A substituição do taxano adjuvante e do trastuzumabe pelo trastuzumabe emtasine não resultou em eficácia ou segurança geral significativamente melhor
Embora hoje a maioria dos cânceres HER2+ > 2,0 cm ou com axila clinicamente positiva sejam tratados com neoadjuvância contendo duplo bloqueio de HER2, há casos em que as pacientes já chegam operadas.
O estudo KAITLIN (NCT01966471), randomizado, de fase 3, aberto, buscou avaliar a eficácia e a toxicidade da terapia adjuvante associada à terapia anti-HER2 no tratamento do câncer de mama HER2+ de alto risco em estadio inicial, substituindo taxanos e trastuzumabe pelo T-DM1 (trastuzumabe emtasine).
Foram incluídas 1.846 pacientes que tiveram adequada excisão cirúrgica do câncer de mama HER2+ em estadio inicial com acometimento linfonodal (LN+) ou linfonodo negativo (LN-), receptor hormonal negativo e com tamanho do tumor > 2,0 cm.
Dentro de 9 semanas da cirurgia, as pacientes foram randomizadas 1:1 para 3 a 4 ciclos de quimioterapia à base de antraciclina, seguidos por 18 ciclos de T-DM1 3,6 mg/kg + pertuzumabe 420 mg a cada 3 semanas (dose inicial: 840 mg) (AC-KP) versus taxano (3 a 4 ciclos) + trastuzumabe concomitante 6 mg/kg (dose inicial: 8 mg/kg) + pertuzumabe 420 mg a cada 3 semanas (dose inicial: 840 mg) (AC-THP).
As pacientes foram estratificadas por região mundial, status nodal, status de HR (hazard ratio) e tipo de antraciclina. Radioterapia adjuvante e/ou terapia endócrina foram administradas após 4 ciclos de terapia alvo anti-HER2, quando indicado. Os desfechos co-primários foram sobrevida livre de doença invasiva (SLDi) em LN+ e nas populações por intenção de tratamento (ITT), aplicando um procedimento de teste hierárquico. Os desfechos secundários incluíram sobrevida global (SG), resultados relatados pelo paciente (RRP) e segurança.
Porém, o estudo KAITLIN foi negativo para seus desfechos primários. Nas pacientes com LN+ (n = 1658), não houve diferença significativa entre os braços para SLDi (HR estratificado = 0,97; IC 95% 0,71-1,32). A SLDi em três anos foi de 94,1% com AC-THP e 92,8% com AC-KP. Os resultados foram semelhantes na população por ITT (HR estratificado = 0,98; IC95% 0,72-1,32; SLDi em três anos: 94,2% vs 93,1%). Não foi identificado nenhum subgrupo de pacientes onde houvesse uma indicação de diferença entre os braços.
Os dados do SG são imaturos, com uma taxa de eventos adversos em torno de 4% a 5% em cada braço. Durante o estudo em geral, houve uma incidência semelhante de eventos de grau ≥3 de 55,4% vs 51,8% e mais severos em 23,3% vs 21,4% com AC-THP e AC-KP, respectivamente.
Em termos de toxicidade, 26,8% das pacientes interromperam o TDM1 antes do fim do tratamento de um ano, mas no geral não houve maiores diferenças entre os braços. Na análise de qualidade de vida, houve uma maior deterioração da QOL no braço contendo taxano (HR 0,71).
A substituição do taxano adjuvante e do trastuzumabe pelo T-DM1 não resultou em eficácia ou segurança geral significativamente melhor. A quimioterapia associada ao HP continua sendo o padrão de tratamento para pacientes com câncer de mama HER2+ de alto risco em estádio inicial.
“Na falta de diferença entre os braços, chama a atenção o excelente prognóstico destas pacientes, embora com seguimento relativamente curto ainda. No contexto do KRISTINE trial, a combinação de TDM1 e pertuzumabe foi inferior a trastuzumabe, pertuzumabe e quimioterapia na neoadjuvância. Agora, com base nestes resultados do KAITLIN trial – que não demonstram superioridade de TDM1+pertuzumabe sobre trastuzumabe pertuzumabe e taxano – podemos concluir que tanto em neoadjuvância quanto em adjuvância, a associação de trastuzumabe ao pertuzumabe permanece como padrão, até que saibamos subselecionar melhor as pacientes”, comenta Dr. Rafael Kaliks, oncologista clínico do Hospital Israelita Albert Einstein.
Saiba mais:
J Clin Oncol 38: 2020 (suppl; abstr 500). DOI:10.1200/JCO.2020.38.15_suppl.500
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