O Dr. Fábio Schutz, oncologista clínico da Beneficência Portuguesa de São Paulo, comenta as principais mudanças e novidades no tratamento dos tumores geniturinários em 2019. Em 2019, diversos avanços ocorreram no tratamento de tumores de próstata, bem como na abordagem de carcinomas uroteliais e do câncer de rim.
Uma nova aprovação para câncer de próstata metastático refratário à castração se deu após o inibidor de PARP olaparibe mostrar-se superior a abiraterona ou enzalutamida, para pacientes com mutações somáticas em genes de reparo por recombinação homóloga, que já haviam progredido a novos agentes antiandrogênicos, segundo dados do estudo PROfound.
Além disso, novos dados dos estudos TITAN, ENZAMET e ARCHES ratificaram o benefício de se utilizar alguns desses novos agentes hormonais, respectivamente apalutamida e enzalutamida, em pacientes com câncer de próstata metastático sensível à castração, com ganho em sobrevida global. Esses resultados solidificaram o conceito de tratamentos mais potentes em primeira linha e trouxeram mais opções de medicações para esse cenário.
Neste ano, viu-se também o advento de uma nova indicação para alguns desses agentes, com estudos como SPARTAN, ARAMIS e PROSPER, que avaliaram o papel de apalutamida, darolutamida e enzalutamida, respectivamente, mostrando benefício inequívoco da utilização dessas medicações em pacientes com câncer de próstata não-metastático resistente à castração.
O Dr. Fábio lembrou que esses estudos foram conduzidos em contextos em que não havia disponibilidade de PET com PSMA, exame que poderia aumentar significativamente a identificação de metástases nesses pacientes. Ainda assim, o claro aumento em sobrevida livre de metástases consolida o racional de tratamento precoce mais intensivo e também adiciona novas opções para esses pacientes, com a chegada ao mercado da darolutamida.
Ao longo do ano, novas informações sobre como melhor sequenciar o tratamento de pacientes com câncer de próstata metastático também foram apresentadas, e dados do estudo CARD evidenciaram benefício expressivo com o uso de cabazitaxel após progressão a abiraterona ou enzalutamida. O quimioterápico teve eficácia superior à dos agentes hormonais avaliados.
Notadamente, diversos trabalhos mudaram também o paradigma de radioterapia (RT) adjuvante para o câncer de próstata localizado. Análises dos estudos RADICALS, GETUG-AFU17 e RAVES mostraram que a eficácia de RT adjuvante é muito similar à de RT de resgate, em caso de recidiva bioquímica precoce e que, portanto, muitos pacientes poderiam ser poupados de receberem tratamento radioterápico em um primeiro momento.
Já no campo dos tumores uroteliais, as novidades surgiram principalmente com terapias-alvo e imunoterapia no tratamento da doença avançada, com dados promissores de erdafitinibe para pacientes com alterações em FGFR, logrando taxas de reposta importantes, mesmo em pacientes com múltiplos tratamentos prévios, e levando ao estudo de fase III THOR, que avaliará a utilização da medicação em pacientes com esse perfil e em linhas mais precoces. Houve também novos dados sobre o conjugado droga-anticorpo enfortumabe vedotin, também em combinação com pembrolizumabe, com boas respostas em tumores uroteliais avançados.
Além disso, dados do estudo IMvigor 130 mostraram um potencial importante para a combinação de atezolizumabe, platina e gencitabina na primeira linha de tratamento do carcinoma urotelial avançado, com ganho em sobrevida livre de progressão. Novos de uma associação similar de medicações, porém com pembrolizumabe como imunoterápico, são aguardados.
Para pacientes com câncer de rim, os destaques ficaram por conta das combinações de o inibidor de tirosina quinase axitinibe a pembrolizumabe ou avelumabe, nos estudos KEYNOTE-426 e JAVELIN Renal 101, respectivamente. Apesar de aparentarem eficácia muito similar, apenas a combinação com pembrolizumabe já demonstrou ganho em SG, enquanto novos dados do JAVELIN são aguardados para corroborar esse ganho também com avelumabe.
Por fim, destacou-se também o desenvolvimento, ainda inicial, de moléculas inibitórias do HIF2 alfa, componente importante na tumorgênese do câncer de rim. Apesar de seminais, os trabalhos envolvendo o desenvolvimento dessas novas moléculas levaram à premiação do Nobel para alguns dos pesquisadores envolvidos. Em 2019, os avanços no tratamento dos tumores geniturinários foram muitos e em áreas extremamente diversas. Não só, portanto, consolidaram-se paradigmas, mas diversas novas medicações passaram a compor o arsenal, em expansão, do oncologista.
Alameda Campinas, 579 – Jardim Paulista, São Paulo – SP, 01404-100
CEO: Thomas Almeida
Editor científico: Paulo Cavalcanti
Redatora: Bruna Marchetti
© 2020 Oncologia Brasil
A Oncologia Brasil é uma empresa do Grupo MDHealth. Não provemos prescrições, consultas ou conselhos médicos, assim como não realizamos diagnósticos ou
tratamentos.