Pesquisa de Tratamento de Câncer de Bexiga Invasivo Avalia Eficácia de Terapia Menos Agressiva com Quimiorradioterapia - Oncologia Brasil

Pesquisa de Tratamento de Câncer de Bexiga Invasivo Avalia Eficácia de Terapia Menos Agressiva com Quimiorradioterapia

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Estudo RTOG 0524 oferece novas perspectivas de tratamento para pacientes idosos ou com comorbidades: resultados de longo prazo e perfil de tolerância do protocolo de quimiorradioterapia com paclitaxel e trastuzumabe

 

O câncer de bexiga invasivo muscular, caracterizado por sua agressividade na rápida proliferação de células malignas na parede e músculos da bexiga, é um desafio para os médicos em termos de tratamento, especialmente para pacientes idosos e com comorbidades. A idade avançada, muitas vezes, torna esses pacientes inelegíveis para um tratamento padrão agressivo, como a cirurgia radical de remoção da bexiga (cistectomia) e quimioterapia com platina. Entre idosos e pacientes com comorbidades, há um grupo substancial de pacientes que não recebem tratamento definitivo com intenção curativa. Recentemente, os resultados de um estudo sobre um protocolo menos agressivo de quimiorradioterapia foram divulgados, direcionados a pacientes que não são candidatos à cistectomia ou à quimioterapia com cisplatina. Neste estudo, os pacientes receberam radiação e terapia sistêmica, com paclitaxel como quimioterápico sensibilizante à radiação e trastuzumabe como terapia biológica para pacientes com superexpressão da proteína HER2/neu. Este tratamento visa preservar a função do órgão afetado pelo câncer, sem a necessidade de remoção cirúrgica da bexiga. 

O estudo clínico de fase 2, RTOG 0524, conduzido pelo Radiation Therapy Oncology Group (RTOG), apresentou resultados de longo prazo sobre toxicidade, sobrevida livre de doença, sobrevida global e preservação da bexiga. Neste estudo, 65 pacientes idosos (com idade média entre 73-79,5 anos) foram submetidos a um protocolo de quimiorradioterapia, recebendo paclitaxel semanalmente e radioterapia diária na bexiga e na pelve por 7 semanas. Os pacientes com superexpressão do biomarcador HER2/neu também receberam trastuzumabe semanalmente por sete doses. 

Os resultados mostraram uma resposta completa ao tratamento dentro do primeiro ano para 67,6% dos pacientes que não receberam trastuzumabe e para 72,2% dos que receberam. As taxas de sobrevida global em 3 e 5 anos foram de 42,2% e 37,8%, respectivamente, para o grupo que não recebeu trastuzumabe, e de 50,0% e 25,0%, respectivamente, para os que receberam. As taxas de sobrevida livre de doença em 3 e 5 anos foram de 35,6% e 31,1%, respectivamente, para o grupo que não recebeu trastuzumabe, e de 25,0% e 15,0%, respectivamente, para os que receberam. A mediana de sobrevida foi de 2 anos para o grupo que não recebeu trastuzumabe, e 2,8 anos para os que receberam. Embora, no início do estudo, esses pacientes tenham sido considerados inadequados para cirurgia radical, um total de cinco pacientes acabaram passando por cistectomia. A preservação da bexiga foi alcançada na maioria dos pacientes. Entre os pacientes que sobreviveram até o segundo ano e além, a grande maioria (91,2%) não havia passado por cistectomia. 

Embora os resultados tenham mostrado uma eficácia menor em comparação com as terapias padrão, o tratamento foi bem tolerado, com menos de 9% dos pacientes experimentando toxicidade terapêutica de grau 4 e apenas uma morte relacionada ao tratamento. A toxicidade gastrointestinal foi a reação adversa mais comum, provavelmente relacionada tanto ao paclitaxel quanto à radiação. No entanto, muitos eventos adversos levaram a toxicidade geral a exceder 25%. Embora a maioria dos pacientes teve uma resposta completa ao tratamento, uma proporção significativa recorreu ou faleceu dentro de 2 anos. 

Os autores fizeram uma comparação dos resultados do novo protocolo com os padrões históricos estabelecidos pela quimiorradioterapia radical convencional com cisplatina ou gemcitabina, e indicaram que as taxas de sobrevida global e livre de doença desse estudo parecem ser inferiores, o que sugere que o protocolo avaliado pode não ser tão eficaz quanto as terapias padrões atualmente utilizadas. Entre os fatores que podem ter contribuído para a eficácia limitada do tratamento, os pesquisadores indicaram a eficácia limitada do paclitaxel e a incerteza sobre a utilidade do trastuzumabe em pacientes com tumores HER2/neu-positivos. No entanto, vale destacar que o estudo se destinou a uma população de idade avançada e inelegível à terapia convencional, o que influencia na agressividade do tratamento e na extensão dos procedimentos cirúrgicos. Portanto, este estudo representa um passo importante no entendimento e tratamento do câncer de bexiga invasivo muscular, contribuindo para que mais pesquisas possam desenvolver abordagens terapêuticas mais eficazes e melhorar os resultados para os pacientes. 

 

Referências: 

Dahl DM, Karrison TG, Michaelson MD, Pham HT, Wu CL, Swanson GP, Shipley WU, Vuky J, Lee RJ, Zietman AL, Souhami L, Chang BK, Deming RL, Ellerton JA, Sandler HM, Rodgers JP, Feng FY, Efstathiou JA. Long-term Outcomes of Chemoradiation for Muscle-invasive Bladder Cancer in Noncystectomy Candidates. Final Results of NRG Oncology RTOG 0524-A Phase 1/2 Trial of Paclitaxel + Trastuzumab with Daily Radiation or Paclitaxel Alone with Daily Irradiation. Eur Urol Oncol. 2024 Feb;7(1):83-90. doi: 10.1016/j.euo.2023.05.013. 

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