Recente revisão mostrou que há uma falta de informações sobre a prevalência de indivíduos transgêneros submetidos a terapia hormonal de afirmação de gênero (GAHT) e cirurgia de reafirmação de gênero. Embora se acredite que o câncer de próstata ocorra em menor proporção entre as mulheres transgênero, relatos de casos mostram que as que desenvolvem CaP podem ter uma doença mais agressiva
O periódico European Urology trouxe no mês de novembro os resultados de uma revisão narrativa não sistemática da literatura médica sobre incidência de câncer de próstata(CaP) e triagem de antígeno especifico da próstata (PSA) em pacientes mulheres transgênero (MT). Esse aspecto da saúde das mulheres transgêneros é pouco difundido e analisado, e com o aumento de pessoas que se identifica abertamente como transgênero, torna cada dia mais importante essa discussão. A estimativa atual é que 0,4-1,3% da população mundial é transgênero. É provável que mais indivíduos se identifiquem abertamente como transgêneros à medida que avanços são feitos na abordagem da discriminação que afeta esse grupo. Infelizmente, os indivíduos transgêneros historicamente enfrentaram uma tremenda marginalização e discriminação, e apenas recentemente houve consciência das disparidades de saúde que enfrentam.
Os autores nesse trabalho reforçam a importância de reconhecer e aumentar o conhecimento da comunidade médica acerca da saúde e as necessidades médicas únicas de indivíduos transgêneros. A urologia tem um papel especial quando falamos de mulheres transgêneros, pois mesmo após a cirurgia de afirmação de gênero, as MT mantêm sua próstata e, como tal, devem ser orientadas a sempre realizarem a triagem de CaP e TSA como uma parte importante da manutenção de rotina dos cuidados de saúde. As evidências do estudo foram coletadas através de uma revisão bibliográfica do PubMed para todas pesquisas publicadas até julho de 2022. Os termos usados incluíram “transgênero” e cada um dos seguintes: “câncer de próstata”, “rastreamento de câncer de próstata”, “antígeno específico da próstata” e “PSA”. Após as triagens, 27 publicações foram consideradas aplicáveis, incluindo relatos de casos de CaP em MT (n= 10), estudos de coorte (n = 8) e declarações de diretrizes de organizações líderes da comunidade LGBT (n = 9).
As evidências encontradas pelos autores destacaram a falta de informações sobre a prevalência de indivíduos transgêneros submetidos a terapia hormonal de afirmação de gênero (GAHT) e cirurgia de reafirmação de gênero. Ainda não está claro se o CaP é subdiagnosticado na população transgênero ou se é realmente um fenômeno raro. Embora se acredite que o CaP ocorra em menor proporção entre as MT, relatos de casos mostram que as MT que desenvolvem CaP podem ter uma doença mais agressiva, sugerindo que esses cânceres podem estar presentes antes do GAHT ou podem ser resistentes à castração.
Os dados obtidos levaram os autores a destacarem que é necessário um trabalho significativo para entender melhor a triagem de PSA e os resultados de CaP em MT. Com base na literatura existente, atualmente não existe uma orientação clínica específica sobre triagem ou interpretação de PSA em MT no GAHT. Caminhos importantes para pesquisas futuras incluem a compreensão dos riscos/benefícios da triagem de PSA em MT, a melhor forma de mitigar os potenciais efeitos psicológicos negativos da triagem de PSA em MT, estabelecer valores basais de PSA para aqueles em GAHT (e determinar quais valores devem ser considerados “elevados”), estabelecer quando iniciar a triagem de PSA para aqueles em GAHT e estabelecer a precisão dos biomarcadores para aqueles em GAHT.
Referência:
1 – NIK-AHD, Farnoosh et al. Prostate-Specific Antigen Screening in Transgender Patients. European Urology, 2022.
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Editor científico: Paulo Cavalcanti
Redatora: Bruna Marchetti
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