Os resultados são de um acompanhamento de 10 anos e foram publicados na revista The Lancet
A Síndrome de Lynch está associada a um risco aumentado de câncer colorretal. Ensaios controlados randomizados demonstraram um risco reduzido de adenomas em consumidores regulares de aspirinas, mas nenhum tinha como objetivo principal a prevenção do câncer colorretal. O estudo CAPP2 – conduzido por pesquisadores internacionais e publicado no The Lancet – avaliou o uso de aspirina na profilaxia primária para câncer colorretal relacionado à Síndrome de Lynch após acompanhamento planejado de 10 anos.
Trata-se de um estudo randomizado, duplo-cego, em que 861 pacientes de 43 centros internacionais em todo o mundo (707 [82%] da Europa, 112 [13%] da Australásia, 38 [4%] da África e quatro [<1%] das Américas) com Síndrome de Lynch foram aleatoriamente designados para receber 600 mg de aspirina diariamente ou placebo. Os resultados da incidência de câncer foram monitorados por pelo menos 10 anos após o recrutamento, com participantes ingleses, finlandeses e do País de Gales sendo monitorados por até 20 anos.
O objetivo primário foi o número, tamanho e estágio histológico do desenvolvimento de câncer colorretal. A análise foi por intenção de tratamento e por protocolo.
Entre janeiro de 1999 e março de 2005, 937 pacientes elegíveis com Síndrome de Lynch, com idade média de 45 anos, iniciaram o tratamento, dos quais 861 concordaram em ser aleatoriamente designados para o grupo aspirina (50%; 427) ou placebo (50%; 434). Eles foram acompanhados por uma média de 10 anos, aproximando-se de 8500 pessoas-ano.
Dos 427 participantes que receberam aspirina, 40 (9%) desenvolveram câncer colorretal, em comparação com 58 (13%) dos 434 que receberam placebo.
A análise de riscos proporcionais de Cox com intenção de tratar revelou uma taxa de risco (HR) significativamente reduzida de 0,65 (IC95% 0,43-0,97; p = 0,035) para aspirina versus placebo. A regressão binomial negativa para contabilizar múltiplos eventos primários deu uma taxa de incidência de 0,58 (0,39–0,87; p = 0,0085). As análises por protocolo restritas aos 509 que atingiram a intervenção de 2 anos apresentaram um HR de 0,66 (0,34-0,91; p = 0,019) e uma taxa de incidência de 0,50 (0,31-0,82; p = 0,0057).
Para cânceres não colorretais relacionados à Síndrome de Lynch, nenhuma análise por intenção de tratamento (HR = 0,94, IC95% 0,59-1,50; p = 0,81) nem por protocolo (HR = 0,75, 0,42-1,34; p = 0,33) mostrou qualquer efeito significativo da quimioprevenção da aspirina. Análises separadas de 10 e 20 anos são menos consistentes nas estimativas entre as análises, não havendo evidências de um efeito de prevenção de câncer no geral.
Para o câncer endometrial, o câncer mais comum da Síndrome de Lynch após o colorretal, a observação de apenas 7 casos entre mulheres em uso de aspirina em comparação a 17 utilizando placebo é sugestiva, mas não conclusiva, de um efeito protetor da aspirina (HR = 0,50; IC95% 0,22–1,11; p = 0,09).
Para todos os cânceres da Síndrome de Lynch, a análise por intenção de tratamento não mostrou efeito significativo (HR = 0,75; IC95% 0,66-1,03; p = 0,881) com resultados semelhantes para a análise da taxa de incidência. No entanto, a análise por protocolo mostrou risco reduzido entre os que tomam aspirina (HR = 0,63, 0,43–0,92; p = 0,018).
Não houve evidência significativa de qualquer efeito da aspirina no risco de câncer não Síndrome de Lynch. Nos dados disponíveis para a segunda década, houve 5 tipos de câncer no grupo da aspirina e 12 no grupo do placebo (HR = 0,66, IC 95% 0,27–1,19; p = 0,13).
A incidência de câncer colorretal começou a divergir cerca de 5 anos após o início do tratamento com aspirina e essa menor incidência de câncer foi mantida durante todo o período de observação. Esse padrão é semelhante ao observado no acompanhamento a longo prazo de participantes designados aleatoriamente para aspirina em ensaios de prevenção de doenças cardiovasculares.
Os eventos adversos durante a fase de intervenção entre os grupos aspirina e placebo foram semelhantes e nenhuma diferença significativa na adesão entre os grupos foi verificada.
O estudo CAPP2 testou o efeito de uma dose de aspirina (600 mg/dia), fornecendo evidências de que esta dose foi eficaz na prevenção de longo prazo do câncer colorretal. No entanto, ainda não foi determinada se esta é a melhor dose de aspirina tendo-se em conta a relação ao equilíbrio entre o benefício na redução do risco de câncer e o risco de sangramento gastrointestinal.
Saiba mais:
Brun, BD et al. Double Blind Randomised Placebo Controlled Trial of Cancer Prevention With Aspirin In Hereditary Colorectal Cancer (Lynch Syndrome): Planned 10 Year Follow-Up And Registry Based 20 Year Data In The CAPP2 Study. The Lancet, 2020, 13;395(10240):1855-1863.
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