diagnosticados com a doença todos os anos no mundo inteiro. Em países industrializados a maioria dos casos são detectados em fases iniciais. Ainda assim, cerca de 10 a 15% de todos os casos de câncer de próstata são diagnosticados em estágios avançados ou com metástases.
No Brasil, observamos uma maior proporção de casos diagnosticados em estágios avançados. Em algumas regiões do país com piores índices de assistência à saúde, pode atingir até 40% dos casos diagnosticados já com doença avançada ou metastática.
A dificuldade no acesso ao sistema de saúde ou mesmo questões culturais podem explicar boa parte dos casos descobertos já em estágios avançados. Isso impacta diretamente e eleva os índices de mortalidade relacionados ao câncer de próstata em nosso país.
O desenvolvimento de novas estratégias de tratamento é uma área de grande interesse da ciência nos últimos anos. Na ultima década houve uma expansão do conhecimento e melhor entendimento de vias moleculares alternativas, que acionam mecanismos de resistência do câncer de próstata à quimioterapia e aos bloqueadores hormonais de ultima geração.
Quando a doença avançada é detectada, comumente utilizamos medicações que bloqueiam ação da testosterona no corpo inteiro – conhecido pelos médicos como: castração química.
Isso porque o câncer de próstata utiliza a testosterona como combustível para acelerar a velocidade de multiplicação de suas células.
Com o passar do tempo o câncer pode se tornar resistente a esse bloqueio hormonal, levando ao surgimento de novas células com a capacidade de continuar se multiplicando independentemente dos níveis baixos de testosterona. Nesse estágio, dizemos que o câncer se tornou resistente à castração química.
Até 2011, quando o câncer de próstata atingia o estágio de metástases resistentes ao bloqueio da testosterona, a única opção de tratamento disponível era a utilização de quimioterapia.
Pesquisas recentes vem aprimorando a investigação dos mecanismos de escape do câncer de próstata. Com isso presenciamos o surgimento de inúmeras novas moléculas, tanto quimioterápicos quanto bloqueadores hormonais de última geração administrados via oral, sendo estas ultimas utilizadas apenas quando a quimioterapia não mostrava mais resultados.
Em seguida pesquisadores demonstraram que a utilização desses novos bloqueadores hormonais poderiam também trazer benefício e maior chance de sobrevivência quando utilizados mesmo antes da quimioterapia.
Dois estudos recentes apresentados no maior Congresso de Cancerologia Mundial, organizado pela American Society of Clinical Oncology (ASCO), que aconteceu em junho de 2017 em Chicago, EUA, trazem resultados positivos com a utilização da droga Abiraterona – um bloqueador de ultima geração da produção de testosterona. Os estudos demonstraram que a droga levou a um aumento na sobrevivência global para homens com o câncer de próstata com metástases que ainda não haviam recebido qualquer bloqueador da testosterona previamente.
No Brasil, a droga ainda não está disponível no sistema público de saúde para a utilização neste cenário mas já é usada no sistema privado e complementar (convênios) desde 2015, para pacientes que já receberam quimioterapia ou que falharam ao bloqueio hormonal.
Outros campos da pesquisa em câncer de próstata também mostram resultados animadores. O surgimento de moléculas radioativas que podem ser injetadas na circulação sanguínea e que possuem alta afinidade pelas células do câncer de próstata, vem demonstrando também ganhos significantes no aumento da sobrevivência.
Outros avanços no campo da imunologia (anti-corpos e vacinas) também contribuíram o aumento das opções no arsenal de tratamento do câncer de próstata avançado e com metástases. Essas medicações aumentam a capacidade do sistema de imune em reconhecer as células anormais do câncer de próstata. Essas novas drogas tem a vantagem de apresentarem efeitos colaterais menos severos.
Os avanços não se restringem somente ao campo de tratamentos com medicações. Melhoramentos das técnicas diagnósticas trazem maior poder de detecção precoce de formas avançadas da doença, como a ressonância magnética de alta resolução, cintilografia óssea e moléculas com alta afinidade à membrana das células do câncer, favorecem a geração de imagens de alta precisão para um diagnóstico mais preciso.
Quando todos esses avanços são somados, temos um panorama animador para o diagnóstico, tratamento e controle do câncer de próstata em suas formas avançadas e com metástases.
Em um futuro próximo, aumentará o conhecimento da comunidade científica sobre qual a forma ideal de utilização, associação ou sequenciamento dessas e de outras novas opções de tratamento que surgirão.
Dr. Bruno Benigno
Uro-oncologista
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