Estudo avalia monitoramento de doença residual mínima em carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço localmente avançado por sequenciamento de DNA circulante e revela que essa abordagem é capaz de predizer progressão da doença
Embora o tratamento do carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço (CCECP) localmente avançado tenha evoluído nos últimos anos com tratamentos multimodais, 40 a 50% dos pacientes ainda apresentam recidiva após terapia com intenção curativa. O monitoramento de doença residual mínima através da detecção de DNA tumoral circulante (ctDNA) no plasma é uma abordagem plausível e com potencial de predizer o desfecho clínico da doença; entretanto, CCECP são doenças bastante heterogêneas no espectro de mutações apresentadas, sendo que a maioria dessas ocorre em supressores tumorais, o que torna a implementação dessa abordagem desafiadora.
Em um estudo observacional prospectivo (NCT02139020) apresentado recentemente no congresso anual da da European Society for Medical Oncology – ESMO ® 2023, é descrita uma abordagem tumor agnóstica para detecção de ctDNA de CCECP localmente avançado, que pode ser utilizada para monitoramento da doença residual mínima (DRM) após tratamento com intenção curativa e, segundo os resultados, é capaz de predizer recidiva e morte nesses pacientes.
Para tal foi desenvolvido um painel para sequenciamento de nova geração (NGS) com 26 genes, incluindo os genes mais frequentemente mutados em CCECP e 2 genes de HPV-16, que foi utilizado para detectar ctDNA em 176 amostras de plasma de 53 pacientes com CCECP localmente avançado, coletadas antes e depois de tratamento com intenção curativa. A presença de DRM foi definida como a detecção de ctDNA em amostra de plasma coletada de 6 a 12 semanas após o encerramento do tratamento e o desfecho primário avaliado foi a sobrevida livre de progressão em 2 anos, com a hipótese que essa sobrevida seria maior que 80% em pacientes sem evidência de DRM e menor que 30% em pacientes com DRM.
Foi detectado ctDNA em 41/53 (77%) dos pacientes nas amostras pré tratamento, sendo os genes mais frequentemente mutados TP53 (67%) e NOTCH1 (38%). MRD foi detectada através de ctDNA pós-tratamento em 17 desses pacientes (41%). A taxa de sobrevida livre de progressão em 2 anos foi 27% entre pacientes com DRM e 87% em pacientes sem DRM (p<0,001). Já a sobrevida mediana foi de 36 meses entre pacientes positivos para DRM enquanto não foi atingida entre pacientes sem DRM (p = 0,007). Por fim, modelos de regressão de Cox demonstraram que a presença de DRM detectada por essa abordagem foi um preditor independente de recidiva (Odds ratio: 23; IC95%: 4,5 – 120,9; p<0,001) e sobrevida (Hazard ratio: 4; IC95%: 1,1 – 15,6; p=0,037).
Assim, a abordagem proposta apresenta-se como uma alternativa plausível para o acompanhamento de pacientes com CCECP avançado após o tratamento com intenção curativa na prática clínica. Essa abordagem apresenta como vantagem a necessidade apenas de amostras de plasma pré e pós-tratamento (biópsia líquida), dispensando a necessidade de sequenciamento do DNA da massa tumoral, uma amostra de difícil obtenção em casos de CCECP avançado não ressecáveis.
Referência
Natasha Honoré. 858O – Minimal residual disease (MRD) diagnosed by a plasma tumor-agnostic circulating tumor DNA (ctDNA) assay after curative therapy in locally advanced (LA) squamous cell carcinoma of the head and neck (SCCHN) predicts disease relapse and survival. ESMO 2023. Disponível em: https://cslide.ctimeetingtech.com/esmo2023/attendee/confcal/presentation/list?q=858O#presentation-abstract-52261379262347
Alameda Campinas, 579 – Jardim Paulista, São Paulo – SP, 01404-100
CEO: Thomas Almeida
Editor científico: Paulo Cavalcanti
Redatora: Bruna Marchetti
© 2020 Oncologia Brasil
A Oncologia Brasil é uma empresa do Grupo MDHealth. Não provemos prescrições, consultas ou conselhos médicos, assim como não realizamos diagnósticos ou
tratamentos.