Estudo EORTC-55994 apresenta ausência de superioridade terapêutica do regime com quimioterapia neoadjuvante e cirurgia em avaliação de longo-prazo
O carcinoma cervical, mesmo com o aumento de medidas de prevenção, segue sendo a 4ª causa de óbito por câncer na população feminina, tendo maior incidência em países de baixa renda. Para esse tumor, em contexto localmente avançado, o tratamento de escolha é a quimiorradioterapia que, no entanto, é pouco acessível nos países de menor renda. Assim, diante da benefícios de duas propostas terapêuticas, quimioterapia neoadjuvante seguida de cirurgia (NACT-S) e quimioradioterapia (CCRT), com relação à radioterapia isolada, o European Organisation for Research and Treatment of Cancer Gynecological Cancer Group, delineou o estudo EORTC-55994 para avaliar se NACT-S é uma abordagem superior à CCRT.
Foram incluídas 626 pacientes com câncer cervical estadiamento IB2-IIB randomizados 1:1 em NACT-S (n=314) e CCRT (n=312), com mediana de follow-up de 8,7 anos (95%CI: 7,8-8,6) e 31,6% de óbitos. O desfecho primário desse estudo foi a avaliação da taxa de sobrevida global (SG) em 5 anos que foi de 72% e 76% em NACT-S e CCT, respectivamente, atrelada a uma mediana de SG similar entre os braços (HR = 0,84; 95% CI: 0,64-1,12), demonstrando que ausência de superioridade da quimioterapia neoadjuvante seguida de cirurgia com relação à quimiorradioterapia.
Adicionalmente ao desfecho de interesse, cabe ressaltar as taxas de aderência ao tratamento, onde 71% dos pacientes em NACT-S e 82% em CCRT completaram o tratamento, sendo a principal razão de descontinuação, em ambos os grupos, a toxicidade (9,6% e 7,4%, respectivamente), onde as toxicidades G3 ou superior de curto-prazo ocorreram sobretudo em NACT-S (41% vs. 23%) e as de longo-prazo em CCRT (21% vs. 15%). Por fim, cabe destaque que, mesmo que não demonstre superioridade, o tratamento NACT-S também não sugere maior morbidade ou pior performance no questionário de qualidade de vida.
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