Neste vídeo, Dra. Lisa Ricci, médica Hematologista do Instituto de Oncologia de Sorocaba, comenta sobre dados de dois estudos que foram apresentados no ASH 2021, e tiveram como foco a primeira linha de tratamento da leucemia linfoide crônica
Foram apresentados no ASH 2021, dois estudos que avaliaram a eficácia de ibrutinibe versus quimioimunoterapia padrão com fludarabine, cyclophosphamide e rituximab (FCR) para leucemia linfoide crônica (LLC) sem tratamento prévio. O primeiro se trata de resultados do estudo clínico NCRI FLAIR, de fase 3, enquanto o segundo baseou-se nos resultados do estudo clínico ECOG-E1912 que avalia com uma metodologia multicêntrica a eficácia de ibrutinibe vs FCR em dados de vida real.
FLAIR é um estudo clínico randomizado controlado em progresso, multicêntrico, aberto e em grupo paralelo para LLC sem tratamento prévio, que requer terapia de acordo com as diretrizes do IWCLL 2008. Para pesquisa foram excluídos pacientes acima de 75 anos ou com > 20% de células com del(17p). Um total de 771 pacientes foram randomizados na razão 1:1 para 6 ciclos de FCR (fludarabina oral 24mg/ m2/ dia por 5 dias, ciclofosfamida oral 150mg/ m2/ dia por 5 dias com rituximabe IV [375 mg/ m2 no dia 1/2 do ciclo 1; 500 mg/ m2 no dia 1 dos ciclos 2-6]) a cada 28 dias ou IR (Ibrutinibe [420 mg/ dia] mais rituximabe [6 doses como para FCR]) administrado por até 6 anos com estratificação por estágio de doença, idade, sexo e centro.
Já o segundo, é um estudo retrospectivo multicêntrico de “mundo real” que utilizou dados clínico-demográficos do banco de dados do Israeli CLL Study Group para compor a coorte de FCR; da rede italiana “Campus CLL” e do banco de dados do departamento de hematologia do Sourasky Medical Center para compor a coorte de ibrutinibe. A amostra total compôs uma coorte de 235 pacientes, com maioria masculina e acompanhamento médio de 48 meses. Pacientes com del (17p) documentado ou em participação em outros ensaios clínicos foram excluídos. A fim de ajustar as duas amostras de tratamento, o acompanhamento máximo foi limitado a 48 meses.
Nos resultados do estudo FLAIR, houve uma sobrevida livre de progressão (SLP) significativamente melhor para ibrutinibe + rituximabe em pacientes LLC sem mutação IGHV (HR: 0,41; p < 0.001), mas não para aqueles com LLC e mutação IGHV até o final do acompanhamento (HR: 0.66; p = 0.179). Não houve diferença para sobrevida global (SG) entre os dois grupos randomizados (HR: 1.01; p=0.956), com um total de 29 mortes no grupo FCR e 30 no grupo IR. A justificativa, segundo os autores, seria devido à efetiva terapia alvo de segunda linha para pacientes em progressão após FCR.
Já no estudo 2, de vida real, a SLP foi maior com ibrutinibe do que com FCR, com uma taxa em 3 anos de 89.7% vs 65.8% (HR=3.5, 95% IC [1.8-6.9], p<0.001). Nas análises de subgrupo, o benefício em SLP para ibrutinibe vs FCR manteve-se nos subgrupos de idade > 65 anos, estágio Binet B/C e sem mutação IGHV, com p-valor < 0.05 em cada. Já na análise multivariada, somente FCR foi variável independente ligada a menor SLP (HR=5.1, 95% IC [1.8, 14.3], p=0.002). A SG também foi superior com ibrutinibe vs FCR, com uma taxa em 3 anos de 96.8% vs 87.5% (HR=3.52, 95% IC [1.04-11.92], p=0.031). Na análise IPTW, tanto SLP quanto SG foram superiores com ibrutinibe, com p < 0.05 em ambos. A melhora na SLP foi preferencialmente observada nos pacientes sem mutação de IGHV, com resultado similar ao estudo clínico ECOG-E1912.
Os resultados dos dois estudos apresentados no ASH 2021, indicam que o uso de ibrutinibe foi benéfico tanto no contexto de estudo clínico controlado quanto no de vida real, sendo a mutação IGHV um importante preditor de resposta terapêutica. Para pacientes com LLC sem tratamento prévio, o início de ibrutinibe deve ser cada vez mais presente na prática clínica.
Referências:
– “ibrutinib Plus Rituximab Is Superior to FCR in Previously Untreated CLL: Results of the Phase III NCRI FLAIR Trial”, presented on December 13 by Peter Hillmen at ASH annual meeting 2021.
– “Efficacy of Front-Line Ibrutinib Versus Fludarabine, Cyclophosphamide and Rituximab (FCR) in Patients with CLL. a Multicenter “Real-World” Study”, presented on December 12 by Yair Herishanu, MD at ASH annual meeting 2021.
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