Tratamento do Câncer de Mama Inicial Com Mutações gBRCAm: Preferências do Paciente, Recomendações Clínicas e Realidades do Mundo Real - Oncologia Brasil

Tratamento do Câncer de Mama Inicial Com Mutações gBRCAm: Preferências do Paciente, Recomendações Clínicas e Realidades do Mundo Real

4 min. de leitura

Neste vídeo, o Dr. Cesar Cabello, Mastologista, Professor de Medicina Associado Livre Docente, Professor Pleno do Programa de Pós-Graduação em Tocoginecologia da FCM-UNICAMP e Coordenador da Área de Mastologia do Hospital da Mulher – CAISM, comenta sobre estudos apresentados no SABCS 2023® que demonstram a importância e impactos dos testes genéticos no direcionamento e efetividade dos tratamentos. Acesse e confira na íntegra! 

 

Estudos divulgados durante a SABCS 2023 abordaram a importância de considerar as perspectivas do paciente, as recomendações profissionais e evidências do mundo real ao lidar com aspectos do tratamento do câncer de mama inicial (eBC) relacionados às mutações germinativas nos genes BRCA1 e BRCA2 (gBRCAm). Está estabelecido que a presença dessas mutações implica em um risco hereditário de desenvolvimento de câncer de mama (entre outros tumores) em mulheres e, em menor grau, em homens, destacando a necessidade de decisões informadas sobre tratamento e prevenção. Além disso, o conhecimento da presença de uma mutação gBRCAm em pacientes com câncer de mama inicial possibilita um aconselhamento genético, adicionando fatores importantes para a tomada de decisão sobre o tratamento, como cirurgia profilática em alguns casos, e o uso de tratamentos específicos, como o uso do olaparibe, que é aprovado para o tratamento de câncer de mama em estágio inicial em pacientes com alto risco e gBRCAm. 

Um dos estudos apresentados concentrou-se nas percepções e experiências de pacientes e profissionais de saúde em relação aos testes genéticos e às decisões de tratamento para o câncer de mama inicial. Entre 2017 e 2021, foram conduzidas entrevistas com 12 mulheres diagnosticadas com eBC, 12 oncologistas comunitários e acadêmicos, e 8 conselheiros genéticos. O estudo evidenciou que mais de 50% das pacientes testadas para BRCA foram influenciadas por recomendações de profissionais de saúde, buscando um maior entendimento para fundamentar suas decisões de tratamento. Os profissionais de saúde sublinharam o desejo das pacientes pelo teste por valorizar liderar as decisões pelo próprio tratamento, especialmente ao considerar cirurgias profiláticas adicionais para pacientes com mutações BRCA. Além disso, os profissionais de saúde destacam que para alcançar objetivos de normalidade e remissão, o empoderamento do paciente por meio de informações é extremamente importante. Em relação às decisões de tratamento, as pacientes expressaram disposição para enfrentar terapias com maiores efeitos colaterais, desde que mais eficazes e que não contribuíssem para um aumento de hospitalização, permitindo uma qualidade de vida durante o tratamento. A recusa ao teste foi associada ao medo de impactos na cobertura de seguro e na saúde mental, enquanto o custo do teste teve uma influência menor do que se imaginava. Em câncer de mama HR+, oncologistas ofereceram olaparibe adjuvante para a maioria das pacientes com gBRCAm, considerando-o bem tolerado. Já em câncer de mama triplo negativo, o regime neoadjuvante pembrolizumabe foi preferido antes do olaparibe adjuvante para pacientes com gBRCAm. 

O estudo OlympiA complementou essa pesquisa, realizando uma análise de padrões reais de tratamento e resultados clínicos com base em prontuários de 298 pacientes entre 2012 e 2018, com câncer de mama inicial HER2-negativo (estágio I-III). A análise considerou 124 pacientes com mutação gBRCAm e 174 sem a mutação (gBRCAwt) que iniciaram terapia sistêmica neoadjuvante ou adjuvante com quimioterapia e/ou terapia endócrina. O estudo relata que uma proporção maior de pacientes gBRCAm recebeu terapia neoadjuvante, enquanto a maior parte dos pacientes gBRCAwt receberam terapia adjuvante. Aos 60 meses, a sobrevida livre de doença invasiva (85,5% e 90,9%), a sobrevida livre de doença à distância (88,1% e 92,2%) e a sobrevida global (91,9% e 95,2%) foi numericamente menor em pacientes gBRCAm do que em pacientes gBRCAwt, mas as diferenças não foram estatisticamente significativas. Já os riscos de doença invasiva, doença à distância e morte foram semelhantes entre gBRCAm e gBRCAwt. Os autores sugerem a necessidade de estudos adicionais com acompanhamento mais longo. Deve-se considerar também que os resultados analisados se referem a tratamentos realizados antes da aprovação do uso do olaparibe para o tratamento de eBC. 

Ambos os estudos apresentados na SABCS 2023® fornecem uma visão abrangente sobre a influência das mutações gBRCAm nas decisões de teste e tratamento para o câncer de mama inicial. O primeiro destaca a importância de se considerar as preferências dos pacientes e a orientação dos profissionais de saúde, ressaltando o papel crucial do empoderamento do paciente por meio de informações detalhadas. Por outro lado, o estudo OlympiA enriquece essa perspectiva ao oferecer dados observacionais do mundo real sobre padrões de tratamento e resultados clínicos. O cenário apresentado por esses estudos também ressalta a evolução contínua na compreensão e abordagem do câncer de mama inicial, particularmente em casos envolvendo mutações gBRCAm.  

 

 

Referências

PO3-16-06 – Perceptions and experiences of patients and healthcare providers on genetic testing and treatment of early breast cancer: qualitative findings. 

PO2-17-06 – Real world treatment patterns and clinical outcomes by germline BRCA (gBRCA) mutation status in patients with HER2-negative early breast cancer in the US community oncology setting: a retrospective observational chart-review study. 

 

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