3 min. de leituraRecentemente, um grupo francês de oncologistas e radioterapeutas, coordenado por You et al, formulou diretrizes para orientar profissionais de saúde e pacientes com câncer na prevenção da infecção grave pelo novo coronavírus (COVID-19), condição que pode levar à síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2), mantendo a possibilidade de tratamento oncológico.
Os dados foram publicados na revista The Lancet Oncology em 25 de março de 2020, tendo a supervisão do Conselho Superior de Saúde Pública da França (Haut Conseil de Santé Publique [HCSP]), a pedido do Ministério da Saúde da França.
As diretrizes foram desenvolvidas de acordo com várias linhas de evidência e considerando as seguintes observações:
- Pacientes com câncer têm maior risco de infecção por SARS-CoV-2 do que a população em geral;
- Há um risco aumentado de complicações respiratórias graves com SARS-CoV-2, exigindo maior tempo na unidade de terapia intensiva em pacientes com câncer versus pacientes sem câncer;
- Esse risco está associado à história de quimioterapia ou cirurgia no mês anterior à infecção (um fator que inclui a maioria dos pacientes com câncer);
- Pacientes com câncer desenvolvem eventos graves em um tempo mais curto do que aqueles sem câncer;
- As diretrizes destinam-se apenas a pacientes adultos com tumores sólidos e complementam as diretrizes anteriores para a população em geral.
As principais recomendações são:
- Medidas de prevenção devem ser implementadas nos centros de oncologia e de radioterapia, com o objetivo de evitar qualquer contato dos pacientes oncológicos com a COVID-19;
- A admissão de pacientes com COVID-19 nos centros de oncologia ou radioterapia deve ser evitada. Se forem admitidos nesses centros, os pacientes infectados devem ser isolados de outros pacientes com câncer e transferidos para setores especializados em COVID-19 o mais rápido possível;
- A presença de pacientes com câncer nos hospitais deve ser minimizada com base na suscetibilidade à SARS-CoV-2. Medidas que permitam o manejo de pacientes com câncer em casa devem ser incentivadas, incluindo o uso de telemedicina e telefonemas. Também se incentiva a substituição de drogas intravenosas por quimioterapia oral e terapias hormonais dentro das indicações oncológicas permitidas. Medidas que permitem a administração domiciliar de drogas antineoplásicas intravenosas e subcutâneas devem ser reforçadas. Os esquemas de quimioterapia ou radioterapia devem ser reconsiderados a fim de reduzir a frequência de internações hospitalares. Pacientes com doença metastática de evolução lenta devem discutir com seus oncologistas interrupções temporárias e/ou intervalos prolongados no tratamento;
- São propostas várias medidas para os pacientes com câncer que precisam ser internados no hospital para tratamento sistêmico ou radioterapia: os profissionais de saúde devem realizar ligações telefônicas diárias aos pacientes planejados para a admissão no centro de oncologia no dia seguinte, a fim de garantir que os pacientes não apresentem sintomas da COVID-19 antes da admissão em enfermarias de oncologia ou radioterapia. Aqueles que apresentam sintomas devem ser encaminhados para departamentos especializados em COVID-19. Os centros ambulatoriais de quimioterapia que apresentam espaço aberto devem integrar medidas de separação de pacientes, bem como o uso de máscaras pelos pacientes e pela equipe;
- Se o acesso ao tratamento hospitalar do câncer for reduzido devido à requisição de instalações para o manejo de pacientes com COVID-19 ou se a probabilidade de infecção viral e complicações com risco de vida forem consideradas muito altas, a priorização na seleção de pacientes a serem admitidos no hospital para tratamento do câncer pode ser necessária. A priorização deve levar em consideração a estratégia terapêutica com intenção curativa ou não curativa, idade do paciente, expectativa de vida, tempo desde o diagnóstico e sintomas;
- A seguinte ordem de prioridade é sugerida, porém sujeita ao critério do médico e da equipe do paciente: (1) pacientes oncológicos em regime de tratamento com intenção curativa (favorecendo os pacientes com idade ≤ 60 ou com expectativa de vida ≥ 5 anos, ou ambos); (2) pacientes oncológicos em regime de tratamento não curativo e com 60 anos ou menos, ou expectativa de vida de 5 anos ou mais, ou ambos, e na primeira linha terapêutica; e (3) outros pacientes com câncer tratados com intuito não-curativo, favorecendo aqueles cujas lesões progrediram ou cujos sintomas podem comprometer sua vida rapidamente no caso de descontinuação do tratamento. Pacientes que precisam ser hospitalizados para atendimento de suporte (por exemplo, tratamento da dor, infecção bacteriana ou cuidados paliativos antes da morte) podem ser encaminhados para departamentos não especializados em câncer, ou mesmo atendimento domiciliar.
Para saber mais sobre a publicação, acesse:
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMp030078
Liang, W, Guan, W, Chen R et al. Cancer patients in SARS-CoV-2 infection: a nationwide analysis in China. Lancet Oncol. 2020; 21: 335-337