A realização de testes genéticos germinativos em pacientes com adenocarcinoma ductal pancreático (PDAC) é inaceitavelmente baixa, especialmente entre pacientes afro-americanos. A falta de testes leva à perda de oportunidades para possíveis terapias direcionadas, melhores resultados e identificação de familiares em risco que poderiam se beneficiar da vigilância
Hoje se sabe que até 10% dos casos de adenocarcinoma ductal pancreático (PDAC) são atribuíveis a mutações germinativas deletérias identificáveis, incluindo aquelas envolvidas no reparo do DNA por recombinação homóloga (genes BRCA1 e BRCA2, ATM, PALB2), reparo de DNA incompatível (MLH1, MSH2), e ciclagem celular (CDKN2A). Esses genes familiares de suscetibilidade para PDAC são tradicionalmente detectados em pacientes que foram encaminhados para aconselhamento genético e testes com base em uma história familiar de câncer pancreático ou outra malignidade. No entanto, dados recentes sugerem que mutações germinativas também podem ser encontradas em taxas substanciais em pacientes com PDAC aparentemente esporádicos, sem história familiar suspeita de câncer. A identificação dessas mutações germinativas não só tem implicações para a triagem e vigilância de parentes, mas também está sendo usada cada vez mais para orientar as decisões de tratamento para o próprio paciente. Em resposta a esses avanços, a National Comprehensive Cancer Network (NCCN) divulgou recentemente diretrizes atualizadas recomendando avaliação de risco personalizada e consideração de aconselhamento genético e teste genético germinativo em todos os indivíduos diagnosticados com PDAC.
Apesar das diretrizes recomendarem que todos os pacientes com PDAC sejam submetidos a testes genéticos germinativos (TG), as taxas de recomendação e conclusão do TG entre diversos pacientes com PDAC não são conhecidas. Em janeiro de 2023, foi publicado os resultados de um estudo no JCO Precision Oncology que teve como objetivo determinar as taxas de recomendação e conclusão do ponto de atendimento TG em diversos pacientes com PDAC. Foi realizada uma revisão retrospectiva de pacientes com PDAC atendidos em um centro acadêmico entre abril de 2019 e dezembro de 2020. Recomendação, conclusão e resultados do ponto de cuidado TG, e fatores demográficos e clínicos foram registrados. Análises univariadas e multivariadas do TG foram realizadas por meio do teste qui-quadrado e regressão logística.
No total, 579 pacientes com PDAC foram incluídos na análise. A idade mediana no momento do diagnóstico foi de 67 anos; 52% eram do sexo masculino; 63% eram pacientes brancos não hispânicos (NHW) e 20% eram pacientes afro-americanos (AA). A TG foi realizada em 216 (37%) pacientes. Dos testados, 47 (22%) tiveram uma variante patogênica/provavelmente patogênica identificada, das quais 25 (12%) estavam em genes associados a PDAC. Na análise multivariada, idade, raça NHW, história pessoal e familiar de câncer, visita médica oncológica e número de visitas foram preditores independentes de conclusão do TG. Os pacientes com AA tiveram taxas significativamente mais baixas de recomendação e conclusão do TG em comparação com pacientes NHW.
Com base nos resultados obtidos, os autores concluíram que a testagem genética germinativa no local de atendimento em pacientes com PDAC é inaceitavelmente baixa, especialmente entre pacientes afro-americanos. A disparidade de testes pode ser devida mais à falta de recomendação do provedor do que à adesão do paciente. A falta de testes leva à perda de oportunidades para possíveis terapias direcionadas, melhores resultados e identificação de familiares em risco que poderiam se beneficiar da vigilância.
Referência:
1 – DROGAN, Christine M. et al. Outcomes of Universal Point-of-Care Genetic Testing in Diverse Patients With Pancreatic Ductal Adenocarcinoma. JCO Precision Oncology, v. 7, p. e2200196, 2023.
2 – WALKER, Evan J. et al. Referral frequency, attrition rate, and outcomes of germline testing in patients with pancreatic adenocarcinoma. Familial cancer, v. 18, p. 241-251, 2019.
Alameda Campinas, 579 – Jardim Paulista, São Paulo – SP, 01404-100
CEO: Thomas Almeida
Editor científico: Paulo Cavalcanti
Redatora: Bruna Marchetti
© 2020 Oncologia Brasil
A Oncologia Brasil é uma empresa do Grupo MDHealth. Não provemos prescrições, consultas ou conselhos médicos, assim como não realizamos diagnósticos ou
tratamentos.