Uso de olaparibe de manutenção como padrão de tratamento em pacientes com câncer de ovário avançado BRCA mutado - Oncologia Brasil

Uso de olaparibe de manutenção como padrão de tratamento em pacientes com câncer de ovário avançado BRCA mutado

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Análise post-hoc após 5 anos de acompanhamento do estudo SOLO1 reforçam ouso de olaparibe de manutenção como padrão de tratamento em pacientes com câncer de ovário avançado BRCA mutado, demonstrando benefícios de sobrevida para além dos 2 anos do tratamento de manutenção

Pacientes com câncer de ovário avançado recém-diagnosticado têm alto risco de recidiva (aproximadamente 70% das mulheres terão recidiva nos primeiros 3 anos) e a sobrevida em 5 anos é de 30 a 50%. Quando a recaída ocorre, o câncer de ovário avançado é tipicamente incurável e, portanto, há uma grande necessidade não atendida de regimes de tratamento ainda na primeira linha que possam atrasar a recorrência tumoral, prolongar a sobrevida e tornar a expectativa de vida dessas mulheres próxima à da população geral ajustada por idade. 

Nesse contexto, foi publicado em outubro de 2021 uma análise post-hoc da sobrevida livre de progressão após 5 anos de acompanhamento do SOLO1 (NCT01844986), um estudo de fase 3, randomizado, multicêntrico, duplo-cego e controlado por placebo, que recrutou mulheres com câncer de ovário endometrioide ou seroso de alto grau (incluindo câncer de trompa de Falópio ou primário peritoneal), avançado e recém-diagnosticado, com variantes patogênicas no gene BRCA (germinativas ou somáticas), que apresentaram resposta clínica completa ou parcial após quimioterapia à base de platina. 

As pacientes foram designadas aleatoriamente na proporção 2:1 para receber olaparibe (inibidor de PARP) 300 mg duas vezes ao dia, ou placebo, por via oral como monoterapia de manutenção por até 2 anos. O desfecho primário foi a sobrevida livre de progressão avaliada pelo investigador. O corte de dados para esta análise post-hoc foi em 5 de março de 2020. 

Entre 3 de setembro de 2013 e 6 de março de 2015, 260 pacientes foram aleatoriamente designadas para olaparibe e 131 para placebo. A duração média do tratamento foi de 24,6 meses no grupo olaparibe e 13,9 meses no placebo. Nesta análise post-hoc, a sobrevida livre de progressão mediana foi de 56 meses versus 13,8 meses (HR 0,33; IC 95% 0,25-0,43) e a sobrevida livre de progressão aos 5 anos foi de 48% versus 21%, respectivamente. 

O risco de recorrência (novas lesões por imagem de acordo com RECISTv1.1) foi menor no grupo olaparibe em comparação ao grupo placebo (HR 0,37; IC 95% 0,27-0,52). Além disso, a sobrevida livre de recorrência aos 5 anos para as mulheres que tiveram resposta antitumoral completa à quimioterapia e que foram tratadas com olaparibe foi de 52% versus 22% com placebo.  

Houve também avaliação da superioridade de olaparibe versus placebo no subgrupo de pacientes com alto ou baixo risco. As pacientes de alto risco foram definidas como as que possuiam doença estádio IV, ou aquelas com doença estádio III, que apresentavam doença residual após a cirurgia de citorredução primária ou que foram submetidas à cirurgia de intervalo. Nesse subgrupo, a sobrevida livre de progressão aos 5 anos foi de 42% versus 17% para olaparibe em comparação a placebo, respectivamente. Para as pacientes de baixo risco, ou seja, àquelas com doença estádio III que não apresentavam doença residual após a cirurgia de citorredução primária, a sobrevida livre de progressão aos 5 anos foi de 56% versus 25%, respectivamente. 

Os eventos adversos de grau 3 ou 4 mais comuns foram anemia (22% versus 2%) e neutropenia (8% versus 5%);  eventos adversos graves ocorreram em 21% versus 13% nos grupos olaparibe e placebo, respectivamente. Nenhum evento adverso relacionado ao tratamento levou à morte.  Nenhum caso adicional de síndrome mielodisplásica ou leucemia mielóide aguda foi relatado desde o corte de dados, incluindo após o período de acompanhamento de segurança de 30 dias. 

Os autores concluem que, para pacientes com câncer de ovário avançado recém-diagnosticado e mutação em BRCA, o benefício da terapia de manutenção de 2 anos com olaparibe foi sustentado para além do final do tratamento, estendendo a sobrevida livre de progressão mediana para aproximadamente 4,5 anos. Os resultados apoiam o uso de olaparibe de manutenção como padrão de tratamento nesse cenário. 

 

Referências:
1. Banerjee S, et al. Maintenance olaparib for patients with newly diagnosed advanced ovarian cancer and a BRCA mutation (SOLO1/GOG 3004): 5-year follow-up of a randomised, double-blind, placebo-controlled, phase 3 trial. The Lancet Oncology. Oct 2021.