O uso do nivolumabe para pacientes com mesotelioma maligno refratário - Oncologia Brasil

O uso do nivolumabe para pacientes com mesotelioma maligno refratário

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Estudo clínico CONFIRM abordou a eficácia e segurança do nivolumabe, anticorpo monoclonal  anti– PD-L1, em um estudo multicêntrico de fase III para pacientes com mesotelioma com acometimento pleural ou peritoneal

O mesotelioma maligno é um câncer universalmente letal, geralmente causado pela exposição a fibras de amianto. Geralmente surge na pleura parietal torácica ou, com menos frequência, no revestimento peritoneal abdominal, no saco que envolve o coração, e os testículos. O mesotelioma compreende três subtipos histológicos principais que estão associados à redução da sobrevida; epitelioide, bifásico e sarcomatóide; e representa uma necessidade não atendida de novos tratamentos no cenário de mesotelioma recidivado. Nenhum estudo de fase 3 mostrou melhora na sobrevida de pacientes com mesotelioma maligno pleural ou peritoneal que progrediram após quimioterapia à base de platina. Neste sentido, o objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia e segurança do nivolumabe, um anticorpo anti-PD-1, nesses pacientes.  

Este estudo randomizado, controlado, de fase III, duplo cego foi realizado em 24 hospitais do Reino Unido e recrutou 332 pacientes com mesotelioma que já haviam recebido quimioterapia baseada em platina prévia e apresentaram progressão radiológica. Os pacientes foram randomizados em proporção 2:1 para receberem uma dose padrão de nivolumabe ou placebo até progressão de doença ou 12 meses. Os desfechos primários eram a obtenção da sobrevida global (SG), sobrevida livre de progressão (SLP) e da segurança do medicamento. O seguimento mediano foi de 11,6 meses (IQR 7,2-16,8 ). A mediana de SLP foi de 3 meses (IC 95%; 2,8-4,1)  no grupo do nivolumabe e de 1,8 meses no grupo placebo (IC 95%; 1,4-2,6) (HR 0,67; IC 95% 0,53–0,85; p=0,0012). A SG mediana no grupo do medicamento foi de 10,2 meses (IC 95%; 8,5-12,1) enquanto no grupo placebo foi de 6,9 meses (IC 95%; 5,0-8,0) (HR 0,69; IC 95% 0,52–0,91; p=0,0090). 

Os eventos adversos de grau 3 ou mais que tiveram maior incidência foram diarreia em 6 pacientes do grupo do nivolumabe vs 2 no grupo placebo, e reações à infusão da droga, sendo 6 no grupo do nivolumabe e nenhum no grupo placebo. Eventos adversos graves ocorreram em 41% do grupo do nivolumabe vs 44% pacientes do grupo controle.  

Pode-se valorar, pois, que o uso do nivolumabe está associado, na população estudada, a um ganho de sobrevida global e de sobrevida livre de progressão. As vantagens dessa nova opção terapêutica se dão devido a melhor tolerância à imunoterapia do que a terapia tradicional quimioterápica. Ainda que os resultados mostrem um ganho absoluto de sobrevida de poucos meses, em virtude da história natural da doença e das opções terapêuticas hoje disponíveis, o anti-PD-L1 se torna válido. 

Em virtude do aumento absoluto efêmero da sobrevida global e livre de progressão, estudos que abordem a qualidade de vida dos pacientes submetidos a essa nova alternativa de tratamento se tornam extremamente importantes. Uma vez que o prolongamento da vida com qualidade e dignidade é o alvo moral e ético almejado, estudos clínicos que busquem avaliar isto se tornam indispensáveis para que o nivolumabe possa ser efetivamente implementado como terapia disponível e amplamente utilizada para o mesotelioma refratário. 

 

Referências: 

Fennell DA, et al., Nivolumab versus placebo in patients with relapsed malignant mesothelioma (CONFIRM): a multicentre, double-blind, randomised, phase 3 trial. Lancet Oncol. 2021 Oct 14:S1470-2045(21)00471-X. doi: 10.1016/S1470-2045(21)00471-X. Epub ahead of print. PMID: 34656227.