ASCO® GI 2025 modifica a terapia de primeira linha em subgrupos moleculares do câncer colorretal avançado - Oncologia Brasil

ASCO® GI 2025 modifica a terapia de primeira linha em subgrupos moleculares do câncer colorretal avançado

4 min. de leitura

Dr. Duílio Rocha – CRM-CE 8309 

Médico oncologista do Grupo Oncologia D’Or, Chefe da Unidade de Oncologia do Hospital Universitário Walter Cantídio (UFC-CE), Doutor em Oncologia pelo AC Camargo Cancer Center, membro do Comitê de TGI da SBOC 

 

A ASCO® GI 2025 trouxe avanços que modificarão as diretrizes de tratamento de primeira linha do câncer colorretal (CCR) avançado, além de outros achados com potencial impacto na prática clínica. A seguir, um resumo de alguns dos principais estudos apresentados e suas possíveis implicações.  

  

Câncer gástrico 

O estudo de fase III chinês DRAGON-01 randomizou pacientes com adenocarcinoma gástrico e metástases peritoneais, sem terapia prévia, para receber paclitaxel intravenoso e intraperitoneal + S-1 oral ou apenas a terapia sistêmica. A sobrevida mediana aumentou de 13,9 para 19,4 meses no grupo que recebeu quimioterapia intraperitoneal (HR 0,66; IC 95% 0,49-0,88; P = 0,005). O estudo sugere que a complementação com gastrectomia em doentes selecionados pode resultar em sobrevida longa. Entretanto, diversas questões sobre o emprego de quimioterapia intraperitoneal no câncer gástrico com carcinomatose peritoneal limitada permanecem em aberto.1 

 

Tumores Neuroendócrinos 

O estudo japonês de fase III STARTER-NET incluiu pacientes com TNE gastroenteropancreático graus 1 ou 2, não funcionantes, com fatores prognósticos adversos (Ki67 entre 5 e 20% ou metástases hepáticas difusas) e sem terapia sistêmica prévia. Os doentes receberam everolimo + lanreotida (EVE/LAN) ou everolimo isolado (EVE). A sobrevida livre de progressão (SLP) mediana foi superior no braço EVE/LAN (29,7 vs.11,5 meses; HR 0,38; IC 99,91% 0,15-0,96; P=0,00017). A taxa de resposta também foi maior com a combinação (23,0% vs. 8,3%; P=0,011).2 

Apesar do resultado positivo, o estudo não tem sido interpretado como modificador de conduta. Opções de tratamento inicial para pacientes com o perfil incluído no estudo incluem análogo de somatostatina isolado, lutécio radioativo e CAPTEM, a depender de características clínicas.2 

 

Câncer colorretal localizado 

O estudo ALASCCA, conduzido na Escandinávia, incluiu pacientes com CCR operado com alterações na via PI3K (3). Entre os 3508 doentes rastreados, 37% apresentavam uma alteração molecular elegível. Os pacientes receberam três anos de terapia adjuvante com aspirina 160 mg/dia ou placebo. O tempo para recorrência, desfecho primário do estudo, foi superior tanto no grupo com mutações nos éxons 9/20 de PIK3CA (HR 0,49, IC 95% 0,24-0,98), quanto no grupo com alterações de PIK3R1, PTEN ou outras mutações de PIK3CA (HR 0,42, IC 95% 0,21-0,83). Dada a baixa toxicidade e custo da aspirina, bem como seu impacto em diferentes estudos, será preciso discutir a incorporação do anti-inflamatório às diretrizes de conduta.3 

 

Câncer colorretal avançado  

O estudo de fase III CheckMate 8HW comparou três esquemas de tratamento de primeira linha em pacientes com CCR avançado com MSI-H/MMR deficiente: nivolumabe + ipilimumabe; nivolumabe isolado; e terapia a critério do investigador (4). O grupo da imunoterapia combinada demonstrou SLP mediana superior (39,3 meses vs não atingida; HR 0,62 [IC 95% 0,48-0,81]; P=0,0003), quando comparado com nivolumabe em monoterapia.  A taxa de resposta também foi maior (71% vs 58%; P=0,0011).4 

A superioridade em relação ao anti-PD-1 isolado sugere que nivolumabe + ipilimumabe é uma opção robusta frente ao pembrolizumabe em monoterapia, que é a atual terapia de escolha para pacientes MSI-H/MMR-deficiente. O benefício deve ser pesado com o maior custo e a toxicidade modestamente superior do regime combinado.4 

Já em pacientes com mutação de BRAF V600E, o estudo BREAKWATER demonstrou que o tratamento de primeira linha com FOLFOX + encorafenibe + cetuximabe aumentou a taxa de resposta (60,9% vs, 40,0%, P=0,0008) e a sobrevida global (mediana 14,6 meses vs. não atingida; HR 0,47 [IC 95% 0,31-0,69]; P=0,0000454) quando comparado com um regime padrão de quimioterapia. A associação de encorafenibe e cetuximabe à quimioterapia deve ser considerada o novo tratamento de primeira linha padrão para esse subgrupo de pacientes.5 

 

Referências 

  1. Yan C, Yang Z, Shi Z, et al. Intraperitoneal and intravenous paclitaxel plus S-1 versus intravenous paclitaxel plus S-1 in gastric cancer patients with peritoneal metastasis: Results from the multicenter, randomized, phase 3 DRAGON-01 trial. J Clin Oncol 43, 2025 (suppl 4; abstr 327).
  2. Hijioka S, Honma Y, Machida N, et al. A phase III study of combination therapy with everolimus plus lanreotide versus everolimus monotherapy for unresectable or recurrent gastroenteropancreatic neuroendocrine tumor (JCOG1901, STARTER-NET). J Clin Oncol 43, 2025 (suppl 4; abst 652). 
  3. Martling A, Lindberg J, Myrberg IH, et al. Low-dose aspirin to reduce recurrence rate in colorectal cancer patients with PI3K pathway alterations: 3-year results from a randomized placebo-controlled trial. J Clin Oncol 43, 2025 (suppl 4; abst LBA125).
  4. Andre T, Elez E, Lenz H-J, et al. First results of nivolumab (NIVO) plus ipilimumab (IPI) vs NIVO monotherapy for microsatellite instability-high/mismatch repair-deficient (MSI-H/dMMR) metastatic colorectal cancer (mCRC) from CheckMate 8HW.J Clin Oncol 43, 2025 (suppl 4; abst LBA143).
  5. Kopetz S, Yoshino T, Van Cutsem E, et al. BREAKWATER: Analysis of first-line encorafenib + cetuximab + chemotherapy in BRAF V600E-mutant metastatic colorectal cancer. J Clin Oncol 43, 2025 (suppl 4; abst 16).  

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