Um ensaio randomizado, controlado e multicêntrico de imiquimode versus radioterapia para Lentigo maligno

Até o presente momento, não havia dados de ensaios clínicos que fornecessem evidências da recomendação de imiquimode tópico ou radioterapia como estratégias de tratamentos não cirúrgicos alternativos para pacientes com Lentigo maligno.  

Lentigo maligno é uma forma in situ de melanoma que ocorre principalmente em pele exposta ao sol. Para os pacientes com Lentigo maligno que não são elegíveis para cirurgia devido à localização, tamanho, preferência do paciente ou comorbidades, o imiquimode tópico ou a radioterapia são tratamentos não cirúrgicos alternativos. No entanto, não há dados de ensaios clínicos randomizados prospectivos que formem a base de qualquer recomendação para o manejo do Lentigo maligno. No presente estudo clínico randomizado de fase 3, multicêntrico e internacional, os pesquisadores avaliaram a eficácia e segurança do imiquimode em comparação com a radioterapia para pacientes com Lentigo maligno, seguindo a hipótese principal de que o tratamento do Lentigo maligno com imiquimode tópico resultaria em menos falhas de tratamento do que a radioterapia. 

Foram incluídos pacientes com idade acima de 18 anos com Lentigo maligno não elegíveis à cirurgia e foram randomizados (1:1) para imiquimode ou radioterapia. A falha do tratamento dentro de 24 meses foi adotada como desfecho primário. Os desfechos secundários incluíram desenvolvimento de doença invasiva na área, efeitos colaterais e qualidade de vida relatada pelos pacientes, avaliada com questionários validados (Skindex-16 específico para pele e EQ5D-5L genérico). 

No presente estudo, foram randomizados entre agosto de 2015 e novembro de 2021, 126 pacientes em 8 centros, sendo 60 pacientes incluídos no grupo imiquimode e 58 pacientes submetidos a radioterapia na análise final. Em geral, a idade mediana foi de 72 anos e 94,9% das lesões estavam na área da cabeça e pescoço. O acompanhamento mediano foi de 27 meses (intervalo de 3-62 meses). Seis (10,5%) pacientes no grupo do imiquimode e 12 (24,0%) pacientes no grupo da radioterapia desenvolveram recorrência dentro de 24 meses (OR 2,68, IC 95%, 0,92-7,8, p=0,063). O tempo mediano para recorrência não foi alcançado em nenhum dos grupos. A falha do tratamento foi significativamente diferente no subgrupo de pacientes que tiveram acompanhamento com microscopia confocal de reflectância do Lentigo maligno (imiquimode 4/46, 8,7% radioterapia 13/52, 25,0%; OR 3,50, IC 95% 1,05-11,65, p=0,033).  

Apenas uma característica da microscopia confocal de reflectância foi associada à falha aos 24 meses e significativamente diferente entre os grupos de tratamento: a presença de células redondas atípicas na junção dermoepidérmica (6,9% de falha com imiquimode e 27% de falha com radioterapia: p=0,035). Não houve diferenças entre os grupos nos sintomas cutâneos relatados pelos pacientes (coceira, queimação/ardor, dor, irritação), impactos emocionais e funcionais específicos da pele na qualidade de vida, ou qualidade de vida genérica em qualquer momento. Em conclusão, os autores mostraram que tanto o imiquimode quanto a radioterapia são opções não cirúrgicas válidas, bem toleradas e eficazes para o Lentigo maligno, e que não há diferença significativa na qualidade de vida a curto ou a longo prazo entre os dois tratamentos.  

Referências: 

1. Angela M Hong, Serigne N Lo, Gerald B Fogarty, et al. A randomised, controlled, multicentre trial of imiquimode versus radiotherapy for lentigo maligna. J Clin Oncol 42, 2024 (suppl 16; abstr 9502). 10.1200/JCO.2024.42.16_suppl.9502. Disponível em: https://meetings.asco.org/abstracts-presentations/233018.  Acessado em: 31/05/2024