Benefícios clínicos, demonstrados pela sobrevida global, foram consistentes com as análises anteriores do PROpel e sustentam, de fato, a adição de olaparibe à abiraterona como 1ª linha de tratamento nesse tipo tumoral, capaz de melhorar consideravelmente a sobrevida global dos pacientes
O câncer de próstata metastático resistente à castração (CPRCm) é, atualmente, considerado um tumor incurável. Dentre as possibilidades de primeira linha têm-se disponíveis tanto aqueles agentes hormonais de nova geração (ex: abiraterona), quanto quimioterapia com docetaxel. Ainda que abordagens interessantes, essas demonstram nos estudos clínicos uma sobrevida global de aproximadamente 3 anos que num contexto global pode ser ainda menor. A busca por melhora na sobrevida desses pacientes, resulta na atual tentativa de se associar agentes hormonais aos inibidores de PARP (iPARP) como o olaparibe, capazes de inibir a enzima PARP, crucial no processo de reparo ao DNA, induzindo, assim a célula tumoral à morte.
Essa sinergia, tendo suporte de ensaios pré-clínicos, tem sua eficácia e segurança avaliados no estudo clínico de fase III PROpel. A coorte total compreende 796 pacientes randomizados 1:1 em olaparibe (Ola; 300mg/2x ao dia) + abiraterona (Abi; 1000mg/dia ou abiraterona (Abi) + placebo (Pbo) na primeira linha de tratamento de pacientes com CPRCm que tiveram seus tumores e ctDNA avaliados para mutações como em genes de reparo de recombinação homóloga (HRRm) e BRCA.
PROpel atingiu seu desfecho primário mostrando benefício significativo de sobrevida livre de progressão radiográfica (SLPr) avaliada pelo investigador para pacientes com CPRCm tratados com Ola+Abi vs. Abi+Pbo no cenário de 1L (Mediana de 24,8 vs. 16,6 meses; HR 0,66, IC 95% 0,54–0,81, P < 0,001, corte de dados: 30/07/2021). A análise de sensibilidade por revisão central independente cega foi consistente. Até o momento, os dados atualizados de sobrevida global (SG) demonstrara benefícios para o esquema Ola+Abi vs. Abi+Pbo [40,1% maturidade; HR = 0,83; IC 95%: 0,66–1,03].
Na ASCO Genitourinary Cancers Symposium 2023 foram apresentados os dados referentes às análises finais de sobrevida global e segurança. De modo geral, confirmou-se consistência na tendência de benefício da coorte Ola+Abi vs. Abi+Pbo (maturidade 47,9%; HR = 0,81; IC 95%: 0,67–1,00, p= 0,0544), com mediana de sobrevida global de 42,1 meses vs. 34,7, respectivamente. Quando avaliados subgrupos como HRRm, não-HRRm e BRCAm e não-BRCAm as medianas de sobrevida global e hazard ratios são igualmente favoráveis ao grupo tratado com olaparibe (Tabela 1). O perfil de toxicidade se manteve constante, sem novos sinais observados; com relação às toxicidades graves (igual ou superior a G3) a mais comum foi anemia (16.1%).
Tabela 1. Dados de sobrevida global mediana por subgrupo.
Subgrupo* | SG mediana, meses Ola+Abi | SG mediana, meses Abi+Pbo | HR (IC 95%) |
HRRm (n = 226) | NR | 28.5 | 0.66 (0.45–0.95) |
não-HRRm (n = 552) | 42.1 | 38.9 | 0.89 (0.70–1.14) |
BRCAm (n = 85) | NR | 23.0 | 0.29 (0.14–0.56) |
Non-BRCAm (n = 693) | 39.6 | 38.0 | 0.91 (0.73–1.13) |
*18 pacientes com status de HRRm desconhecido foram excluídos das análises de subgrupos. NR, não alcançado |
Conclui-se, portanto, que de encontro com os resultados obtidos nas análises iniciais e interinas do estudo PROpel, a adição de olaparibe ao tratamento com abiraterona é capaz de melhorar a sobrevida global, prolongando-a mais de 7 meses comparativamente ao tratamento padrão com abiraterona. Os dados são atrelados a um perfil de segurança tolerável – benefício esse que se estende aos subgrupos avaliados, especialmente BRCAm. A mediana de SG > 42 meses obtida é a mais longa já reportada em um estudo de fase III de primeira linha para CPRCm. Esses resultados do PROpel suportam a utilização de olaparibe + abiraterona como 1ª linha em câncer de próstata metastático resistente à castração.
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