Preservação de órgãos no câncer retal: Qual é o risco que se corre ao oferecer observação e espera por uma resposta clínica completa? - Oncologia Brasil

Preservação de órgãos no câncer retal: Qual é o risco que se corre ao oferecer observação e espera por uma resposta clínica completa?

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Estudo comparativo com dados retrospectivos mostrou que pacientes com recrescimento local apresentaram maior risco de desenvolvimento subsequente de DM (metástases a distância) do que pacientes tratados por ETM no reestadiamento, independentemente do status final de ypT e ypN. Deixar o tumor primário indetectável ou in situ até o desenvolvimento de novo crescimento local pode resultar em piores resultados oncológicos. 

O tratamento padrão atual para o câncer retal é a excisão total do mesorreto (ETM) com ou sem quimiorradioterapia (QRT) neoadjuvante de acordo com o estadiamento inicial do paciente. Embora essa estratégia resulte em boas taxas de sobrevida livre de doença em 5 anos, elas estão associadas a morbidade significativa, em particular, disfunção intestinal, urinária e sexual permanente a longo prazo[1]. A preservação de órgãos tornou-se uma alternativa atraente à excisão total do mesorreto entre pacientes com câncer retal após terapia neoadjuvante. Atualmente, os pacientes que alcançam uma resposta clínica completa (cCR) recebem observação e espera (OE) sem ressecção imediata. Quase 30% desses pacientes desenvolverão novo crescimento local, geralmente dentro de 3 anos desde a decisão inicial até a OE. Embora a ressecção de resgate seja frequentemente viável, manter o tumor primário (apesar de clinicamente indetectável) pode contribuir para o risco de desenvolvimento de MD subsequentes[2]. 

Durante o congresso ASCO GI 2024, Laura Melina Fernandez apresentou os resultados da comparação do risco de metástase à distância entre os pacientes (pts) com recrescimento locar (RL) após OE (doença residual indetectável) e pts com resposta patológica quase completa tratada por ETM no momento da reavaliação da resposta[2]. Os autores compararam os dados de pacientes com câncer retal após terapia neoadjuvante com cCR gerenciado por OE e subsequente RL inseridos no banco de dados prospectivo The International Watch & Wait Database (IWWD) com os de pacientes gerenciados por ETM de um registro nacional mantido prospectivamente (projeto espanhol VIKINGO). A resposta quase completa foi definida na presença de ≤10% de células cancerígenas residuais na amostra ressecada. Como desfecho primário foi avaliado a sobrevida livre de MD em 3 anos desde a decisão de observar e esperar ou excisão total do mesorreto.  

Foram comparados 508 pacientes com RL com 893 pacientes com resposta quase completa após ETM. No geral, a taxa de MD foi significativamente maior entre recrescimentos locais (22,8% vs. 10,2%; p≤0,001). Os fatores de risco independentes para MD incluíram recrescimento local (versus ETM na reavaliação; p=0,001), status ypT3-4 (p=0,016) e status ypN+ (p=0,001) no momento da cirurgia. A sobrevida livre de metástase à distância em 3 anos foi significativamente pior para pacientes com recrescimento local (75% vs. 87%; p=0,001). Quando estratificados por estádio patológico, os pacientes com recrescimento local tiveram resultados significativamente piores em todos os estádios ypT1-2N0 (p<0,001); ypT3-4N0 (p=0,009) e ypTN+ (p<0,001). 

Com base nesses resultados, os autores concluíram que o desenvolvimento de recrescimento local após a estratégia de observar e esperar é um fator de risco significativo e independente, juntamente com estágio patológico final, são fatores de risco para surgimento de MD subsequente. Pacientes com recrescimento local apresentam maior risco de desenvolvimento subsequente de DM do que pacientes tratados por TME no reestadiamento, independentemente do status final de ypT e ypN. Deixar o tumor primário indetectável até o desenvolvimento de novo crescimento local pode resultar em piores resultados oncológicos. Os autores destacam que estudos futuros que incorporem estratégias de preservação de órgãos devem focar no risco subsequente de MD entre pacientes que eventualmente desenvolvem recrescimento local como um dos desfechos primários clinicamente relevantes.

 

Referência:  

1 – FLEMING, Christina et al. Organ preservation in rectal cancer: review of contemporary management. British Journal of Surgery, v. 109, n. 8, p. 695-703, 2022. 

2 – FERNANDEZ, Laura M. et al. Organ-preservation in rectal cancer: What is at risk when offering watch and wait for a clinical complete response? Data from 2 international registries in rectal cancer. 2024 ASCO Gastrointestinal Cancers Symposium, Oral Abstract Session C: Cancers of the Colon, Rectum, and Anus, Abstract 7. 

 

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