Qual a importância do Linfoma Anaplásico de Grandes Células associado a implantes de silicone? - Oncologia Brasil

Qual a importância do Linfoma Anaplásico de Grandes Células associado a implantes de silicone?

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Por Gilberto Amorim e Letícia Sermoud

O Linfoma Anaplásico de Grandes Células Associado a Implante Mamário (em inglês, BIA-ALCL) é um raro linfoma de células T associado a implante de silicone na mama, que expressa CD30 e cuja expressão de ALK está ausente. No entanto, apesar do baixíssimo risco do desenvolvimento, é necessário um maior esclarecimento sobre BIA-ALCL, visto que o número de mulheres com próteses mamárias vêm crescendo mundialmente. Na nossa publicação mais recente, em parceria com Letícia Sermoud, Sérgio Romano e Maurício Chveid e publicado em 27 de agosto no Journal of Global Oncology, relatamos um caso de BIA-ALCL após mastectomia redutora de risco e realizamos uma revisão de literatura. Só em 2016, BIA-ALCL foi incluído pela WHO na nova classificação de linfoma.

O BIA-ALCL pode apresentar-se como uma coleção fluida peri-protética (seroma) ou massa, ocorrendo cerca de 8 a 13 anos da colocação do implante. O seroma (“frio”, ou seja, sem trauma ou infecção) tardio recidivante, deve ter citologia analisada quando ocorre nessa forma tardia, i. e. após 6 meses ou mais do procedimento. O tipo de prótese parece fazer diferença, sendo que as macro texturizadas tem um risco maior do que as micro texturizadas e estas teriam um risco maior que as lisas.

Apesar do baixo risco do desenvolvimento da doença, provavelmente está sub-notificada e é de interesse dos médicos oncologistas, mastologistas, cirurgiões plásticos, agências regulatórias e do público em geral, um maior esclarecimento sobre BIA-ALCL.

De acordo com o Guideline da NCCN, o BIA-ALCL confinado à cápsula pode ser tratado apenas com intervenção cirúrgica. Aqueles com doença residual ou ressecção incompleta devem ser avaliados para tratamento radioterápico adjuvante. E os casos com acometimento linfonodal e/ou doença à distância, poliquimioterapia deve ser discutida.

Reconhecendo a importância do tema os EUA criaram o PROFILE Registry, onde todos os casos de BIA-ALCL passaram a ser registrados. Um artigo publicado em 2019, reportou um total de 186 casos de BIA-ALCL, no período entre 2012 e 2018. Outros países, como Austrália, França, Itália e Inglaterra também tornaram mandatório o registro desses casos às respectivas autoridades regulatórias.

Recentemente o tema ganhou mais atenção, inclusive da mídia não-especializada pois o FDA anunciou o recall completo das próteses de silicone da marca ALLERGAN modelo Natrelle. Entre os menos de 600 casos relatados na literatura mundial, cerca de 30 evoluíram para óbito, e entre os 13 casos de óbito onde o modelo da prótese era conhecido 12 eram do modelo da ALLERGAN. O FDA ressaltou, no entanto, que as mulheres que têm essas próteses devem apenas ser acompanhadas regularmente, uma vez que o risco de BIA-ALCL é muito baixo, não havendo necessidade de retirá-las. Saiba mais aqui.

Amorim G, Sermoud LM, Romano S, Chveid M. BREAST IMPLANT ASSOCIATED ANAPLASTIC LARGE CELL LYMPHOMA: Why Must We Learn About it?